sábado, 8 de junho de 2013

A ética tupiniquim

Em razão da viagem do governador de São Paulo a Paris, o ministro e vice-governador desse estado conseguiu da presidente da República a exoneração do cargo de titular da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, que funciona em Brasília, conforme ato publicado em edição extra do Diário Oficial da União. Essa esdrúxula manobra viabiliza que o vice-governador de São Paulo assuma interinamente o governo estadual, na ausência do titular, que irá à França participar da apresentação da candidatura da maior cidade brasileira à sede da Expo 2020. A exoneração atende “pedido” do ministro, que deixa o cargo temporariamente e pode assumir o governo de São Paulo, mas ele voltará ao ministério mediante nova nomeação pela presidente, no regresso ao país do governador. A manobra suja se baseia em parecer da Advocacia Geral da União, que teria suscitada a possibilidade da acumulação dos cargos de vice e ministro desde que ele deixasse a pasta federal quando tivesse que assumir interinamente o governo de São Paulo. Os atos de exoneração e nova nomeação para o cargo de ministro não passa de verdadeiro atestado da ambição humana, com o misto de promiscuidade que somente deve acontecer por meio de conchavos alinhavados por políticos que menosprezam os princípios ideológicos e democráticos que deveriam primar os interesses dos homens públicos, porquanto os governos envolvidos são de partidos distintos. Nunca o ditado popular de que quem ver cara não ver coração foi tão apropriado para o caso desse inescrupuloso cidadão, que acaba de protagonizar estranho episódio na administração pública, ao confirmar o fiel retrato da prática da pior politicagem tupiniquim, onde os políticos prometem respeito à ética, honestidade, enfim, observância aos princípios morais ínsitos dos homens públicos, mas, n realidade, cada procedimento deles somente confirma, sem novidade, que são todos iguais em mentalidade pública, ao porem seus interesses acima de qualquer princípio ético e suas vocações políticas exclusivamente em função do poder, como comprova o caso em comento. Como se já não bastasse aquele ministério ter sido criado em troca do apoio do partido do ministro aético, o governo com um pouco de responsabilidade ética e moral se envergonharia de cometer ilicitude tão indigna, politicamente falando, porque isso demonstra desvio de conduta de retidão que não se coaduna com os propósitos da administração pública, que se fundamenta, entre outros princípios, na legalidade, moralidade e completa ausência de atos suspeitos de desvio ético. Um país sério, com pretensões de conquistar respeito em decorrência dos procedimentos dos seus governantes, não pode permitir que os homens inescrupulosos e irresponsáveis engendrem fórmulas mágicas capazes de distorcer as ações morais e éticas a seu bel-prazer, em detrimento dos princípios edificantes da democracia. Aliás, essas manobras escandalosas são próprias de governos de republiquetas das bananas, onde as regras da administração pública são formuladas para o atendimento das necessidades casuais e momentâneas dos interesses da politicagem dominante, em menosprezo aos princípios que regem o interesse público. Convém que esse lamentável fato sirva para que a sociedade se conscientize sobre a real necessidade de o voto se tornar importante para a valorização dos princípios éticos, mediante o expurgo da vida pública das pessoas despreocupadas e deselegantes quanto ao cumprimento dos preceitos indispensáveis ao engrandecimento dos sentimentos de moralização da administração pública e ao fortalecimento da democracia. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 07 de junho de 2013

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