domingo, 2 de setembro de 2012

Tráfego de influência é crime

Em depoimento à CPI da contravenção, O ex-diretor do Dnit declarou que pediu, em atendimento à solicitação formulada pelo então tesoureiro da campanha petista, doações a empresas de construção civil para a campanha eleitoral da atual presidente da República. Ele contou que “De maneira nenhuma associei a doação a qualquer ato administrativo do Dnit. Posteriormente ao meu pedido, já no transcurso da campanha, algumas empresas encaminhavam para mim boletos demonstrando que tinham feito a doação. Posteriormente, eu constatei que diversas empresas para as quais eu havia feito a solicitação realmente fizeram a doação na conta de campanha”. Não deixa de ser risível a defesa do citado tesoureiro, ao alegar que ele teria sido procurado pelo ex-diretor do Dnit, para se colocar à disposição para ajudar na arrecadação de campanha. Na ocasião, o depoente garantiu que sua atuação no Dnit não favoreceu as empresas que contribuíram para a campanha da presidente, no montante entre R$ 5,5 milhões e R$ 6 milhões. Esse valor arrecadado mostra a dimensão da importância do Dnit no governo, em razão de cuidar dos recursos e das obras do PAC, que foi concebido pela presidente. Esse episódio se mostra extremamente grave, porque revela a vulnerabilidade das relações existentes entre Estado e empresas contratadas, que são obrigadas “voluntariamente” a contribuir com dinheiro para os gastos de campanhas políticas, praticamente com a certeza de que essa ajuda logo em breve retornará inserida em forma de adicionais, a título de realinhamento financeiro do contrato, que é colocado na conta dos bestas dos contribuintes. Na verdade, essa pouca-vergonha caracteriza-se crime, em virtude do evidente tráfego de influência, passível de cominação de pena de reclusão e de perda dos cargos ocupados pelos beneficiários dos recursos doados, ante a ilegalidade da sua entrada nos cofres do partido. O curioso dessa imoralidade é que as empresas procuradas fizerem, sem contestar, mas satisfeitas, doações para a campanha da “pudica” presidente, que declarou não ter nada com a questão, porque o assunto de dinheiro era da alçada do partido. Essa é a exata ética dos políticos, mesmo se beneficiando de forma espúria e suja, ainda tem a indignidade de dizer que não sabe de nada e não tem nenhuma responsabilidade com os atos irregulares que contribuíram para o êxito do seu pleito. O povo não pode conviver com a hipocrisia dos políticos que deixam de assumir seus erros e nada acontece com eles, embora seus atos configurem desrespeito aos princípios da honestidade, da moralidade e da legalidade. Num país com o mínimo de seriedade, o episódio em tela seria objeto de imediata apuração pelo Ministério Público Eleitoral e de punição aos culpados, como forma de extirpação das malversações de recursos públicos. A nação clama por reforma abrangente e isenta de interesses no sistema político-eleitoral, levando em conta as causas essenciais da sociedade. Além disso, urge que o povo tenha dignidade suficiente para eleger seus representantes pelo critério do respeito aos princípios da honestidade, da ética, da responsabilidade, do caráter, da moral e de tudo o mais que não possa restar mais dúvida quanto às suas elevadas e nobres qualidades e ideias, manifestadas por palavras e atos, inspirando confiança e respeito. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 1º de setembro de 2012

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