domingo, 11 de fevereiro de 2024

Acolhimento do bem ou do mal?

 

Um ultraconservador religioso da Igreja Católico acusou o papa de ser “servo de Satanás”, por ele ser favorável ao acolhimento de casais homoafetivos.  

Por meio de vídeo, o religioso, que foi núncio apostólico nos Estados Unidos da América, que também é notório desafeto e crítico do pontífice, discordou das recentes orientações feitas pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, tendo dito que “o demônio, quando quer nos persuadir a pecar, enfatiza o suposto bem da ação malvada, colocando na sombra os aspectos contrários aos mandamentos de Deus. Ele não diz: ‘Peque e ofenda o senhor que morreu por você na cruz’. Ele sabe que uma pessoa normal não quer o mal em si, mas comete o mal na aparência do bem”.

Depois dessa afirmação, o religioso cita a existência de “falsos pastores e servos de Satanás, a começar do usurpador que está sentado no trono de Pedro”.   

O ataque do religioso, que também se notabilizou por ter sido forte negacionista da pandemia de Covid-19, se posiciona contrário à orientação do Vaticano, no sentido de autorizar a bênção a casais homoafetivos, desde que essa prática não carregue aspectos ritualísticos nem seja confundida com o sacramento do matrimônio.   

Para justificar a sua mudança de compreensão para com os casais homoafetivos, a Santa Sé esclarece que a igreja não pode fechar as portas para aqueles que a procuram para “abrir a própria vida a Deus”.

Não obstante, segundo o religioso dissidente, essa orientação se caracteriza como verdadeira “falsa solicitude pastoral para adúlteros e sodomitas”.   

Além de se rebelar contra a orientação em apreço, o religioso acusou o santo papa de “tornar a Igreja Católica a concubina de uma suposta nova ordem mundial”.   

Na verdade, o religioso é declarado desafeto do papa e, durante seu período nos Estados Unidos, ele se aproximou do clero ultraconservador americano, que representa hoje a principal força de oposição ao papa, dentro da Igreja Católica.   

Em 2018, o religioso chegou a acusar o papa, no início do pontificado dele, de ter se calado sobre denúncias de abusos sexuais cometidos por um ex-cardeal norte-americano, que veio a ser expulso do clero anos depois.   

O religioso é apelidado, na Itália, de “exterminador de papas”, ante a experiência dele com o trabalho de mais de 10 anos na Cúria Romana, mas ele foi afastado da secretaria do Governatorado da Cidade do Vaticano, em 2011, após disseminar desavenças no seio da Igreja Católica.

Enfim, o religioso se tornou notório por ter sido um dos pivôs do escândalo “Vatileaks”, à vista do vazamento de importantes documentos sigilosos, que contribuíram para a renúncia do papa anterior ao atual, segundo notícia da ANSA.

Em resumo, a atitude do religioso dissidente do papa marca a firme presença da ala conservadora da Igreja Católica, que não aceita uma visão mais humanitária e progressista defendida pelo papa, que tem sido mais favorável à modernização das doutrinas da instituição milenar, trazendo no seu bojo pensamentos arraigados em doutrinação que precisa ser aperfeiçoada, para o próprio bem dela.

É evidente que a tentativa de mudanças sempre arrasta uma séria de conceitos que suscitam discordância, principalmente no âmbito da instituição bastante afeita ao arraigado conservadorismo, como demonstrado pelo religioso, que apela para a conceituação de práticas demoníacas as medidas adotadas pelo Vaticano.

Não há a menor dúvida de que o religioso tem todo direito de se manifestar e se rebelar, segundo o pensamento ideológico defendido por ele sobre o posicionamento em todos os casos em que a Igreja Católica deva orientar à sua maneira de desempenho da sua missão pastoral e eclesiástica.

Nesse caso, o papa precisa ponderar e avaliar o que é o melhor para a instituição Igreja Católica, uma vez que o assunto homofóbico se tratar de estrita delicadeza perante os padrões e os conceitos da instituição, que precisa ser tratado também sob a avaliação da ala mais conservadora da igreja comandada por ele, uma vez que não convém a prevalência de ideias antagônicas, considerando que isso tem o condão de evidenciar nítida divisão extremamente prejudicial aos destinos da Casa de Deus.    

Brasília, em 11 de fevereiro de 2023

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