domingo, 16 de junho de 2013

Vaias, merecimento ou desrespeito?

Por ocasião da abertura da Copa das Confederações, a presidente da República foi uníssona e solenemente vaiada no momento do anúncio do seu nome, antes da partida entre Brasil e Japão, no Estádio Nacional Mané Garrincha, que teve o custo de construção pelos bestas dos contribuintes no astronômico valor de R$ 1,5 bilhão. O presidente da Fifa, também considerado não menos simpático, recebeu as manifestações de vaias dos torcedores. No seu breve discurso, quando fez menção ao nome da presidente do Brasil, significativa parcela dos torcedores a vaiou efusivamente, no que ele cobrou respeito do público, ao dizer: - Amigos do futebol brasileiro, onde estão o respeito e o fair-play, por favor? O “todo-poderoso” do PT passou por constrangimento análogo na abertura dos jogos Pan-Americanos, no Rio de Janeiro. Não há dúvida de ser bastante lamentável que o mundo assista ao espetáculo tão deprimente envolvendo a mandatária do país, sem que seja devidamente esclarecido sobre o real motivo dos apupos. Pode-se até haver conclusão precipitada quanto à possível falta de educação do torcedor tupiniquim, mas seria importante que os meios de comunicação pudessem esclarecer que se trata, na realidade, de governante técnico e politicamente fragilizado pela contaminação de atos extremamente recriminados e inadmissíveis em países com o mínimo de seriedade. A pessoa que tem a incumbência de administrar o Brasil não pode ser leniente com os corruptos do mensalão e outros; não deveria ter apoiado os presidentes do Senado e da Câmara, diante das suas fichas sujas; não pode manter o mais indigno fisiologismo da história da República, ao lotear os ministérios e as empresas estatais entre os partidos aliados, em espúria troca de apoio para assegurar a perenidade no poder; não pode descurar das políticas públicas essenciais, como saúde, segurança pública, educação, infraestrutura, saneamento básico etc., em privilégio da Copa do Mundo de Futebol. Possa até ser que alguém, de índole ingênua e desinformada, se arrisque a sugerir, ante o ocorrido, que o Brasil precisa evoluir muito, em termos de cultura e civilidade, mas, na verdade, o país somente alcançará desenvolvimento, inclusive cultural, quando a classe política e os governantes tiverem a evolução capaz de entender que os métodos retrógrados do coronelismo e do fisiologismo ideológico fazem parte da era da pedra lascada, que não podem mais ser utilizados para a satisfação de interesses pessoais, por não condizerem com os sadios princípios da modernidade democrática. O discurso que seria feito pela presidente, certamente para enaltecer o “empenho” do governo petista para a realização da Copa do Mundo de Futebol, foi omitido abruptamente por conveniência, porque ele seria pronunciado na presença de público que não foi, como é da praxe, previamente selecionado pelos assessores palacianos. As pessoas presentes no Mané Garrincha, instruídas e conhecedoras das mazelas que assolam o país, demostraram discordância da priorização dada pelo governo ao aludido evento, que nada agrega às condições de vida dos brasileiros, salvo o comprometimento de recursos que deviam ter aproveitamento nos programas úteis para os brasileiros. As vaias são o termômetro que indica a real insatisfação popular sobre o frágil desempenho presidencial, que se alimenta de ilusão advinda das pesquisas feitas possivelmente entre pessoas sem qualificação sobre a real gestão do país, mas parece ter o poder de influenciar a comodidade do governo, por imaginar que o mero populismo, conquistado com a distribuição de bolsas e benesses políticas, é capaz de sustentar a sua atuação corroída pela aversão à competência gerencial, à ética e à moral. Nunca na história deste país um presidente da República demonstrou para o mundo tamanha indignação, que certamente não compreendeu e jamais entenderá que as vaias tinham reais motivos para enraivecer a presidente. No caso, o governo não teve competência para fazer o dever de casa, com a promoção de reformas estruturais capazes de beneficiar a produção nacional e o progresso do país; a eliminação do indecente fisiologismo ideológico e a corrupção no serviço público; a priorização dos serviços públicos da sua competência; antes de assumir a irresponsabilidade de patrocinar a Copa do Mundo de Futebol, absolutamente dispensável. Nos países culturalmente desenvolvidos, não há espaço para vaias, porquanto a sua legislação prevê o afastamento do governante que não satisfaça aos rigores dos interesses nacionais. A presidente da República certamente será ovacionada, aplaudida e venerada quando ela e seu partido se conscientizarem que a realização de eventos megalomaníacos, com custos suntuosos pelos otários dos contribuintes, somente poderiam ser realizados no Brasil após a autossuficiência de bons e eficientes portos, aeroportos, ferrovias e estradas, para escoar a produção e propiciar segurança à população; o atendimento médico-hospitalar satisfatório; a melhoria da educação; a garantia de segurança pública à prova de violência; as reformas estruturais imprescindíveis ao desenvolvimento do país; e o saneamento das crônicas mazelas sociais. Diferentemente disso, as críticas devem ser consideradas forma democrática e legítima de a sociedade manifestar insatisfação diante de procedimentos que não condizem com os interesses nacionais.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 14 de junho de 2013

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