A propósito da menção
do nome da presidente da República pelo relator do mensalão, em julgamento no
Supremo Tribunal Federal, para sustentar o seu voto, afirmando que ela teria
dito, em depoimento prestado em juízo, em 2009, como testemunha de réu no
processo, que ficou "surpresa" com a aprovação rápida, entre 2003 e
2004, de duas medidas provisórias que alteravam a legislação pertinente à área
de energia, a reação palaciana foi imediata e carregada de palavras duras,
incompatíveis com a liturgia do cargo presidencial. Segundo o relator, à época,
ela "Disse que se surpreende, vendo
com os olhos de hoje, a rapidez da aprovação desse projeto. Pode se assim
avaliar a dimensão ...". Na nota, a presidente esclareceu que a sua surpresa
se deu em virtude de acordo celebrado entre líderes da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal, constituída da base aliada e da oposição, para a aprovação das
matérias. Ainda na sua versão, a reação se deu "por termos conseguido uma rápida aprovação por parte de todas as forças
políticas que compreenderam a gravidade do tema". Mais adiante, ela
disse que o país vinha de "apagão" no fornecimento de energia
elétrica, obrigando o governo tucano a decidir pela implantação de plano de
racionamento de luz. A nota reproduziu outro trecho do seu depoimento, onde
consta: "Ou se reformava ou o setor
quebrava. E quando se está em situações limites como esta, as coisas ficam
muito urgentes e claras". Essas argumentações foram inventadas agora,
num esforço hercúleo para justificar o injustificável, porque elas não constam
do texto do depoimento original. Longe de tecer qualquer juízo de valor sobre o
episódio, mas, para bom entendedor, a citação do depoimento de quem era
ministra das Minas e Energia deixa antever o tamanho do incômodo causado a quem
se julga acima de tudo e de todos, inclusive do Judiciário, que, no presente
caso, apenas cumpre a sua competência constitucional de julgar os crimes contra
o Estado e a sociedade. A nota
evidencia absurda incoerência da presidente da República, tendo em vista que,
se a matéria aprovada pelo Congresso era de relevância e essencial para a
sociedade, por envolver a grave situação por que passava o setor elétrico, isso
em absoluto poderia ensejar motivo para a surpresa da presidente na urgente
deliberação dos projetos. Ao contrário da motivação da sua surpresa, seria
muito estranho se não tivesse havido empenho dos parlamentares para a pronta
aprovação dos projetos governamentais. A nota presidencial, além de bastante
infeliz e contraditória, ainda mostra a indignação da presidente quando alguém
menciona os seus peculiares equívocos. Teria sido mais elegante se ela tivesse tido
a dignidade de ter ficado calada, para não atiçar e piorar ainda mais a questão,
que depois disso ganhou maior amplitude na mídia e na opinião pública. A
sociedade aspira por que as notas presidenciais, se necessárias, no caso do
mensalão, sirvam apenas como instrumento capaz de contribuir, de forma isenta e
imparcial, para ajudar no julgamento imbróglio. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 25 de setembro de 2012
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