quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Sepultamento da dignidade

Na qualidade de presidente de honra do PMDB, o vice-presidente da República, com bastante maestria e na forma costumeira da autenticidade peculiar dos integrantes do maior partido fisiologista do país, defendeu a candidatura do senador alagoano, que é o líder da agremiação, à presidência do Senado Federal. No seu “abalizado” entendimento, o fato de ele ter renunciado ao mesmo cargo, em 2007, em razão de uma série de acusações de irregularidades de corrupção, não o descredencia para retornar ao mesmo posto. Ele disse que “Vai depender muito da gestão que ele vier a fazer. Ele fazendo uma gestão correta, adequada, isso ao invés de prejudicá-lo, vai enaltecê-lo. Mas é o futuro que vai dizer", “o nome de Renan tem tradição e o peemedebista foi escolhido pelo Senado e pelo partido e ele pode fazer uma belíssima gestão. É isso que nós esperamos". A candidatura do senador alagoano apenas consolida a má reputação do Congresso Nacional, que é composto por alguns políticos de índole que não se adere facilmente às práticas de probidade e moralidade e ainda fazem questão de refutar os princípios do decoro, da ética e da honestidade, a exemplo dos esquemas do mensalão, dos sanguessugas e de tantos outros especialmente organizados para desviar recursos públicos para fins espúrios. No caso do senador candidato, não deixa de ser bastante estranho o seu favoritismo ao cargo, máxime porque a sua reputação é simplesmente inqualificável em termos de dignidade política e até mesmo como cidadão normal, em virtude de ter deixado a presidência do Senado, por meio de um acordo para preservar seu mandato, sem precisar se explicar. Muitas eram as denúncias de corrupção que lhe foram atribuídas, tendo como destaque o pagamento por um lobista de uma grande construtora das contas de uma jornalista, com quem tem uma filha. No decorrer das apurações, foram verificados outros fatos, como o uso de "laranjas" e a apresentação de notas frias, complicando ainda o leque de suas falcatruas. O certo é que o arcaico e deficiente sistema político brasileiro, combinado com a falta de sensibilidade e maturidade política do povo, ainda permite que um cidadão inescrupuloso se reabilite na vida pública, se eleja a cargo importante da República e, o que é muito pior, ainda mantendo e conquistando mais influência do que já possuía antes de serem reveladas suas traquinagens, como se elas tivessem o condão de contribuir para reforçar o entendimento de que a importância do político se mede pelos seus atos desabonadores da dignidade. Essa tese parece se comprovar com a veemente defesa da candidatura em apreço pela segunda autoridade do Poder Executivo, ao demonstrar total segurança e garantir que o seu protegido fará belíssima gestão. Não deixa de ser decepcionante para a nação o apoio, com tanta altivez, de político influente no seu partido à candidatura de um autêntico corrupto, indigno até de representar o povo, quando a sociedade vem ansiando há bastante tempo pela reafirmação e autonomia moral e ética do Poder Legislativo, que, ao contrário, perde excepcional oportunidade para mostrar à nação a firme disposição para defender os princípios de competência, sensibilidade, honra, vergonha, transparência, austeridade, decoro e principalmente dignidade, que seria apenas a sua obrigação de cumprir com eficiência a importante missão confiada aos homens de bem e de caráter. A sociedade tem o dever cívico de se conscientizar com urgência sobre a necessidade de reformular o sistema político, para o fim de promover completa assepsia do atual Congresso Nacional, ante a demonstração de falta de dignidade, ética e moralidade e de continuísmo da nefasta prática do fisiologismo, que tanto empobrece o importante poder que é o pilar da democracia.  Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 23 de janeiro de 2013

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