domingo, 16 de setembro de 2012

A verdade, ainda que aos poucos

Segundo reportagem publicada na revista “Veja”, o operador do mensalão disse a parentes, amigos e pessoas próximas a ele que o ex-presidente da República petista era o "chefe e fiador" do esquema e também tinha conhecimento das suas operações. O texto diz ainda que "O medo ainda constrange Marcos Valério a limitar suas revelações a pessoas próximas. Até quando?" e que o ex-presidente "teria se empenhado diretamente na coleta de dinheiro" para o esquema e tinha o ex-ministro da Casa Civil, réu no processo no Supremo, como seu "braço direito". Essa nova versão para o escândalo desmonta as declarações do próprio operador, que sempre negou a participação do ex-presidente no caso, que também não figura como réu no processo. O advogado do operador disse que seu cliente não confirma nada do que está na reportagem e que a revista ouviu "parentes, amigos e associados" para elaborar a matéria em causa. A situação do operador do mensalão parece se agravar diante da informação de que ele teme por sua vida, em razão de, em proteção aos “figurões do partido”, ter assumido a responsabilidade por crimes que não cometeu sozinho. Por causa disso, ele teria recebido garantias em troca do silêncio. Conforme a reportagem, ele afirmou para amigos que corre risco de morte caso conte tudo que sabe. Ele disse: “Vão me matar. Tenho de agradecer por estar vivo”. Ante que seja tarde, conviria que ele tivesse a dignidade de revelar o que realmente sabe, para o bem da sua consciência e como forma de ser útil ao país, aproveitando que os fatos estão sendo esmiuçados e tornados translúcidos ao conhecimento dos brasileiros. A verdade é que, no andar da carruagem, quando a corda começa a apertar na posição vital nos pescoços dos réus, já tendo havido a condenação do operador pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e peculato, que agora já é punição real e imutável para ele, diante da robusteza das provas periciais, testemunhais e materiais constantes dos autos, o operador do esquema, por questão de honra, deve se redimir perante a sociedade, indicando os verdadeiros delinquentes que precisam pagar pelos seus pecados, não importando os altíssimos cargos que ocupavam, porque os cidadãos são iguais perante a lei, sob pena de a justiça não alcançar a integralidade dos culpados e de deixar de punir talvez o principal interessado e beneficiado pelo esquema do mensalão, não sendo possível promover o salutar exemplo pedagógico aos maus políticos e administradores públicos, como forma de moralização da gestão dos recursos públicos. No caso do mensalão, em especial, a purificação do Brasil depende da revelação da verdade sobre os fatos pertinentes aos seus mentores, financiadores, operadores, beneficiados e demais culpados pela operabilidade desse famigerado esquema de corrupção, como forma de confirmar o envolvimento daquele que, apesar dos pesares, ainda foi endeusado pela maioria dos brasileiros, mesmo que essa atribuição de divindade possa ter sido fruto de fraudes, falsidades, mentiras, crimes, delinquências e maldades capazes de enganar a ingenuidade das pessoas incautas e despreparadas, que são facilmente seduzidas pela distribuição, à custa de recursos públicos, de bolsas e outras “bondades”. Somente a verdade tem o condão de resgatar a podridão dos políticos inescrupulosos, que são capazes de desviar recursos públicos dos programas oficiais, como saúde, educação, segurança pública, saneamento básico etc., para aplicação em projetos pessoais visando à conquista do poder e à manutenção nele, em claro menosprezo às causas da sociedade. Os brasileiros aspiram por que o julgamento do mensalão, além punir os envolvidos no caso, inspire os homens honrados e probos a se interessarem pela vida pública, como forma de contrapor à corrupção, à hipocrisia, à imoralidade, à desonestidade, à incompetência, ao despudor... Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 16 de setembro de 2012

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