quarta-feira, 13 de julho de 2011

Dinheirama do BNDES

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A decisiva rejeição pelo sócio preferencial, o grupo francês Casino, à intenção da megafusão do Grupo Pão de Açúcar com os Supermercados Carrefour, lança luzes na atuação do todo poderoso BNDES, notadamente quanto à forma açodada e sem qualquer estudo sobre a real situação do negócio, que não impediram a dedicação por parte do governo ao recomendar e apoiar a aprovação do projeto. Contudo, contrariando os interesses do Grupo Casino que, com base em avaliação de cinco bancos e consultorias de peso, decidiu torpedear a iniciativa do empresário brasileiro, que havia convencido facilmente a enxurrada da dinheirama dos conterrâneos na transação. O certo é que somente o empresário tupiniquim proclamava otimismo com o negócio, declarando que ele é “de interesse nacional”, “bom para todos” e “bom para o Pão de Açúcar”, sendo, no entanto, contestado pelo grupo francês, ao afirmar que a proposta brasileira não é boa nem mesmo para o Pão de Açúcar. Os interesses estratégicos mostravam-se duvidosos e arriscados para os interesses nacionais, com o despejo de mais de R$ 4 bilhões de verbas públicas no projeto. Porém, graças à violenta e oportuna reação da sociedade, principalmente dos agentes especializados, contra a chancela oficial de uma disputa entre grupos privados pelo controle acionário de uma rede de varejos, o governo, sentindo a desaprovação popular ao caso, evocando “compromisso com a estrita observância das leis e dos contratos, baseado em rigorosos princípios de ética”, ordenou que o BNDES desistisse do negócio, o que praticamente inviabiliza o maravilho acordo de interesse exclusivo do Grupo Pão de Açúcar. Esse fracassado negócio tem o condão de mostrar a atuação desastrosa do BNDES, que, de forma independente, oferece apoio financeiro a negócios com clara finalidade contrária ao interesse público, contando com a conivência do Planalto, cujas ações estão agora sendo contestadas com toda razão pela sociedade. A desmedida facilidade propiciada com recursos públicos, por esse banco oficial, pode perfeitamente servir de importante lição para o governo federal agir com mais cautela e rigor, evitando que a sua máquina sustente favorecimentos com verbas não orçamentárias, graças ao uso de dinheiros públicos canalizados por ligação direta entre o BNDES e o Tesouro Nacional. Nesse contexto, convém ser censurada a atuação do Banco Central do Brasil, que tem sido incapaz de denunciar os rombos provocados pelo BNDES no sistema financeiro, com inconteste reflexo direto no plano de metas da inflação. O desmanche do projeto da questionada fusão também expõe a falta de atuação da oposição, que tem sido incompetente por não denunciar o mau desempenho do BNDES, não somente no caso em apreço, mas também em muitos outros análogos, demonstrando total incapacidade política e patriótica. Não obstante, a brilhante atuação da esclarecida sociedade é digna de destaque e reconhecimento, ao conseguir convencer o governo a enxergar, enfim, que recursos públicos estavam prestes a ter destinação para o desenvolvimento econômico-financeiro de grupo empresarial privado, em flagrante desvirtuamento da finalidade para os quais devem ser aplicados, qual seja, o desenvolvimento econômico e social do povo brasileiro.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 12 de julho de 2011

   

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