quinta-feira, 20 de junho de 2013

Arrogância, desprezo, incompetência, hipocrisia...

A presidente da República elogiou as manifestações pacíficas que tomaram conta das principais capitais brasileiras, afirmando que "O Brasil hoje acordou mais forte. A grandeza das manifestações de ontem comprovam a energia da nossa democracia, a força da voz da rua, e o civismo da nossa população". Desta vez, ela pôde discursar em paz, tendo sido interrompida por aplausos da plateia, obviamente constituída por políticos. E continuou: "É bom ver tantos jovens e adultos, o neto, o pai, o avô, juntos, com a bandeira do Brasil cantando o hino nacional dizendo com orgulho ‘sou brasileiro’ e defendendo um país melhor. O Brasil tem orgulho deles.". A presidente acha que "essas vozes das ruas precisam ser ouvidas", por ultrapassarem os "mecanismos tradicionais das instituições, dos partidos políticos, das entidades de classe e da própria mídia". "Os que foram ontem às ruas deram mensagem direta ao conjunto da sociedade, sobretudo aos governantes de todas as instâncias. Essa mensagem é por mais cidadania, melhores escolas, melhores hospitais, direito a participação. Essa mensagem direta das ruas mostra a exigência de transporte público de qualidade e a preço justo, essa mensagem direta das ruas é pelo direito de influir nas decisões de todos os governos, do Legislativo e do Judiciário, é de repudio à corrupção e de uso indevido do dinheiro público".  Interrupção, para aplausos da plateia. E continuou: "Essa mensagem comprova o valor intrínseco da democracia, da participação dos cidadãos em busca de seus direitos, a minha geração sabe quanto isso nos custou". Ele se referiu a um cartaz que dizia: "Desculpe o transtorno, estamos mudando o País", Dilma afirmou: "Quero dizer que o meu governo está ouvindo essas vozes pelas mudanças, está empenhado com a transformação social, a começar pela elevação de 40 milhões de pessoas à classe média, com o fim da miséria, o meu governo quer ampliar o acesso à educação e à saúde, compreende que as exigências da população mudam". E conclui dizendo que o seu governo elevou a renda e o acesso ao emprego, dando às pessoas mais educação. "Surgiram cidadãos que querem mais e têm direito a mais, sim, todos nós estamos diante de novos desafios. Quem foi ontem às ruas quer mais, mais saúde, educação, mais oportunidades, eu quero aqui garantir que o meu governo também quer mais e que vamos conseguir mais para o nosso País e para o nosso povo". Quem ousar tentar interpretar atentamente, palavra por palavra, o discurso da presidente, vai perceber com facilidade seu altíssimo grau de hipocrisia, quando ela reconhece, com muita autoridade, a legitimidade das manifestações e a forma adequada dos protestos, deixando claro que compreendeu com absoluta clareza os objetivos da sociedade, mas o seu sarcasmo contra os manifestantes e os que a criticam fica patenteada no momento da sua conclusão, quando declara que seu governo está ouvindo as vozes pelas mudanças e pretende ampliar o acesso à educação e à saúde, ou seja, ela se esforça em fazer um discurso de estadista, mencionando nos mínimos detalhes as verdadeiras mazelas que motivaram a indignação social, que implicam no imediato comprometimento para equacioná-las, com vistas à sua solução. Infelizmente, ela finaliza o discurso com o firme desprezo às causas sociais emergentes e o convicto entendimento de que os protestos não dizem respeito ao seu governo, porque, nele, na sua opinião, o país teve transformação social, inclusive as pessoas estão mais educadas e vivendo melhor, fatos, aliás, contraditórios em relação às avaliações de organismos da ONU, que apontam o Brasil em 172ª posição, entre 186 países, em termos de educação das crianças, ficando ao lado do Zimbábue, na África, e em 85ª posição no IDH 2013, quando se trata do comparativo de bem-estar das pessoas, o que bem demonstra o nível do alarmante atraso do povo, que paga carga tributária altíssima, mas fica evidenciada a péssima administração dos recursos da 6ª economia mundial. No discurso, a presidente não fez menção ao fato de já ter antecipado seu projeto da reeleição, lançado em meio ao processo de aliciamento dos partidos aliados, com o inescrupuloso e indigno fisiologismo caracterizado pela entrega dos órgãos e das empresas públicos aos partidos da coalizão de governo, em indecente troca de apoio, tudo pela perpetuação no poder. Ela também não fez menção às questões suscitadas pela sociedade, que precisam ser solucionadas com a máxima urgência, em especial quanto à moralização do governo; à eficiência da máquina pública, com o seu enxugamento; ao expurgo do escandaloso fisiologismo; à priorização das políticas públicas; às reformas estruturais etc., por terem reflexo direto na economicidade da aplicação dos recursos públicos e estarem atrelados ao exclusivo atendimento do interesse público, que não poderiam ficar à margem da elevada avaliação da presidente. Esse fato equivale à confirmação da continuidade da promíscua e má gestão do dinheiro do povo, que não terá o devido regramento nos fins públicos, em evidente demonstração de afronta aos preceitos da administração pública. A sociedade repugna a forma nitidamente ineficiente, imprudente, incompetente e ilegítima como o país vem sendo administrado e exige que os recursos públicos sejam aplicados na estrita observância aos princípios da administração pública, conforme os preceitos da ética, moralidade, legalidade, probidade, economicidade e transparência, como forma de satisfazer aos ditames constitucionais e legais, em harmonia com o interesse nacional. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 19 de junho de 2013

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