terça-feira, 18 de setembro de 2012

Aceitação criminosa do mensalão

Seguindo a linha de raciocínio da cúpula do PT, o presidente da Câmara dos Deputados declarou que o suposto esquema de pagamento de propina a parlamentares no governo do ex-presidente petista, o denominado mensalão, é uma “falácia”. Ele disse que “Me chamou a atenção ter voltado esta tese do mensalão. Eu, por exemplo, acho uma grande falácia. Não houve, por exemplo, pagamentos mensais aos deputados do PT. Os deputados do PT não tinham nenhuma necessidade de ter pagamentos mensais para votar com o governo. Há uma tentativa de se reforçar e afirmar uma coisa que não é verdade, que não condiz com verdade” e que “A expectativa é que se faça o julgamento mais justo possível, olhando as provas que foram produzidas nos autos do processo.”. Na realidade, a afirmação do político sintetiza meia verdade, haja vista que, de fato, não houve pagamentos aos deputados petistas, visto que o mensalão foi arquitetado para a compra de votos de deputados de outros partidos, tendo por finalidade a aprovação de matérias de interesse do governo e o aumento da sua base de sustentação no Congresso Nacional. A ilação do presidente da Câmara, na tentativa de descartar a existência do mensalão, é forma disfarçada para tentar negar o óbvio, no sentido de que, para ele, não havendo propina para os próprios deputados, também não faria sentido haver para os parlamentares de outros partidos. Ledo engano, tendo em vista a revelação pelo Supremo Tribunal Federal, dos procedimentos sobre a distribuição, passo-a-passo, dos dinheiros sujos aos partidos participantes do esquema, em cumprimento aos acordos indecorosos, tramados nos bastidores do Palácio do Planalto, sede presidencial. No momento em que os fatos escandalosos estão sendo revelados, de forma esmiuçada, nos mínimos detalhes, como se dizia no passado, parece mais do que natural e evidente o surgimento dos líderes petistas, em mobilização nacional, se manifestando contra a existência do famigerado mensalão, que, pelo aviltamento da sua criação, finalidade e operabilidade seria capaz de envergonhar e desmoralizar terminantemente qualquer instituição que funcionasse num país com um pouco de cultura, cujo povo tivesse a compreensão do exato valor da dimensão da dignidade simbolizada por um partido político perante a sociedade, que seria representá-la tendo por base o ideário da estrita observância dos princípios da ética, moralidade, honradez, decência e demais sentimentos de caráter de retidão, além do respeito ao patrimônio dos cidadãos. Não deixa de ser inacreditável que parte da sociedade ainda tenha dúvida sobre esse terrível golpe do mensalão, quando o Poder Judiciário já atestou a sua perversidade com os cofres públicos. O pior cego é aquele que não quer enxergar, mesmo que as provas constantes dos autos em julgamento no Supremo demonstrem a robusteza das roubalheiras jamais vistas dentro do governo, cujos mentores tiveram a “competência” de desviar dinheiros dos cofres públicos para a mesquinha compra de votos e o fortalecimento do seu projeto de poder. Não fosse o aliciamento com a distribuição de bolsas eleitoreiras, essa concepção de “falácia” já tinha sido desmascarada há bastante tempo também pela sociedade menos esclarecida, que, diante de tal "bondade", não tem interesse de se convencer de que o "homem tão bom" seja membro da quadrilha do mensalão. A sociedade precisa se conscientizar de que a rejeição à realidade do mensalão tem contribuído para o fortalecimento da corrupção e para a formação de homens desonestos e despreocupados com o progresso da nação. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 18 de setembro de 2012

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