Registre-se, por constituir fato histórico, que a presidente da República, há pouco mais de seis meses no exercício do cargo mais importante do país, fez menção nesta terça-feira, pela primeira vez, a um eventual segundo mandato. Isso ocorreu por ocasião da sua chegada ao aeroporto de Porto Velho, Estado de Rondônia, ao responder a uma pergunta se a população local poderia sonhar com um trecho de ferrovia projetado para ligar Porto Velho à cidade de Vilhena, também em Rondônia, que se encontra incluída no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), um dos principais programas do governo federal. A primeira mandatária brasileira respondeu: "Você pode sonhar. Agora, eu não vou ser demagógica de te dizer que sai amanhã. Não sai, porque nós ainda...". Em seguida, o repórter a interrompeu e disse: "Segundo mandato...". Então ela disse "... Estamos fazendo [a primeira parte do trecho da ferrovia, que vai de] Uruaçu [a Lucas do Rio Verde]... se tiver segundo mandato... [No momento], nós estamos fazendo Uruaçu-Lucas do Rio Verde". Curiosamente, durante a última campanha presidencial, insinuava-se que a então candidata exerceria apenas um mandato, deixando o caminho aberto para o retorno do ex-presidente petista, para um terceiro mandato. Essa atitude da presidente não deixa de ser surpreendente para o mundo político brasileiro, porque, de certa forma, contraria claramente a vontade velada do cacique e seu padrinho político, que jamais imaginaria que poderia ser peitado em curtíssimo interregno. Isso também demonstra que, embora em tão pouco tempo no cargo, a cadeira presidencial simplesmente fascina e consegue encorajar o seu ocupante a desafiar o seu próprio destino. Resta parabenizar a presidente pela sua audaciosa coragem de se lançar publicamente a novo mandato, sem mesmo ter demonstrado competência para administrar, sozinha, com eficiência, na sua curtíssima gestão, denúncias de irregularidades, cuidadosamente surgidas sempre uma em seguida à outra.
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 05 de julho de 2011
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