terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ter vergonha ainda é pouco

No momento em que se aproxima a eleição para a escolha do presidente da Câmara dos Deputados, um candidato ao cargo disse que havia constatado que a imagem da Câmara e dos próprios deputados é péssima, notadamente em razão da dissonância existente entre o Parlamento e a sociedade. Ele disse ainda que “Nós chegamos ao fundo do poço” e “Os deputados estão com vergonha do botton”. Em seguida, ele declarou que defende a reforma da instituição, para possibilitar a recuperação do prestígio do Poder Legislativo perante a sociedade, por ter identificado contraposição de interesses. Infelizmente, o parlamentar, em plena campanha eleitoral da Câmara, na tentativa de conquistar alguns votos, declara-se envergonhado do cargo que exerce, a ponto de sequer ter coragem de usar o distintivo que o identifica como deputado, quando ele deveria, ao contrário, se orgulhar de ser um dos poucos que representam a sociedade brasileira no poder de elevadíssima importância da República. Agora, assiste inteira razão ao congressista, ao ter a dignidade de reconhecer, diga-se, de passagem, em momento especial e devido a interesse pessoal, a extrema pobreza moral da sua classe política, que teve inescrupulosa iniciativa de oficializar apenas três dias semanais de trabalho, quando, na verdade, o seu comparecimento ao Congresso não passa de dois dias, no máximo, e ainda tem a desonestidade de receber seus vencimentos, ajudas, auxílios, verbas de representação e demais mordomias indecentes e injustificáveis integralmente e em dia, e o mais grave é que pouco ou nada é produzido em benefício da sociedade, em contraprestação aos astronômicos salários pagos ao parlamentar, comparáveis aos minguados salários mínimos da quase totalidade do povo brasileiro. É normal que os deputados tenham vergonha na cara, mas isso somente é pouco. Convém que Suas Excelências tenham a dignidade de reconhecer o fracasso no exercício de seus cargos e mostrem, mediante atos efetivos, que a depravação moral do Parlamento precisa ser saneada com urgência, para o bem da democracia, que exige dignidade, honestidade e principalmente transparência dos seus ilustres membros, que exercem funções públicas de nobreza e por isso têm a obrigação moral e cívica não somente de exercê-la na plenitude democrática, mas sobretudo de dar o exemplo de correção e de decência, inerentes aos homens públicos. A sociedade anseia por que os congressistas voltem a ter vergonha de pertencer à classe política, renunciando à comezinha participação nos maleáveis sentimentos indecorosos que não se aderem aos princípios de moralidade, probidade e caráter democrático, por concordarem, com facilidade, com acordos espúrios e fisiológicos, como forma tão somente de se manterem no poder, como meio de viabilizar seu controle sobre a administração de órgãos públicos e empresas estatais, com as manobras indecentes das colocações de apaniguados na sua direção, para executarem seus objetivos e planos estratégicos em setores importantes da economia, tudo em aproveitamento dos seus interesses e prejuízo das causas nacionais e sociais. Na atualidade, são normais as composições partidárias visando exclusivamente ao domínio da gestão da administração pública, como forma exclusiva de fortalecimento de seus interesses partidários. Urge que os políticos não somente se envergonhem de serem congressistas, mas que tenham a dignidade de permitir que os homens de caráter e de bem possam representar o povo, exatamente com a decência e a competência preconizadas na Carta Magda, que estabelece que os cargos públicos devam ser exercidos com a observância aos princípios da administração pública, com respeito especialmente à ética, moral, transparência e defesa dos interesses nacionais. Acorda, Brasil.
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 28 de janeiro de 2013

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