quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Visão sobre educação

 

Dias atrás, comemorou-se o centenário de nascimento do educador, escritor e filósofo Paulo Freire, que se tornou conhecido mundialmente, por seu método de ensino, que tem sido alvo de muitas polêmicas, em especial, quando ele é julgado por pessoas que nem conhecem a sua obra, não sabendo precisamente a metodologia inventada por ele.

Paulo Freire desenvolveu método de alfabetização de adultos, no início dos anos 1960, tendo por base contextos e saberes de comunidades, respeitando, sobretudo, as experiências de vida próprias dos indivíduos.

O aludido modelo foi aplicado, inicialmente, em grupo de 300 trabalhadores de canaviais em Angicos, no Rio Grande do Norte, cujos registros de então indicam que a alfabetização de adultos ocorreu em tempo recorde de 45 dias.

Na verdade, há defensores e detratores ferrenhos da sua obra, que apenas fazem ideia ou até mesmo ouviram falar sobre ela, embora muitos livros da sua lavra sejam recomendados para leitura, para condicionar melhor capacidade sobre a avaliação do seu trabalho como educador, de modo a defendê-lo ou atacá-lo, conforme o caso, com a devida justiça.

Convém que, sendo pessoa de esquerda ou de direita, possa ser emitido  juízo de valor sobre a obra desse inovador da educação, não importa se  para pior ou melhor do ensino, porque isso vai muito a depender da avaliação ou da opinião justa de quem tiver algum embasamento sobre o método freiriano.

Não há a menor dúvida de que métodos de educação precisam ser tratados com muita seriedade, competência e responsabilidade, porque envolve a formação do cidadão do futuro, que, em princípio, não pode ser forjado sob padrão estratificado ou tendencioso, onde se possa ensinar ideologia cedo demais na escola, com o aproveitamento da imaturidade infantil para a doutrinação.

Isso é forma inadmissível para os padrões da normal evolução da humanidade, principalmente levando-se em a saudável revolução tecnológica, que era algo completamente inexistente nos tempos de Paulo Freire, que militou no ambiente de gravíssimo drama do analfabetismo brasileiro, que ainda é chaga que povoa milhões de pessoas, possivelmente por falta de interesse dos governantes.

É sempre importante se discutir os métodos pedagógicos de ensino, em especial nesse caso do brasileiro, que é descartado na atual gestão, em que pese a educação do Brasil seja considerada de má qualidade, com o ensino público despencando de ladeira abaixo, precisamente por falta de priorização para zelar e cuidar da educação, diante da inação que tem a marca registrada dos últimos governos, ante a banalização com que vem sendo cuidado o ensino sob os cuidados constitucionais do Estado, à vista do comodismo costumeiro de mantê-lo em eterna desatualização, em evidente distanciamento da evolução da modernidade dos métodos do conhecimento científico-tecnológico.

Segundo especialistas em educação a raiz da controvérsia em torno da pedagogia do mestre recifense não é sua aplicação em si, mas sim o uso político-partidário-ideológico que vem sendo feito dela, desde a sua origem, ou seja, historicamente e, mais do que nunca, na atualidade, que tem ficado cada vez mais clara.

Uma pedagoga definiu o método freiriano assim: "A maior vantagem de sua metodologia é a abordagem antiopressiva e não autoritária, a pedagogia dialógica e respeitosa que ele promoveu. O problema é que suas ideias têm sido usadas para fins políticos - o que, em meu entendimento, nunca foi seu propósito inicial".

O fato é que a obra do educador brasileiro se distancia em muito da unanimidade, em especial, entre os países que costumam liderar o ranking Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que mede o nível de qualidade do ensino, tendo por base a evolução alcançada na educação nos seus países, onde é sempre comum o Brasil figurar nos piores lugares entre as nações avaliadas, o que equivale com justiça ao interesse na melhoria da qualidade da educação, ou seja, absolutamente nenhum.

Cingapura foi o país que apareceu na primeira colocação, na edição 2016, da avaliação trienal realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com escolas conhecidas por adotar o método linha-dura, tendo como objetivo a padronização do ensino da melhor qualidade possível, com o foco apenas na efetividade do conhecimento educacional.

Uma das mais importantes instituições de ensino superior daquele país foi procurada para se saber se algum pesquisador comentaria a obra do brasileiro Paulo Freire, mas não apareceu ninguém interessado em comentar sobre o método dele, sob a alegação que não existia ninguém preparado para falar sobre o método dele.

A ilação que se pode extrair disso é que, no país que liderava o ranking Pisa jamais teria atingido nível de excelência no ensino fazendo uso do método freiriano, preferindo aplicar os padrões pedagógicos modernos e compatíveis com os avanços da modernidade tecnológica, como assim devem e precisam proceder os países com mentalidade inteligente para o reconhecimento de que a educação verdadeiramente de qualidade não pode se confundir com nenhum tipo de ideologia senão com a precisa e eficiente formação seus cidadãos, em termos apenas de conhecimentos pedagógicos.    

São transcritos a seguir declarações de acadêmicos que analisaram o legado de Paulo Freire, a começar por um professor de filosofia da educação da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, que aponta que “o seu mérito está no método que valoriza a consciência crítica, transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade. Paulo Freire viveu sua vida no espaço desta consciência; é por isso que inspirou e energizou pessoas no mundo inteiro, e é por isso que seu legado se prolongará muito além de qualquer horizonte que possamos enxergar agora. Freire sempre estava buscando se tornar mais humano, tornar possível que outros fossem mais humanos e, se acolhermos esta busca com tanto amor e determinação quanto ele, então uma maior medida de justiça e democracia estará ao alcance.".

Um professor da Faculdade de Educação da Universidade Cristã do Texas causou polêmica no meio acadêmico ao publicar o artigo intitulado “'É Hora de Engavetar Paulo Freire?'. Na verdade, não acho que suas ideias devam ser arquivadas. Meu texto foi pensado para atrair a atenção daqueles que acham que sempre estamos recorrendo a Freire. Pessoalmente, acho importante descobrir de novo ou pela primeira vez por que precisamos combinar uma forte paixão reflexiva 'freiriana', de respeito e amor, a pessoas carentes de justiça pessoal.".

Ele afirmou que a pedagogia baseada no diálogo é fundamental "para que a educação e a democracia prosperem, ou pelo menos sobrevivam. Não temos sido efetivamente ensinados a praticar o diálogo nas escolas, muito menos nos governos. Paulo Freire ensinou, acima de tudo, que precisamos aprender a ouvir, a entender e a respeitar uns aos outros e a trabalhar juntos nos problemas".

O referido professor concluiu com a afirmação de que "As escolas precisam de culturas e responsabilidades que se baseiem em uma ética profissional, políticas e práticas meritórias. Os métodos são necessários, mas devem ser vistos como revisáveis, porque as escolas, sociedades, trabalhos e aprendizados são dinâmicos. A padronização nas escolas muitas vezes leva a uma inércia indevida, de mesmice, de regulamentação estéril".

Uma pedagoga finlandesa afirmou que “Um método de ensino, para funcionar bem, precisa levar em conta as situações de vida dos alunos. Não acredito em pedagogia autoritária. As aulas não precisam ser autoritárias. É preciso diálogo, discussão, negociação, exploração. Construir conhecimento para que haja capacidade de expressar ideias e ouvir os outros. Eis a chave para a democracia. E a educação democrática é a única maneira de salvaguardar uma sociedade democrática".

Um professor da Universidade de Nova Jersey disse ter muito respeito pelo trabalho de Paulo Freire, em tema de sua tese de doutorado, quando apontou "sérios problemas no método", tendo dito que "A teoria da aprendizagem de Freire está subordinada a propósitos políticos e sociais. Tal teoria se abre para acusações de doutrinação e manipulação. A teoria de Freire da aprendizagem é doutrinária e manipuladora? Os sistemas educacionais do Terceiro Mundo como o principal meio que as elites opressoras usam para dominar as massas. Conhecimento e aprendizado são políticos para Freire, porque eles são o poder para aqueles que os geram, como são para aqueles que os usam".

As reais e básicas ideias de Paulo Freire são no sentido de que o ensino deve ocorrer a partir do diálogo entre professor e aluno, com vistas ao desenvolvimento da capacidade crítica e preparação dos estudantes para a emancipação social.

 No jargão do meio educacional, o método defendido por Freire tem o oposto ao da conceituação "bancária" para a educação, em que o professor "deposita" o conhecimento nas mentes dos alunos, mas, para ele, a educação se constrói em conjunto, dando a entender que não há necessidade de seguir a padronização básica do ensino normal e curricular, quando o diálogo seria suficiente para o aprendizado.

Ao que se sabe, o método em tela chegou a ser adotado pelo governo de João Goulart, de índole comunista, na tentativa da disseminação de esforços para a alfabetização de adultos, tendo ele sido abortado e enterrado, em definitivo, a partir do regime militar.

Isso, por si só, mostra que realmente o método freiriano tem viés socialista, porque somente o foi adotado por governo comunista, que também teve vida curta no Brasil, uma vez que a democracia é o melhor regime que possibilita o usufruto das plenas liberdades, inclusive quanto aos métodos de ensino, que devem se amoldar exclusivamente às práticas da educação de qualidade, em acompanhamento da evolução da ciência e da tecnologia, sem qualquer vinculação com ideologia política.

O professor Paulo Freire foi reconhecido, em 2012, em pleno governo socialista, como o Patrono da Educação Brasileira, sendo um dos brasileiros mais vezes laureados com títulos de doutor honoris causa pelo mundo, embora nem mesmo, nem mesmo na referida gestão, houve tentativa de se implantar, na educação brasileira, o questionável método freiriano.  

Há notícia de que uma escola em Massachusetts, dos Estados Unidos da América, usa o método do brasileiro e foi avaliada, em 2014, tendo obtido o título de melhor instituição pública de Ensino Médio daquele país.

O certo é que a obra desse educador até pode ser controversa, como realmente tem sido, desde a sua concepção, principalmente em termos prático-pedagógico, mas o seu trabalho estritamente filosófico, continua sendo considerado relevante nas discussões mundiais, notadamente em forma de teses pedagógicas, mas com pouquíssimo aproveitamento na realidade de sala de aula.

Isso demonstra, na prática, muito pouca valia como contribuição para o ensino, ou seja, trata-se de projeto que, em princípio, tem o rótulo de aparente boniteza e somente fica nisso, porque ele quase não tem aproveitamento diante da sua real vocação por que com o viés socialista de ser, em forma da chamada democracia da igualdade social, não resultando senão somente para a disseminação de maior diálogo em nível social, em menor contribuição para a efetividade do conhecimento, em termos pretendidos pelo ensino metodológico, na sua finalística educacional dos seus valores e objetivos gerais.

Na minha concepção de ensino, a emancipação social ocorre necessariamente por meio da instrução baseada em métodos científicos e de qualidade disponibilizados para a educação, na qual até pode ser inserido o diálogo apenas como coadjuvante e ainda se for necessário, mas jamais sob o método do diálogo pretendido pelo doutrinador recifense, que seria fundamental para outros tempos em que a tecnologia educacional nem engatinhava, quanto mais no Nordeste, que também evoluiu, em termos de modernidade nos métodos de ensino, com enorme carência para evoluir em passos ainda mais largos, em busca do progresso educacional.

Com isso, ouso afirmar que a contribuição do método em discursão, com as devidas vênias, poderia ter sido de alguma valia somente no século passado, à vista dos avanços do mundo científico e tecnológico, que precisam ser acompanhados e aproveitados pelos países que igualmente precisam buscar as melhores condições de ensino para o seu povo, de modo que a evolução do conhecimento seja priorizada por meio de todos os esforços possíveis.

Em termos da modernidade da educação, o ensino brasileiro precisa e exige de urgente reestruturação, em todos os níveis, de modo que sejam implantados os melhores métodos existentes no mundo, que bem poderia ser escolhido o que vem sendo adotado pelo Japão, mediante às necessárias adequações ao contexto e às peculiaridades brasileiras, com o devido estudo que possam ser respeitadas as condições existentes em cada região, a depender do perfil dos alunos, da escola, da qualificação, da capacitação e do treinamento dos professores, tendo em conta ainda os recursos de instrução pedagógica e financeiros destinados para as unidades escolares.

Brasília, em 22 de setembro de 2021

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