A presidente da
República elogiou as manifestações pacíficas que tomaram conta das principais
capitais brasileiras, afirmando que "O
Brasil hoje acordou mais forte. A
grandeza das manifestações de ontem comprovam a energia da nossa democracia, a
força da voz da rua, e o civismo da nossa população". Desta vez, ela
pôde discursar em paz, tendo sido interrompida por aplausos da plateia,
obviamente constituída por políticos. E continuou: "É bom ver tantos jovens e adultos, o neto, o pai, o avô, juntos, com a
bandeira do Brasil cantando o hino nacional dizendo com orgulho ‘sou
brasileiro’ e defendendo um país melhor. O Brasil tem orgulho deles.".
A presidente acha que "essas vozes
das ruas precisam ser ouvidas", por ultrapassarem os "mecanismos tradicionais das instituições,
dos partidos políticos, das entidades de classe e da própria mídia". "Os que foram ontem às ruas deram mensagem
direta ao conjunto da sociedade, sobretudo aos governantes de todas as
instâncias. Essa mensagem é por mais cidadania, melhores escolas, melhores
hospitais, direito a participação. Essa mensagem direta das ruas mostra a
exigência de transporte público de qualidade e a preço justo, essa mensagem
direta das ruas é pelo direito de influir nas decisões de todos os governos, do
Legislativo e do Judiciário, é de repudio à corrupção e de uso indevido do
dinheiro público". Interrupção,
para aplausos da plateia. E continuou: "Essa mensagem comprova o valor intrínseco da democracia, da
participação dos cidadãos em busca de seus direitos, a minha geração sabe
quanto isso nos custou". Ele se referiu a um cartaz que dizia: "Desculpe o transtorno, estamos mudando o
País", Dilma afirmou: "Quero dizer que o meu governo está ouvindo
essas vozes pelas mudanças, está empenhado com a transformação social, a
começar pela elevação de 40 milhões de pessoas à classe média, com o fim da
miséria, o meu governo quer ampliar o acesso à educação e à saúde, compreende
que as exigências da população mudam". E conclui dizendo que o seu
governo elevou a renda e o acesso ao emprego, dando às pessoas mais educação. "Surgiram cidadãos que querem mais e têm
direito a mais, sim, todos nós estamos diante de novos desafios. Quem foi ontem
às ruas quer mais, mais saúde, educação, mais oportunidades, eu quero aqui
garantir que o meu governo também quer mais e que vamos conseguir mais para o
nosso País e para o nosso povo". Quem ousar tentar interpretar
atentamente, palavra por palavra, o discurso da presidente, vai perceber com facilidade
seu altíssimo grau de hipocrisia, quando ela reconhece, com muita autoridade, a
legitimidade das manifestações e a forma adequada dos protestos, deixando claro
que compreendeu com absoluta clareza os objetivos da sociedade, mas o seu
sarcasmo contra os manifestantes e os que a criticam fica patenteada no momento
da sua conclusão, quando declara que seu governo está ouvindo as vozes pelas
mudanças e pretende ampliar o acesso à educação e à saúde, ou seja, ela se
esforça em fazer um discurso de estadista, mencionando nos mínimos detalhes as
verdadeiras mazelas que motivaram a indignação social, que implicam no imediato
comprometimento para equacioná-las, com vistas à sua solução. Infelizmente, ela
finaliza o discurso com o firme desprezo às causas sociais emergentes e o convicto entendimento de que os protestos não dizem
respeito ao seu governo, porque, nele, na sua opinião, o país teve
transformação social, inclusive as pessoas estão mais educadas e vivendo melhor, fatos, aliás, contraditórios
em relação às avaliações de organismos da ONU, que apontam o Brasil em 172ª
posição, entre 186 países, em termos de educação das crianças, ficando ao lado
do Zimbábue, na África, e em 85ª posição no IDH 2013, quando se trata do comparativo
de bem-estar das pessoas, o que bem demonstra o nível do alarmante atraso do povo, que paga
carga tributária altíssima, mas fica evidenciada a péssima administração dos recursos da 6ª economia
mundial. No discurso, a presidente não fez
menção ao fato de já ter antecipado seu projeto da reeleição, lançado em meio
ao processo de aliciamento dos partidos aliados, com o inescrupuloso e indigno
fisiologismo caracterizado pela entrega dos órgãos e das empresas públicos aos
partidos da coalizão de governo, em indecente troca de apoio, tudo pela perpetuação
no poder. Ela também não fez menção às questões suscitadas pela sociedade, que
precisam ser solucionadas com a máxima urgência, em especial quanto à
moralização do governo; à eficiência da máquina pública, com o seu enxugamento;
ao expurgo do escandaloso fisiologismo; à priorização das políticas públicas; às
reformas estruturais etc., por terem reflexo direto na economicidade da
aplicação dos recursos públicos e estarem atrelados ao exclusivo atendimento do
interesse público, que não poderiam ficar à margem da elevada avaliação da presidente.
Esse fato equivale à confirmação da continuidade da promíscua e má gestão do
dinheiro do povo, que não terá o devido regramento nos fins públicos, em
evidente demonstração de afronta aos preceitos da administração pública. A
sociedade repugna a forma nitidamente ineficiente, imprudente, incompetente e
ilegítima como o país vem sendo administrado e exige que os recursos públicos
sejam aplicados na estrita observância aos princípios da administração pública,
conforme os preceitos da ética, moralidade, legalidade, probidade,
economicidade e transparência, como forma de satisfazer aos ditames
constitucionais e legais, em harmonia com o interesse nacional. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR
FERNANDES
Brasília, em 19 de
junho de 2013
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