quinta-feira, 20 de setembro de 2012

As cotas irracionais

O governo finalmente conseguiu transformar seu intento da destinação de vagas nas universidades federais para alunos oriundos de escolas públicas, mediante a intensificação das benesses das cotas, ao invés de optar por investimento na qualidade da educação, em todos os níveis da formação de ensino, principalmente na educação fundamental, para que todos possam concorrer igualmente no vestibular, como forma de fortalecimento do ensino superior. Conforme lei sancionada pela presidente da República, ficam destinados 50% das vagas em universidades federais para estudantes oriundos de escolas públicas. A medida aprovada, ressalvada a metade das vagas oferecida para ampla concorrência, combina cotas racial e social, observados três fatores: cor, rede de ensino e renda familiar. A medida é tão esdrúxula que estabelece diferença de cota racial em cada universidade ou instituto da rede federal, em que estudantes negros, pardos e índios terão o número de vagas reservadas definido, na unidade da federação em que está a instituição de ensino superior, em conformidade com a proporção dessas populações apontada no censo do IBGE de 2010. O restante das vagas reservadas será distribuído entre os alunos que cursaram o ensino médio em escola pública, sendo que no mínimo metade da cota - ou 25% do total de vagas - deverá ser destinada a estudantes que, além de ter estudado em escola pública, sejam oriundos de famílias com renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita. O que o governo faz é simplesmente aplicar a famosa lei de menor esforço, impondo regras prontas e acabadas, para serem implantadas goela a baixo da sociedade, quando seria recomendável propugnar por reformas na educação, com vistas à melhoria da qualidade do ensino, dando condições para a obtenção de vagas por meio do tradicional vestibular, como forma de contribuir para a formação acadêmica em satisfatório nível de qualidade para todos, eliminando qualquer possiblidade de discriminação com essa invenção de cotas, por fatores raciais e origem de ensino público. Tudo isso não passa de incompetência governamental, que prefere se acomodar, deixando o ensino como estar, sem nenhuma modificação estrutural. O correto seria aperfeiçoar e modernizar a educação, mediante maciços investimentos em todos os níveis de ensino da competência do Estado, justamente para que todos tenham condições de usufruir de formação acadêmica que não comprometa a qualidade, sem serem submetidos a processo de desconfiança quanto às condições intelectuais para acompanhamento dos estudos, devido ao nível precário do ensino público fundamental. O certo é que as críticas somente ocorrem devido à incompetência do governo, que poderia evitar os sistemas de cotas se ele primasse por ensino de qualidade, se ele tivesse preocupação e prioridade para a educação pública. Como isso não é possível, realmente há necessidade de benesses das cotas, que somente contribuem para que o ensino continue com estrutura antiquada, em descompasso com os avanços da modernidade e distanciado das conquistas das nações culturalmente adiantadas e preocupadas em propiciar formação de qualidade aos estudantes, independentemente desses arranjos e comodismos de cotas, que devem ser exclusiva invenção tupiniquim. A sociedade sente-se envergonhada com o sistema de cotas pela cor, por mostrar que o entendimento do governo é de que os não brancos possuem menos cérebro, sendo incapazes de competir em igualdade de condições e de evoluir como pessoas normais. Essa pouca-vergonha precisa ser revista, mediante a realização de reformas eficientes e capazes de propiciar ensino de qualidade para todos, sem discriminação ou privilégios irracionais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 20 de setembro de 2012

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