Por
ocasião do término do governo do ex-capitão do Exército, o Jornal da Cidade
Online endereçou-lhe carta aberta, na forma do texto a seguir, que procura
enaltecer somente a excelência das qualidades e dos bons predicativos dele, que
diz com o direito consagrado na liberdade de expressão.
Na carta,
nota-se a preocupação em evidenciar que o ex-presidente do país se tornou modelo
de estadista para o mundo, tendo dignificado as funções presidenciais, a par de
ter sido vítima do sistema opositor ao seu governo, por meio de agressões,
calúnias e traições, mas nada disso o fez desviar do cumprimento da sua relevante
missão constitucional, segundo o pensamento constante dela.
“Nossa
nação deve a Vossa Excelência uma reverência e uma imensa gratidão. Tudo o que
o senhor nos prometeu, cumpriu! Foi um Presidente que honrou o cargo, com
honestidade e patriotismo históricos. Jamais na nossa história republicana
um governo foi tão atacado pela estrutura de poder que toma conta do Estado
brasileiro desde a Proclamação da República. Nunca vimos um massacre tão grande
de uma mídia sem compromisso com a verdade ou escrúpulos editoriais. Em nenhuma
circunstância presenciamos um ativismo judiciário ideológico tão escancarado e
atrevido, que implantou a censura e quebrou princípios constitucionais da liberdade
de expressão, da imunidade parlamentar e da independência de poderes. Os
livros vão registrar esses fatos. Enfrentou uma pandemia sob acusações de
ser um antidemocrata, mas jamais praticou qualquer ato atentatório à
Democracia, e se portou o tempo todo dentro das regras da Constituição. Foi
caluniado noite e dia! Foi – e segue sendo - traído por aliados que se
acovardaram diante das dificuldades! Foi impedido de governar! Nunca
cedeu às pressões e manteve a coerência da sua formação política e ideológica! Contudo,
apesar disso, Vossa Excelência nos entrega um país em ordem, sem nenhuma mancha
ou mácula de corrupção na sua gestão, com números que são invejados pelo mundo
todo. Prometeu e cumpriu a diminuição da estrutura do Estado brasileiro, com
redução de cargos, revogação de legislação burocrática e com eficiência na
administração pública. Baixou impostos e aumentou a arrecadação,
equilibrando as contas públicas com o PIB em crescimento. Fez a inflação
cair, e a nossa economia crescer ante um mundo em recessão e crise. Valorizou
nossa moeda frente as mais poderosas do mundo. Patrocinou a queda dos índices
de criminalidade e combateu a corrupção de forma implacável. Reformou a
previdência. Facilitou o empreendedorismo com legislação da liberdade econômica. Concluiu
obras públicas e modernizou a estrutura administrativa do Estado brasileiro. Atendeu
às famílias brasileiras carentes com o maior programa de assistência social da
nossa história através do ‘auxílio Brasi’. No âmbito internacional promoveu acordos
históricos de livre comércio e recolocou o Brasil em lugar de destaque no âmbito
da geopolítica. No campo político acordou uma Nação adormecida,
entorpecida e descrente devolvendo-nos os símbolos e valores cívicos nacionais,
com nosso hino e nossa bandeira. No campo eleitoral foi um líder que criou
dezenas de novas lideranças que hão de mudar a condução dos destinos do país. Despertou
em milhões de brasileiros um sentido de patriotismo, juntando a Nação em
manifestações cívicas públicas históricas, de forma pacífica e democrática. Enfrentou
um processo eleitoral e adversários que praticaram o jogo sujo, e que – se
efetivamente venceram – não puderam comemorar a vitória com a honra da certeza
dos seus méritos. Vossa Excelência enfrentou tudo com imensa resiliência e
paciência democrática, ante um Congresso comprometido, fraco, omisso e relapso
no cumprimento das suas obrigações. Vossa Excelência chega ao fim desse
seu primeiro governo com honra de um Estadista que luta como um leão na defesa
dos valores cristãos, da Pátria, das famílias e da Liberdade! A semente foi
lançada em terra fértil. E está viva e germinada!
Gratidão
por tudo e por tanto até aqui, Presidente! Sua luta não foi e nunca será em
vão! Quem viver, verá! Agora, cabe a nós patriotas e conservadores,
estarmos preparados para a longa batalha que se aproxima... Nós do JCO ainda
estamos de pé, mesmo censurados e sem receber pelo nosso trabalho há mais de UM
ANO.”.
Para
começo de conversa, não é verdade que “Tudo o que o senhor nos prometeu,
cumpriu!”, uma vez que muitas e importantes ações foram realmente implementadas,
mas outras tantas ficaram na promessa, a exemplo de algumas como aquelas que são indicadas a seguir.
“Acabar
com a reeleição; diminuir a quantidade de congressistas; escolha de ministros
por critério técnico (vide a aceitação do Centrão no governo); acabar com indicação
política (idem); não aumentar tributos (IOF, tarifa do INPS); zerar imposto
para quem ganhava até 5 salários mínimos; botijão de gás com o preço de R$
35,00; exoneração da folha de pagamento das empresas; redução em 20% da Dívida
Pública Federal, mas ela chega ao fim do governo em 78% do PIB; criação do 13º
para o Bolsa Família; limite de somente 15 ministérios, mas o seu governo
chegou a 23; redução gradual da carga tributária; criação de Colégio Militar em
cada capital dos estados, mas só 14 o tem; liberação da caça do javali; titularização
das terras indígenas; destinação dos recursos das privatizações para o
pagamento da divida pública; transferência da embaixada brasileira para Jerusalém;
fechamento da embaixada da Autoridade Nacional da Palestina, no Brasil;
Instituição de renda mínima; criação do Fundo Nacional da Pessoa com
Deficiência; criação da Carteira Verde Amarela; introdução de modelo de capitalização
na Previdência Social; unificação de tributos nacionais; eliminação da progressão
penal; garantia da excludente de ilicitude para policiais civis; eliminação da
audiência de custódia; redução da maioridade penal; tipificação como terrorismo
a invasão da propriedade privada; exclusão da Constituição a relativização da
propriedade privada.
Como
visto acima, muitas promessas sequer foram estudadas, quanto mais implementadas,
cujo levantamento sinaliza que somente aproximadamente 40% das promessas de
campanha foram realizadas pelo governo findo, o que é bem diferente do que é afirmado
na presente carta, de que o ex-presidente teria cumprido as metas prometidas.
Não há
registro algum de que o ex-presidente “Foi impedido
de governar”, cabendo se observar que as medidas judiciais contra
o governo eram passíveis de recurso junto ao Judiciário, o que vale dizer que
muitas das quais que não foram recorridas se conformaram com a livre aceitação do
mandatário, para depois alegar que ele era perseguido e impedido de governar, com
o intuito de se passar por vítima pelos abusos de autoridade e, por via de consequência,
ganhar apoio de seguidores.
A carta fala
em “ativismo judiciário ideológico tão escancarado e atrevido, que implantou
a censura e quebrou princípios constitucionais da liberdade de expressão, da
imunidade parlamentar e da independência de poderes.”, o que é verdade, mas
precisava que esse abusivo ativismo fosse combatido à altura, por meio de
medidas judiciais pertinentes, em cada caso, respeitadas as competências das
instâncias, algo que nem sempre foi respeitado, à risca, evidentemente por aceitação
do Executivo.
É
imensamente importante que também sejam mostradas outras verdades, mesmo que
elas destoam dos elogios constantes da carta em apreço, além daquelas que
somente evidenciam as bonanças, em forma de bondades atribuídas ao ex-presidente,
como forma de se mostrar para os brasileiros outras verdades sobre o governo findo,
que, de certo modo, quem quiser idolatrá-lo, o faz com base nos fatos que
revelam também o lado aproveitador dele, quanto ao usufruto dos privilégios do
poder, na forma descrita nos exemplos a seguir.
À
toda evidência, convém salientar que o ex-presidente do país não foi somente o
homem público revestido da correção moral descrita na carta em apreço, não
tendo direito de se falar em imaculabilidade no governo, quando alguns atos
dissentiram da normalidade republicana e isso precisa também vir à tona, como o
império da verdade.
Não
se pode classificar como político ético aquele que se elegeu empunhando a
bandeira da moralidade, em defesa dos princípios republicanos, quando as suas
principais promessas de governo eram, basicamente, a consolidação da Operação
Lava-Jato, diante do excelente trabalho que ela vinha executando, que era
admirado por ele, por ser realmente motivo de muito orgulho do Brasil, quando
foram desvendados vários esquemas criminosos, envolvendo quadrilhas que
desviaram recursos dos contribuintes, e, pasmem, o distanciamento da velha
política
A
velha política foi designada pelo ex-presidente do país, que se identificava,
pasmem, com o abominável Centrão, que se tornou símbolo e modelo consagrados do
deplorável fisiologismo na administração pública, por ele ter participado dos
últimos governos corruptos e desonestos, mas nunca perdeu a fleuma da sua
degenerante fama perante a administração pública.
Pois
bem, a competente e a diligente Operação Lava-Jato foi extinta na vigência do governo
findo, que operou pela continuidade do procurador-geral da República, que
cuidou de providenciar o encerramento dela, evidentemente com a implícita
concordância do Palácio do Planalto, que não moveu uma palha contra a extinção
dela.
Por
seu turno, o deplorável Centrão foi colocado no colo do governo quando o então presidente
do país se sentiu ameaçado de impeachment pelo Congresso Nacional e, imediatamente,
ele foi acometido de brutal e irremediável amnésia, tendo se esquecido das
juras e dos sentimentos de ódio à velha política praticada pelo Centrão.
A
partir de então, o ex-presidente do país, além de entregar vários chaves ao
Centrão, para abrirem as portas do governo, deu-lhe a principal chave do
Tesouro Nacional.
A
partir disso, o nefasto Centrão passou a controlar, pasmem, o Orçamento da
União e, ainda de quebra, ele conseguiu criar o recriminável “orçamento secreto”,
justamente para sacramentar o seu principal propósito fisiológico, que é a compra
da consciência dos parlamentares para a apoiamento dos projetos do governo, no
Congresso, cujo procedimento é algo próprio de políticos sujos e inescrupulosos
a que se refere exatamente a ojeriza à velha política, ideia essa que foi abandonada
pelo ex-presidente, por absoluta conveniência política.
Agora,
para enfeitar a cereja do bolo da pouca-vergonha política, o ex-presidente do
país se filiou ao partido que é o principal integrante do Centrão, além se comandado
por famoso corrupto do mensalão, ou seja, para quem abominava a velha política,
o ex-presidente brasileiro passou a ser um de seus principais líderes, sem
nenhum escrúpulo nem vergonha na cara.
Tudo
isso é fato que conspira contra os salutares princípios da ética e da
moralidade e ainda mostra, literalmente, que o ex-presidente do país poderia
ser tudo, menos ficha limpa, estando muito mais para hábil enganador de pessoas
de boa vontade, que se orgulha de ser grupo seleto, que ainda o idolatra, naturalmente
por questão de ideologia.
Por
questão de sinceridade, é preciso se reconhecer que o ex-presidente da
República tem o mérito de ter sido o principal líder político capaz de fazer
páreo à esquerda, mas ele demonstrou, pelo menos sob a ótica da Justiça
eleitoral, extrema inabilidade na disputa eleitoral, por perder logo para político
em plena decadência moral, pelo menos é assim o entendimento da maioria dos
eleitores, repita-se, à luz das urnas divulgadas, a despeito de
irregularidades na operacionalização da votação, conforme denúncias que correm
nas redes sociais.
Conforme
se pode notar, a carta em apreço foi bastante criteriosa em pôr em destaque
somente qualidades e atributos que permitem se avaliar que o ex-presidente do
país foi o administrador mais perfeito que já passou pelo Palácio do Planalto, sem
ter apontado qualquer defeito capaz de macular a sua gestão nem a sua reputação,
embora muitos fatos conspiram contra essa assertiva, que têm por propósito ajudar
na avaliação real sobre o governo dele, que merece elogios, por bons resultados
em benefícios dos brasileiros, que também têm direito de reconhecer algumas
falhas deixadas no caminho dele.
Sem
dúvidas, a presente carta merece ser respeitada, diante da sua intenção de
mostrar as qualidades positivas do ex-presidente, mas ela poderia ter sido mais
autêntica se tivesse revelado também as deficiências do governo, considerando
que a avaliação sobre a gestão dele exige a apresentação de toda verdade, que não
poderia ter sido escondida do seu texto.
Enfim, é
importante que os fatos venham à tona, não somente para se mostrar as
qualidades do ex-presidente do país, mas também as suas deficiências, justamente
para se possibilitar avaliação justa do seu governo e ainda se evitar o
indevido endeusamento, que tem sido bastante prejudicial aos interesses do
Brasil e dos brasileiros.
Brasília, em 8 de janeiro de 2023
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