A troca de ministra da Cultura é mais um confuso
episódio da história republicana, sabendo-se que a exoneração teria ocorrido a
pretexto do mero vazamento de uma carta enviada pela então titular dessa pasta
à ministra do Planejamento, reivindicando verbas para a Cultura, diante do
risco à sua gestão, devido ao seu baixo orçamento. Esse fato mexeu com os brios
da presidente da República, que ficou incomodada a ponto de substituí-la
imediatamente. Para o governo, esse imbróglio surgiu como uma luva na vontade da
mandatária do país para recompensar, a título de afago, a adesão da senadora
paulista à campanha do candidato petista à Prefeitura da cidade de São Paulo,
uma vez que ela resistia a participar do pleito eleitoral, por ter sido preterida
para o cargo pelo “todo-poderoso” do partido. Merece destaque o fato de que a
ministra defenestrada sempre foi considerada peso morto na Esplanada,
justamente por não ter o que fazer ou não ter ideia do que seja a cultura do
país ou ainda por falta de orientação sobre o seu trabalho no ministério, à
vista da permanente contestação da classe artística e cultural acerca da sua inercia
à frente da pasta. Inobstante, em nota à imprensa, a presidente agradeceu o
empenho e os relevantes serviços prestados ao país pela ministra substituída, fato
enaltecido ainda mais no momento da posse da nova ministra, quando a mandatária
do país fez questão de dizer que é eternamente grata a ela. Por sua vez, a
demissionária, talvez de forma irônica, agradeceu aos ministros do Planejamento
e da Fazenda, por terem sido generosos na liberação de recursos para a pasta
que dirigia. Ainda de modo irônico, ante a irritação com a cobrança de verbas,
a presidente fez questão de dizer que a Cultura terá incremento de 65% no
orçamento para 2013, como forma de justificar que não faltam recursos para as
atividades culturais. Também é curiosa a afirmação da presidente de que a nova
ministra “dará prosseguimento às políticas públicas e aos projetos que estão
transformando a área da Cultura nos últimos anos”, máxime porque somente ela percebe essa transformação na cultura, pois
o resto da nação não a conhece. Como se vê, a simples troca de ministro traz à
lume uma série de hipocrisias, falsidades e inverdades protagonizadas por
autoridades públicas de quem a sociedade espera a verdade, sinceridade e
lealdade, como forma de dar crédito aos seus atos. Por falar em credibilidade,
o governo poderia ter aproveitado o ensejo da saída da ministra para fundir o
Ministério da Cultura a outro ministério, dada a insignificância dele em termos
de benefício à cultura do país, ou, na pior das hipóteses, nomear para
dirigi-lo pessoa realmente qualificada, preparada e interessada em prestar
serviços às causas culturais, como forma de justificar a existência de órgão
que até agora tem servido como cabide de empregos, em verdadeira inutilidade e sem
qualquer benefício à sociedade. A incoerência da presidente só se aplica no
momento das greves dos servidores públicos, que alegava aperto econômico, em
razão da crise mundial, para negar aumento salarial, mas não se sensibiliza
pelo mesmo fato quando se trata da necessidade do enxugamento da máquina
pública, que gasta mal e muito e ainda desperdiça recursos públicos. A
sociedade anseia por que o governo seja transparente, sincero, verdadeiro,
íntegro quanto à gestão dos recursos públicos, que deveriam ser despendidos
observados os princípios da austeridade, da economicidade e da satisfação do
interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 14 de setembro de 2012
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