quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Modernização da Igreja Católica?

Segundo um ex-cardeal italiano, que chegou a ser cotado ao papado e morreu na última sexta-feira, aos 85 anos de idade, a Igreja Católica está “200 anos atrás” dos tempos atuais. A opinião do religioso foi dada durante a sua última entrevista ao diário Corriere della Sera, de Milão, gravada e publicada em agosto. Disse ele que “A nossa cultura envelheceu, as nossas igrejas são grandes e vazias e a burocracia eclesiástica está crescendo, os nossos ritos religiosos e vestimentas são pomposos”, tendo proposto a mudança de direção radical. O cardeal declarou de forma enfática que muitos católicos perderam a confiança na Igreja e defendeu adaptações importantes. Na sua conclusão, ele pediu que houvesse “transformação radical, começando pelo papa e seus arcebispos”. Diga-se a bem da verdade que jamais alguém teve a lucidez e a coragem de dizer verdades perceptivas de forma cristalina não somente por ele, porque as questões religiosas são tratadas sob o prisma do dogmatismo, máxime quando diz respeito até mesmo ao simples pensamento para alterar o mínimo a doutrina religiosa, de vez que tudo da Igreja é imutável, intocável e tratado como tabu. A crítica é forma verdadeira de apontar rumos e mostrar distorções naquilo que não mais funciona com eficiência, diante dos notáveis avanços da humanidade, em especial hauridos com a benfazeja contribuição das descobertas e dos aprimoramentos tecnológicos e científicos, que alteraram completamente e de forma significativa o comportamento do Homo sapiens, ao ser expressivamente influenciado pelos novos conhecimentos, por circunstância natural da modernidade e da conceituação sobre a maneira adequada de conviver com essa evolução e de obter as melhores condições de bem-estar social. Não deixa de ser inconcebível que a Igreja, dirigida por clérigos da maior inteligência e sapiência, conhecedores profundos que são da ciência, da religião, da filosofia, do conhecimento humano e demais áreas inerentes ao homem, não perceba que a pompa dos ritos religiosos, a grandiosidade e o luxo das suas catedrais e de alguns templos, muitos dos quais ornados à base de ouro e obras de arte valiosas, as vestimentas ostentosas, a burocracia cada vez mais complicada e inteligível, a extrema dificuldade para discussão de temas sociais, como sexualidade, procriação e outras matérias próprias do cotidiano social, não condizem com os princípios sobretudo da simplicidade, humildade, pobreza, fraternidade e tudo o mais que se enquadre na dimensão humana pregada por Jesus Cristo, que deu origem à Igreja despojada do cerimonial, da pomba, do prestígio, do poder, da suntuosidade, da incompreensão dos sentimentos humanos e do mais que restrinja injustificadamente a aproximação da importância do amor divino sobre todas as coisas. Para difundir os princípios e as ideias essenciais do cristianismo, personificados na paz, na harmonia, no respeito a um único Deus e no amor entre as pessoas, não precisa senão práticas de simplicidade, generosidade, complacência, aceitação, igualdade e nada mais que torne complexo o acesso aos ensinamentos das doutrinas e dos princípios cristãos, máxime porque o seu disseminador original não precisou de nada suntuoso, hermético, dogmático para arrebanhar discípulos e seguidores. Com certeza, a evangelização de Nosso Senhor Jesus Cristo tinha por metas claras a aglutinação de ideais simples e modestas, que permitissem a convergência de pensamentos verdadeiramente voltados para a consolidação da fraternidade e do amor, sem se cogitar jamais na hierarquização clerical, que cada vez mostra a prática de castas dentro da Igreja, servindo de elitização dos rituais religiosos, com o respaldo do apego ao conservadorismo retrógrado e prejudicial à evolução da doutrina cristã. À toda evidência, essas críticas são pertinentes à cúpula encastelada, que se julga guardiã da verdade absoluta e que não se submete à realidade dos novos tempos. A modernidade mostra que a evolução de ideias deve convergir para o bem da humanidade e essa conquista de mais sabedoria até que poderia transpor os muros do Vaticano, para que a luz dos novos tempos ilumine também os sábios e doutos cardeais, de modo que suas mentes sejam arejadas para a concepção de nova cultura religiosa compatível com os tempos modernos, em consonância com os princípios fundamentais do cristianismo, mas com o aproveitamento dos avanços para beneficiar a ansiedade e necessidade sociais. Acorda, Vaticano!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 04 de setembro de 2012

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