quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Fascinante verba pública

Segundo reportagem publicada pela revista ÉPOCA, o senador alagoano, que é líder do PMDB e será eleito, em fevereiro próximo, presidente do Senado Federal, e seu filho, que é deputado federal, também do PMDB de Alagoas, contrataram uma empresa ligada a uma funcionária do gabinete do próprio senador, a quem foram feitos pagamentos de despesas com dinheiro público, no período de agosto de 2011 até outubro de 2012, no importe total de R$ 110 mil, que foram custeados com verbas de seus gabinetes, em Brasília. Os “serviços” foram contratados da empresa de pesquisa que tem como sócio majoritário o marido da secretária do senador, que trabalha no seu escritório político em Maceió. O senador, apesar de conhecer sua assessora há bastante tempo, declarou não saber que a servidora era sócia da empresa no período da prestação dos serviços ao seu gabinete e que foi levado em conta, para a sua contratação, o fato de tratar-se do melhor instituto de pesquisa do Estado. O político não informou os tipos de pesquisas que foram implementados à custa do dinheiro dos tolos dos contribuintes, sob a rubrica conhecida como verba de gabinete, que é uma de tantas cotas mensais que os congressistas têm direito para o pagamento de despesas “essenciais” para o exercício dos mandatos. O curioso é que o sócio majoritário, de igual modo, afirmou não se lembrar de quais serviços prestou ao senador e ao deputado, mas disse que “São pesquisas que a gente faz sobre os problemas e as demandas de cada município”.Por seu turno, os políticos não quiseram responder à reportagem da citada revista sobre o assunto em apreço. Como os contratantes e contratado não souberam explicar, de forma objetiva, quais os serviços efetivamente prestados, fica cristalino que se trata de claro desvio de dinheiro público. Essa questão do uso de verbas de representação e de gabinete tem servido para verdadeiro sumidouro de dinheiro público, principalmente pela tremenda liberalidade no sentido de não haver necessidade de comprovação dos gastos, uma vez que o parlamentar tem direito a uma cota, estabelecida em valor, podendo gastá-lo da forma que bem lhe aprouver, sem obrigação da sua sadia destinação, sem necessidade sequer de justificar a sua boa e regular aplicação, como forma de prestação de contas, em termos de custo-benefício, que deveria se reverter para a melhoria das condições de vida da sociedade. Na atual estrutura de gastos aprovada pelo Poder Legislativo, os parlamentares se beneficiam de absurdas quantidades de verbas para contratação de pessoal, manutenção de escritórios nos seus estados, aquisição de uniforme, auxílio moradia, além das mordomias de transportes, passagens aéreas, celulares, correios etc., mas, infelizmente, a sua produtividade não justifica nem de perto a enormidade dessas verbas extraordinárias e sem-vergonha, em verdadeira contradição com a situação dos servidores públicos, que percebem tão somente os seus vencimentos básicos, sem mais nada de direito e são obrigado ao expediente de 40 horas semanais, enquanto Suas Excelências têm autorização legal para comparecerem ao trabalho apenas três dias por semana, ou seja, aproximadamente 16 horas semanais, considerando que eles somente comparecem à tarde de terça-feira e se debandam para suas bases logo cedo da quinta-feira. Não deixa de ser patente exemplo negativo para a nação de quem teria a obrigação de trabalhar muito mais do que os trabalhadores normais, tendo em conta não somente a significância dos mais elevados cargos de representantes do povo, mas por receberem cumulativamente abusivos e inconcebíveis vencimentos, vantagens, benefícios, ajudas e mordomias pelo que o povo se beneficia em contraposição. Urge que a sociedade exija que os congressistas sejam justos, honestos e dignos, no sentido de bem representá-la, deliberando por trabalhar condignamente 40 horas semanais, receber precisamente os vencimentos compatíveis com a função de servidor público e exercer seus cargos em exclusiva defesa do interesse público. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 22 de janeiro de 2013

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