O principal político brasileiro,
relembrado a sua condenação à prisão, pelos crimes de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro, pela Operação Lava-Jato, que foi cumprida parcialmente, em
cárcere da Polícia Federal, em Curitiba, por 580 dias, entre julho de 2017 e
novembro de 2019, disse que muita gente não acreditava na sua volta à
Presidência da República.
Ele disse precisamente o
seguinte, in verbis: "Muita gente achou que eu jamais ia voltar,
porque o político quando rouba, ele submerge. Quando ele faz qualquer bobagem
que sai uma denúncia, ele já se esconde e fica escondido. Eu ao invés de me
esconder, fui para cima dos acusadores, porque eu tinha certeza de que os
acusadores estavam mentindo, e pude provar isso (sic).".
Na mesma oportunidade, o político
também relembrou a tentativa de acordo para ficar em prisão domiciliar, que
segundo ele, foi negada, tendo alegado o seguinte: "Eu não troco a
minha dignidade pela minha liberdade, e não coloco tornozeleira porquê não sou
pombo-correio.".
Acredita-se que nunca, em tempo
algum, na história do submundo da criminalidade, um político foi tão autêntico
em honestidade e sinceridade, ao reconhecer a sua situação de fora da lei, por
desviado o algo de forma irregular, ao afirmar, de forma categórica nesse
sentido, quando declara que “o político quando rouba, ele submerge. Quando
ele faz qualquer bobagem que sai uma denúncia, ele já se esconde e fica
escondido. Eu ao invés de me esconder, fui para cima dos acusadores,”.
Ou seja, nessa declaração o
político reconhece, em confissão espontânea, que praticou ato irregular, mas
teve a dignidade de não submergir nem se esconder de ninguém, preferindo,
bravamente, conforme confessa ter ido “para cima dos acusadores”, evidentemente
para mostrar que ele não teve vergonha de ter sido julgado e condenado à
prisão, a vista da comprovação do deprimente desvio de conduta protagonizado na
gestão pública.
Mais adiante do discurso, o
político disse que não trocava “a minha dignidade pela minha liberdade,”, ou
seja, ao tempo que ele se compara a político desonesto, quando também não se
esconde com vergonha disso, ele enaltece a sua dignidade, mesmo em reconhecida
situação de igualdade com os políticos
que fazem algo errado, conforme expressão dita por ele: “porque o político
quando rouba, ele submerge. Quando ele faz qualquer bobagem que sai uma
denúncia, ele já se esconde e fica escondido.”, dando a entender que ele
tem “dignidade” em praticar irregularidade, mas se mantém altivo, destemido e
impávido perante a sociedade.
De seu turno, não é verdade que o
político “tinha certeza que os acusadores estavam mentindo (sic),”,
porque as condenações dele à prisão tiveram por base substanciais provas
materiais juntadas aos autos, como elementos probantes do efetivo recebimento
de propinas por parte dele, que foi incapaz de reverter as acusações contra
ele, fato este que contribuiu, em termos jurídicos, para respaldar as sentenças
judiciais condenatórias à prisão dele, que foram confirmadas em duas outras
instâncias da Justiça, à unanimidade, por três desembargadores e cinco
ministros.
Nessa mesma linha de falta de
sinceridade, em clara tentativa de omitir a verdade, o político afirma que “pude
provar isso.", ou seja, ele, à toda evidência, não conseguiu
demonstrar nada sobre mentiras, uma vez que os fatos objeto das denúncias
feitas à Justiça permanecem intatos, sem que nada tenha sido retirado dos autos,
que deverão ser novamente julgados, em razão das anulações das sentenças
judiciais, sem exame de mérito das ações penais pertinentes, pelo Supremo
Tribunal Federal, que houve por bem considerar que a Justiça sediada em
Curitiba era incompetente para julgar os processos contra o político.
Em síntese, percebe-se que as
declarações do político têm parte de muita sinceridade, quando ele reconhece o
seu desvio de conduta, na vida pública, tendo a força de se manter em plena
evidência perante a sociedade, sem se esconder dela, mas foi incapaz de
reconhecer os fatos irregulares cuja autoria é atribuída a ele, conforme os
processos que ainda tramitam na Justiça.
Ademais, impressiona a expertise
política de homem público declaradamente convencido de que foi capaz de dobrar
a opinião pública que não acreditava na sua volta ao poder, porque ele entendia,
conforme disse, que “o político quando rouba, ele submerge. Quando ele faz
qualquer bobagem que sai uma denúncia, ele já se esconde e fica escondido”, mas
isso com ele foi completamente diferente, tanto que ele se vangloria de ter
dado a volta por cima, tendo conseguido retornar ao poder.
Sem dúvida alguma, os fatos da
história só confirmam o célebre adágio popular, segundo o qual o povo tem o
governo que bem merece, a exemplo do presente caso, quando ele é capaz de apoiar
homem público que reconhece seus atributos de desonestidade, mas mesmo assim
ainda é aceito como sendo o salvador da pátria, fato este que qualifica, com
nítida precisão, o nível político de um povo, que consegue enxergar predicativo
em quem reconhece, sem o menor pudor, o próprio predicativo de mau conceito, na
vida pública, que, realmente, é motivo de jactância pública, como assim é feito,
de forma explícita e pública.
É evidente que, para os
verdadeiros brasileiros, que honram a sua nacionalidade e respeitam a grandeza
do Brasil, diante dos princípios republicano e democrático, quanto à
imaculabilidade inerente à administração pública, permeia péssimo sentimento da
perda da integridade de um povo que abre mão do sagrado direito de ser
considerado cultor da moralidade e da honestidade, como norma predominante na
vida pública, diante da banalização da prevalência da desonestidade na direção
do país, conforme é assim reconhecido pelo comandante da nação.
À toda evidência, quando a principal
autoridade de uma nação reconhece seus dons naturais de falta de moralidade, na
vida pública, e que, mesmo assim, o povo ainda o aceita como seu representante
político, pode-se concluir que inexistem respeito e dignidade desse povo,
diante da sua incapacidade sobre a avaliação inerente aos verdadeiros
princípios de valorização do próprio homem.
Na verdade, as declarações em
apreço mostram que nenhuma democracia se aperfeiçoa quando a verdade sobre os
fatos político-administrativos do país é omitida da sociedade, que tem o
direito de avaliar o desempenho dos homens públicos, na qualidade de seus
legítimos representantes políticos,
diante da sua obrigação legal da prestação de contas sobre os seus atos, na
vida pública.
Brasília, em 22 de janeiro de 2023
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