segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Inadmissível desperdício?

 

A Controladoria Geral da União, tendo por base auditoria realizada no Ministério da Saúde, constatou gravíssimos exemplos de desperdício de dinheiro público, no exercício de 2020, consistente na grande quantidade de remédios e vacinas incinerados ou extraviados, entre outras irregularidades que causaram expressivos prejuízos aos cofres públicos.

Nos termos do relatório de auditoria pertinente, foram gastos R$ 21 milhões com a destruição, por exemplo, de mais de 25 toneladas de vacina Pentavalente e quase quatro toneladas de vacina Tríplice, totalizando, em dez meses, quase 30 mil toneladas de medicamentos jogados no ralo da incompetência, exatamente por descarte desses produtos, que é reflexo do superdimensionamento dos estoques, tendo por base o excesso de compras, evidentemente bem além das necessidades nacionais.  

Os auditores também verificaram que milhões de doses de vacinas perderam o prazo de validade antes de serem usadas, com destaque para vacinas contra a febre amarela e hepatite e, em especial, medicamentos de alto custo.

O relatório aponta que, no total apurado, deixaram de ser aproveitados 750 lotes de medicamentos e o mais grave é que havia relação de remédios vencidos, pasmem, desde julho de 2009, cuja soma do prejuízo ascende ao valor de R$ 172 milhões, que é algo impensável nos dias atuais, onde a tecnologia existe inclusive para ajudar ao planejamento e ao controle dos produtos.

Os auditores ainda verificaram que 66 doses de medicamento de alto custo - vendido a mais de R$ 12 mil a dose - tinham sido sumidos, de modo que eles saíram do estoque, mas não há registro do seu destino, que é totalmente conhecido, cujo descontrole causou prejuízo ao erário do valor de R$ 840 mil.

A desastrosa gestão do almoxarifado também revelou o sumiço de equipamentos decisivos no combate à Covid-19, a exemplo de respiradores, que não foram encontrados no estoque.

Os auditores se surpreenderam com a fragilidade de controle do sistema de armazenamento do Ministério da Saúde, que, em pleno século XXI, não tinha os comprovantes da entrega de quase 5 mil respiradores, fato este que obrigou aos auditores a promoverem rastreamento dos equipamentos, em estados e municípios, cujo trabalho permitiu a localização de quase todos, faltando ainda 336 respiradores, que tiveram o custo de mais de R$ 18 milhões.

Consta do relatoria da auditoria em tela que "resta evidenciado que os controles das doações efetuadas pelo Ministério da Saúde são inadequados, pois verificou-se, além da ausência de comprovantes de entrega, de guias de remessa e de termos de doação nos processos SEI, a ausência de comprovação de recebimento dos aparelhos. Existem graves inconsistências entre os registros de entrega do Ministério da Saúde e os registros de recebimento dos entes federativos".

Os auditores da CGU ainda lembram que, ao longo do ano passado, houve o acompanhamento parcial dos processos de compras do Ministério da Saúde e que “já tinha feito alertas para evitar prejuízos, mas destaca que os avisos não foram levados em conta.”.

Os fatos irregulares verificados pela auditoria realizada por órgão interno do governo atribuem maior credibilidade quanto à completa desorganização e falta de controle de bens públicos, mostrando a gravíssima deficiência da gestão em saúde pública, uma vez que a excelência do aproveitamento dos recursos púbicos, na forma do seu eficaz e efetivo gerenciamento certamente poderia ter contribuído para ajudar a salvar vidas humanas, durante a pandemia do coronavírus.

À toda evidência, a eficiência da gestão dos recursos públicos, em todas as suas formas, em especial no caso do Ministério da Saúde, tem importância fundamental no combate à pandemia, justamente por se tratar do principal órgão de coordenação das políticas de saúde pública, que deveria ser modelo de competência e eficiência no combate à maior crise sanitária da contemporaneidade.

Ao contrário disso, o principal órgão do governo, incumbido da execução das políticas de saúde pública, apenas confirma o tanto de negligência que jamais poderia ter ocorrido, onde somente a eficiência e a competência deveriam estar presentes, mas aconteceu exatamente o inverso, em que importantes insumos essenciais à vida somente mereceram descaso e despreparo no seu controle, conforme noticia o relatório elaborado pelo próprio governo.

Sem dúvida alguma, esses fatos lamentáveis jamais poderiam acontecer na atualidade, onde existe enorme suspeita sobre a negligência do governo em relação ao combate à pandemia, conquanto o desperdício de medicamentos e equipamentos, em muito pode ter sido causado por gritante falta de controle, somente ajuda a compreender o caos e as mazelas reinantes na saúde pública, de modo a se potencializar as fortes suspeitas de descaso e incompetência de gerenciamento em órgão que somente tem a obrigação de acertar e ser eficiente ao extremo, em especial quando se trata de terrível crise pandêmica.

Enfim, o relatório de auditoria em apreço ainda é elemento para análise preliminar, mas ele é de suma importância para o governo, por servir de base para as necessárias apurações, com vistas à definição de responsabilidades se elas realmente existirem e a consequente condenação dos culpados por monstruosos prejuízos causados ao patrimônio dos brasileiros.

De antemão, é preciso que seja feito o registo de muita tristeza por que o país ainda passe por situação de desmazelo como essa de gigantesco desperdício de recursos públicos, tão somente por notória falta de controle de material, o que mostra injustificável e enorme descaso com a coisa pública, que exige o devido zelo.

Os brasileiros acreditam que o governo federal, ao tomar conhecimento desses gravíssimos fatos, tenha a necessária sensibilidade para o reconhecimento das inadmissíveis e imperdoáveis irregularidades, que certamente já causaram enorme prejuízo não somente ao patrimônio dos brasileiros, mas também à vida humana, de modo que sejam adotadas, com urgência, severas e competentes medidas tanto no sentido da completa investigação dos fatos denunciados como também com vistas à adoção de medidas eficientes e efetivas de controle e fiscalização dos bens públicos gerenciados por todos os órgãos do governo.

          Brasília, em 27 de setembro de 2021

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