Não é de agora que o parlamento brasileiro se
esbalda serenamente com o dinheiro do contribuinte e nem mesmo o Estado da
Paraíba, que não dispõe de fartura financeira e decerto a sua população carece
de melhorias estruturais, fica livre da farra com o vil metal. Exemplo disso é
que, somente no primeiro semestre do corrente ano, foi pago aos deputados estaduais
o montante de R$ 6,2 milhões, a título de verbas indenizatórias, que têm por
finalidade a manutenção do gabinete e a atuação parlamentar, consistindo
basicamente no custeio de despesas com alimentação, aluguel de automóveis,
hospedagem, custos de viagens a serviço, passagens aéreas, escritórios,
contratação de consultoria e divulgação sobre a atuação parlamentar. A referida
importância encontra-se atualizada com o
acréscimo de 24,04% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme
informações disponibilizadas pelo Tribunal de Contas do Estado. Ainda no
primeiro semestre do fluente ano, a despesa total paga aos parlamentares,
compreendendo vencimentos e verbas indenizatórias, alcançou o valor de R$ 11,3
milhões. A quantia média repassada ao deputado situa em torno de R$ 30 mil
mensais. Esse evidente abuso injustificável com o dinheiro
dos bestas dos contribuintes suscita a urgente necessidade de a sociedade
repensar essa forma absurda de gastar os recursos públicos, simplesmente ao
livre-arbítrio de pessoas inescrupulosas que estão compromissadas unicamente
com a realização de seus objetivos pessoais, sem a mínima preocupação com as
causas da sociedade, que, em essência, é a razão da existência das Assembleias
Legislativas. Esse lamentável episódio mostra, de forma eloquente, que somente
o povo, responsável pelo pagamento das despesas, tem competência original para
fixar o quanto os parlamentares devem ser remunerados, em especial com relação
às verbas indenizatórias, ajudas, auxílios e demais mordomias vergonhosas e
injustificáveis. Essa medida poderia ser promovida por ocasião das campanhas
eleitorais, onde os eleitores estabeleceriam as condições e os limites dos
respectivos valores. Somente aqueles que aquiescessem com remuneração digna e
justa estabelecida pela sociedade seriam habilitados nas urnas e essa anuência
acenaria para o real empenho dos parlamentares em benefício social. Se a sociedade
não tiver interesse em mudar o quadro de mamatas e de pouca-vergonha, apenas
reclamar não vai solucionar a indecência com o dinheiro do cidadão. Diante dos
maus exemplos protagonizados pelos parlamentares paraibanos, que em nada diferem
do resto do país, é lícito se inferir que as Casas Legislativas, embora
imprescindíveis para a democracia, constituem-se autêntico câncer dos orçamentos
públicos, cuja dolorosa ferida somente será sarada com a conscientização dessa chaga
social, mediante a participação criteriosa e racional na escolha dos
representantes políticos. Urge que a sociedade se conscientize sobre a necessidade
de opinar e decidir, nos respectivos pleitos eleitorais, quanto ao limite dos
vencimentos, das vantagens e das mordomias dos parlamentares, que não deveriam
diferenciar da sistemática de remuneração dos demais servidores púbicos, como
forma de moralização salarial das Casas Legislativas, em termos de limitação
prudencial, tendo em vista o custo-benefício das atuais despesas com a manutenção
extremamente dispendiosa dos parlamentares. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de setembro de 2012
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