quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Insensatez

 

Ao contrário de medidas voltadas para o arrefecimento da crise gerada entre os governos de Israel e do Brasil, a escalada do desentendimento só aumenta, quando o país do Oriente Médio voltou a cobrar pedido de desculpas por parte do presidente brasileiro, que comparou as ações no conflito em Gaza com o Holocausto, que foi a pior forma de extermínio de judeus, na Segunda Guerra Mundial.

O ministro das Relações Exteriores israelense classificou a comparação feita pelo mandatário tupiniquim de "promíscua e delirante", tendo reafirmado que ele "continuará sendo persona non grata em Israel", até que se desculpe.

O ministro israelense disse que o "Presidente do Brasil @LulaOficial, milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler? É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez? Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel".

O ministro defendeu a ação em Gaza, tendo afirmado que "Israel embarcou numa guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente. Não importava para eles se eram idosos, bebês, deficientes. Eles assassinaram uma garota em uma cadeira de rodas. Eles sequestraram bebês. Se não tivéssemos um exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares".

O ministro conclui o discurso, dizendo: “Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então - continuará sendo persona non grata em Israel!"

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo brasileiro respondeu às aludidas declarações, tendo dito que o chanceler de Israel “espalha informação falsa sobre declarações de Lula.”, uma vez que o presidente brasileiro “não fez críticas ao povo judeu, tampouco negou o Holocausto".

Segundo uma colunista, o presidente brasileiro não pedirá desculpas e voltará a reprovar, publicamente, a ação de Israel, na Faixa de Gaza.

Há informações oficiais de que mais de 24 mil pessoas já morreram no conflito entre Israel e Hamas, iniciado em outubro de 2023, após o grupo terrorista ter invadido o território israelense e praticado uma série de barbaridades.

Ressalte-se a expressão “persona non grata” significa que alguém não é bem-vindo e serve para traduzir, em termos jurídicos, nas relações internacionais, que o representante oficial estrangeiro não é mais bem-vindo onde ela foi declarada, cujo texto consta do artigo 9º da Convenção de Viena, que versa sobre as relações diplomáticas.

O presidente brasileiro classificou como "genocídio" e "chacina" a resposta de Israel, na Faixa de Gaza, aos ataques terroristas promovidos pelo Hamas no início de outubro de 2023, tendo declarado o seguinte: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus".

O premiê israelense declarou que a afirmação banaliza o Holocausto – genocídio promovido na Segunda Guerra Mundial contra cerca de seis milhões de judeus, tendo afirmado: "Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é ultrapassar uma linha vermelha. Israel luta por sua defesa e garantia do seu futuro até a vitória completa".

Diante das celeumas criadas com as declarações do presidente brasileiro sobre o desempenho de Israel, na guerra de Gaza, o chanceler brasileiro saiu em defesa do seu chefe, em condenação às afirmações do governo Israelense, tendo declarado que "Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado, de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante. Uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso à linguagem chula e irresponsável. Em mais de 50 anos de carreira, nunca vi algo assim. Katz distorce posições do Brasil para tentar tirar proveito em política doméstica".

Essa declaração do chanceler brasileiro reflete a exata incoerência do governo brasileiro, que se acha no direito de agredir a integridade da dignidade de Israel de se defender de agressões e abusos pelo grupo terrorista Hamas, mas estranha e refuta o direito sagrado de resposta sobre o atrevimento do presidente brasileiro, como se ele estivesse acima do bem e do mal, tendo o direito de esculhambar a autonomia e a independência de país amigo.

Antes de achar vergonhosa a diplomacia israelense, o chanceler brasileira precisava criticar o presidente brasileiro, porque foi ele que primeiro fez declaração indevida e inaceitável sobre o desempenho de país amigo, quando ele, em respeito à salutar diplomacia internacional, tem o dever de silenciar sobre as decisões adotadas por outras nações, em consonância com os princípios de civilidade que se impõem entre os países desenvolvidos e antenados com a necessidade de tolerância e reconhecimento sobre a reciprocidade de não interferência entre os negócios das nações.

Nem precisa ser especialista em diplomacia internacional para se compreender a estrondosa rudeza quanto à insensibilidade do presidente brasileiro, que até pode criticar as ações brutais que são próprias de guerras contra o grupo defendido por ele, que também já é clara demonstração de incivilidade, mas nos termos compatíveis com a dignidade de estadista, que tem o direito de se manifestar em repúdio à tragédia humanitária que significa qualquer guerra, sem necessidade da pior e mais terrível comparação a algo inigualável na face da Terra, como o Holocausto.

À toda evidência, o presidente brasileiro pode até se achar que tem o direito de dizer o bem quiser, inclusive de se manifestar sobre situação que não lhe diz respeito, como essa interferência indevida e insensata no desempenho de Israel, quanto à guerra de Gaza, mas ele precisa prestar contas aos brasileiros honrados, que discordam visceralmente do seu comportamento em desprezo à salutar diplomacia exigida no cargo presidencial, quanto à necessidade de respeito à autonomia das nações amigas.

Urge que os verdadeiros brasileiros repudiem, com veemência, o desastroso desempenho do presidente brasileiro, especialmente quanto à imperiosa necessidade da fiel observância das regras insculpidas na liturgia inerente à dignidade que se impõe no desempenho do relevante cargo por ele ocupado, que exige pleno respeito aos princípios de civilidade e de acatamento às regras da diplomacia internacional, no sentido de não interferência nos assuntos e negócios das nações amigas.

Brasília, em 21 de fevereiro de 2024

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