terça-feira, 25 de setembro de 2012

Notinha inventada e ridícula

Por iniciativa do próprio ex-presidente petista, os partidos que formam a coalizão de governo se aliaram para defendê-lo das declarações atribuídas ao empresário operador do mensalão à revista Veja, segundo as quais o “todo-poderoso” estaria no centro da crise, como sendo o "chefe do mensalão". Como é apontado pivô do esquema do mensalão, seria do seu dever se dignar esclarecer os fatos e mostrar com provas irrefutáveis a sua isenção na participação dos fatos dolosos à nação, mas, de forma vacilante, como é próprio da sua índole, ele preferiu convocar seus aliados para se unirem em nota de repúdio às "calúnias e mentiras" assacadas contra ele. No seu entendimento, a medida se fez necessária, por considerar que a estratégia de atingi-lo termina prejudicando, nas eleições, o PT e os demais partidos governistas. A proposta foi aceita de imediato, por entenderem que há necessidade de "defender o projeto, que é de todos nós". O texto tem expressões fortes, fala em "práticas golpistas" e ataca o que chama de "forças conservadoras", que estariam dispostas a "qualquer aventura". O presidente do PT decidiu convocar a sua militância para uma "batalha do tamanho do Brasil" em defesa do partido, do ex-presidente e do seu legado. A nota parece destoar da racionalidade e do bom-senso, tanto que integrantes do PMDB e do PDT reclamaram da decisão dos seus presidentes, ávido em defender o “todo poderoso”, por terem assinado a nota, idealizada pelo PT, na qual seis partidos da base aliada defendem o ex-presidente e acusam a oposição de tentativa de golpe (sic), tão somente por ela ter ameaçado pedir apuração sobre a suposta relação do ex-presidente com o mensalão. A nota demonstra evidente falta de sintonia com a realidade dos fatos, quando fala em golpe contra ex-presidente, como se ele ainda estivesse no poder, além de negar o legítimo direito da oposição se manifestar contra possíveis fatos irregulares praticados por pessoa pública, que vive se imiscuindo na vida de todos os brasileiros, ao opinar e instruir a presidente da República no que ela deve fazer com relação ao gerenciamento do país. Na verdade, não é somente a oposição que pretende saber se o ex-presidente era ou não chefe do mensalão, mas a sociedade em geral, que não concorda que a quadrilha, funcionando no coração do poder, dentro do palácio presidencial, e que o seu principal ocupante não sabia o que estava se passando nas suas barbas. Se o presidente de então não sabia realmente de nada, quem na verdade administrava a nação? Também impressiona o tamanho da coragem dos partidos aliados em partir cegamente em defesa de quem não tem sequer coragem nem a dignidade de se defender perante a nação, que é da sua primacial obrigação. Não deixa de ser bastante curioso o fato de os seus defensores também sequer conhecerem os meandros do escabroso affaire, nem um pouco do que deve saber o operador do mensalão, que poderá a qualquer momento revelar tudo que sabe sobre as tramoias palacianas. A sociedade anseia por que a verdade sobre o mensalão seja plenamente revelada, em especial por envolver irregularidades com recursos dos cidadãos e a participação de altas autoridades públicas, porquanto é inadmissível que alguém tenha a indignidade de se apoiar em arranjada notinha ridícula para servir de escudo e de defesa sobre acusações seríssimas e comprometedoras acerca da sua reputação. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 25 de setembro de 2012

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