sábado, 16 de julho de 2011

Tudo igual

No momento em que a presidente da República procura se distanciar do Partido da República, o último ex-presidente faz questão de se aproximar dessa legenda, ao aceitar viajar de Goiânia para São Paulo num avião cedido por deputado federal e presidente, em Goiás, do diretório estadual do PR, exatamente a legenda que deu origem ao recente escândalo de corrupção no Ministério dos Transportes. Esse fato serve apenas para deixar evidenciada a pegajosa e imunda ligação sem escrúpulo que esses políticos não se envergonham de protagonizar, tanto quando estão em atividade como distante do governo. Aliás, tratando-se do último ex-presidente da República, isso não deveria ser motivo de estranheza, visto que, durante todo o seu mandato, sua excelência foi pródigo em dar exemplos de impropriedade administrativa, inclusive defendendo a execução de obras superfaturadas, como se fosse condição única e capaz de serem concluídas com sucesso, nos prazos fixados. O seu mau comportamento, reprovável em todos os sentidos, culminou com a sua aceitação, com naturalidade, do pior episódio de corrupção jamais visto neste país, quando foi desbaratado no Congresso Nacional o vergonhoso esquema de compra de votos de parlamentares, gerenciado pelos caciques do seu partido, simplesmente para assegurar a aprovação dos projetos governamentais. A seu juízo, tudo não passou de plano ardiloso da oposição para desestabilizar o seu governo. Felizmente, hoje, os fatos apurados acerca do clamoroso affaire são objeto de exame no Judiciário, com pareceres favoráveis à condenação dos envolvidos, inclusive do seu principal colaborador. Em que pesem a comprovação de denúncias de irregularidades no seu governo e sua conivência para com elas, o mínimo que dele se poderia esperar, agora, era justamente se comportar como pessoa de bem, dignificando a liturgia de quem exerceu o cargo mais importante do país, jamais aceitando viajar, de forma graciosa e bajuladora, nas asas cedidas por político vinculado ao partido que acaba de protagonizar escandalosos fatos de superfaturamento com dinheiros públicos, como se nada disso tivesse alguma importância para a sua imagem de homem público, que tem planos ostensivos para voltar ao Planalto, sem a mudança, obviamente, da sua mentalidade e inteligência superiores de que levar vantagem em tudo é coisa absolutamente comum e que, para os brasileiros, nada disso é mais novidade, porque esse é apenas um dos voos que ele pretende doravante realizar, conforme acaba de anunciar num discurso para sindicalistas “Eu vou voltar a viajar pelo país”. Como se vê, o começo não foi dos mais felizes. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 16 de julho de 2011

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