sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Assombro?

            Em mensagem anual ao Parlamento Britânico, a então primeira-ministra da Grã-Bretanha fez discurso enfatizando, em linha gerais, regras básicas sobre a função do gestor público responsável, que tem a obrigação de valorizar cada centavo arrecadado, como forma de respeitar verdadeira e primordial função do serviço público como provedor das necessidades básicas da sociedade, conforme o texto a seguir.

Não nos esqueçamos destas verdades fundamentais: o Estado não tem outra fonte de recursos além do dinheiro que as pessoas ganham por si próprias. Se o Estado deseja gastar mais, ele só pode fazê-lo tomando emprestado sua poupança ou te cobrando mais tributos. E não adiante pensar que alguém irá pagar. Esse alguém é você. Não existe essa coisa de dinheiro público. Existe apenas o dinheiro dos pagadores de tributos. A prosperidade não virá por investimentos mais e mais programas generosos de gastos públicos. Você não enriquece por pedir outro talão de cheques ao banco. E nenhuma nação se tornou próspera por tributar seus cidadãos além da sua capacidade de pagar. Nós temos o dever de garantir que cada centavo que arrecadamos com a tributação seja gasto com o bem e sabiamente. Pois é o nosso partido que é dedicado à boa economia doméstica. (...)  Proteger a carteira dos cidadãos, proteger os serviços públicos essas são nossas duas maiores tarefas e ambas devem ser conciliadas. Como seria prazeroso, como seria popular dizer: gaste mais nisso, gaste mais naquilo. É claro que todos nós temos causas favoritas. Eu, pelo menos, tenho, mas alguém tem que fazer as contas. Toda empresa tem de fazê-lo. Toda dona de casa tem de fazê-lo. Todo governo tem de fazê-lo e este irá fazê-lo.”.

Como se pode perceber, facilmente, aquela estadista apenas sintetizou o seu sentimento quanto à compreensão exata da destinação do serviço público, especialmente sobre a imperiosidade do bem comum, com o emprego correto dos recursos públicos em empreendimentos prioritários e necessários.     

Ser consciente apenas com o que são normal e necessário na administração pública, em especial no que se referem às receitas e às despesas, na precisa descrição feita pela então primeira-ministra da Grã-Bretanha, chega a causar perplexidade, por se referir a interesse que não tem nada de especial nem diferente da normalidade, salvo, por óbvio, quando se trata de povo conscientizado de que é normal a desonestidade, na administração pública.

Ou seja, tudo que foi explanado no discurso acima é apenas o trivial para todo administrador público, mas as suas palavras terminaram se destacando porque a essência delas é apenas observada por pouquíssimos agentes públicos, quando isso deveria ter a adesão de todos.

Na verdade, trata-se de raridade a existência de homem público com a sensibilidade em sintonia com a causa pública, no estrito sentido da necessidade da priorização dos  gastos, com a real valorização da preciosidade da satisfação do interesse da sociedade, para quem o poder público se organiza exclusivamente para essa finalidade, ao contrário do que vêm acontecendo nos países de povos medíocres, que elegem seus representantes inescrupulosos e aproveitadores, que não se envergonham do desvio da verdadeira conduta que deve primar as atividades públicas.

Enfim, todo povo tem o governo que merece, porque ele é o exato reflexo das suas cultura e personalidade, quanto aos sentimentos almejados de moralidade e dignidade, a exemplo do Brasil, cuja parte expressiva do seu povo não se envergonha de ser governada por pessoa reconhecidamente desonesta, assim considerada pela Justiça, tendo o julgado e condenado à prisão, por base robustas provas materiais coligidas, que não foram infirmadas por ele, que também não teve condições de provar a sua inocência, com relação aos fatos objeto das ações objeto das denúncias sobre a prática de irregularidades.

Nesse contexto, em que pese a comprovação dos fatos denunciados, ele ainda se julga o máximo da imaculabilidade, como se a desonestidade representasse a essência da filosofia intrínseca de ideologia que tem a propriedade de transformar a mentalidade do homem segundo o pensamento  que resulta nesse flagelo da administração pública, que condiz exatamente com a forma ideal do desvio da conduta moral, que tem aceitação de normalidade no seu seio, a exemplo do que vem sendo defendido e praticado pelo sistema predominante no país tupiniquim, evidentemente, repita-se, com o beneplácito de parte dos brasileiros, certamente com idêntica mentalidade, absurda e deformada, à luz dos princípios de civilidade e humanismo minimamente aceitáveis para o homem moderno.

Enfim, à vista do discurso de quem já foi uma das maiores estadistas mundiais, em face da sua ferrenha fidelidade aos salutares princípios da administração pública, como forma saudável e necessária à satisfação das necessidades públicas, resta o assombro diante da idolatria a político brasileiro que se tornou símbolo de atitudes contrárias à honestidade, à vista do seu envolvimento em denúncias sobre práticas de irregularidades em tramitação na Justiça, sob o prisma dos princípios da moralidade pública.

          Brasília, em 27 de janeiro de 2023

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