segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Hospitais públicos, rascunhos do inferno?

Um médico neurocirurgião, visivelmente contrariado com a precariedade do Hospital São Lucas, em Vitória/ES, decidiu denunciar sua indignação sobre a situação desse nosocômio, ao afirmar que o atendimento em geral ali está caótica e insuportável, com a sala de emergência lotada e o Samu trazendo mais pacientes graves a cada minuto. Ele disse que “É o verdadeiro rascunho do inferno” e “até mosca e mosquitos foram vistosa dentro de uma sala de cirurgia”. Trabalhando há 20 anos no hospital, o médico foi enfático: “Imaginem o pessoal do Samu atendendo um paciente acidentado em estado grave, entubam e ressuscitam o paciente e resolvem levar para o São Lucas. Lá, se deparam com um congestionamento de macas, tentando entrar no hospital. Imagine o desespero desses profissionais. O negócio está insuportável” e “O que encontramos ali é uma situação desumana. Pacientes deitados em macas baixas, a 10 ou 20 centímetros do chão. Estão predispostos a uma infecção hospitalar”. As queixas e os desabafos totalmente abalizados feitos pelo médico foram respaldados por seus pares, que atestaram o verdadeiro abandono e descaso pelos hospitais e de resto pela saúde pública, que não é privilégio negativo somente daquele hospital, porque o absurdo em matéria de atendimento médico-hospitalar na rede pública de saúde é generalizado e, se fosse possível dizer, endêmico, para não falar da falta de espírito humanitário das autoridades públicas, ao se passarem por moucos para não ouvir as queixas e os pedidos de socorros da população brasileira. A vergonha nacional tem vários nomes, mas a saúde pública não comportaria denominação tão apropriada, diante da deficiência do tratamento das pessoas, como se elas fossem serem desumanos e não tivessem direito à atenção digna. O certo é que sai e entra governo, mas nenhum tem a dignidade de designar pessoas qualificadas, com preparação gerencial em saúde pública, para administrar o caos crônico nos hospitais, onde as pessoas são tratadas como animais, como algo desprezível, que terminam morrendo por falta de assistência médico-hospitalar, não por culpa dos profissionais médicos, enfermeiros, administrativos, mas exclusivamente pela incompetência das autoridades públicas, que não priorizam recursos e políticas destinados à valorização e ao saneamento de atividades tão importantes a saúde do ser humano. Na realidade, a saúde pública brasileira sempre foi tratada com deboche, a exemplo da menção feita pelo último presidente da República, que um dia disse: "O SUS é tão bom, mais tão bom, que dá até vontade de ficar doente". Todavia, quando ele adoeceu de verdade, procurou socorro no Sírio Libanês. Com absoluta certeza, a grave e crônica enfermidade da saúde pública, que foi denominada sem muito exagero de “rascunho do inferno”, tem solução e pode ser sarada, desde que cuidada antes da sua transformação em definitivo em inferno, mas depende unicamente da sociedade, que deve se conscientizar com urgência de que não se pode insistir com a continuidade da incompetência, da corrupção, dos investimentos faraônicos com estádios de futebol inúteis, com assistencialismo eleitoreiro, com fisiologismo interesseiro e outras tantas gestões antieconômica, contraproducentes e prejudiciais aos interesses da nacionalidade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 17 de setembro de 2012

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