Por “sábia” orientação
do Itamaraty, o governo passou a classificar como sigilosos os documentos
referentes às viagens para o exterior da presidente e do vice-presidente da
República, enquanto eles estiverem nos cargos. Isso significa que as
informações pertinentes a essas autoridades somente poderão ser ostensivas após
a sua saída do Palácio do Planalto, em 31 de dezembro de 2014, ou, possivelmente,
de 2018. Depois de tanto serem questionadas sobre os gastos no exterior com as
injustificáveis comitivas presidenciais, compostas normalmente por asseclas e
assemelhados sem qualquer vínculo com a finalidade da viagem, o governo
resolveu ocultar da imprensa e da opinião pública as gastanças e os
desperdícios descontrolados, de modo que a oposição não possa explorar, na
campanha presidencial do próximo ano, a forma promíscua como o dinheiro público
está sendo gasto sem a parcimônia que se exige de quem tem a incumbência de
gerenciar o patrimônio público. A chancela de “reservado” nos documentos referentes
às despesas com as viagens presidenciais ao exterior obriga sigilo de cinco
anos, mas, se eles forem classificados como secretos, o sigilo será de quinze
anos ou de vinte e cinco anos, caso eles recebam o carimbo de ultrassecretos. A
manobra “itamaratyana” ou o famoso jeitinho brasileiro tem como justificativa a
bisonha e infundada alegação da segurança, com amparo na Lei de Acesso à
Informação, que possibilita classificar os documentos oficiais sob o sigilo
compatível com os cargos exercidos pelos presidente e vice da República, até
que os titulares os deixem, ante a necessidade de não pô-los em risco, cuja
proteção se estende aos seus cônjuges e filhos. Segundo o Itamaraty, “as medidas de reclassificação são feitas em
estrito cumprimento à Lei de Acesso à Informação", mas a chancelaria
não informou a origem dessa mágica e espetacular ordem para esconder os
escandalosos gastos com as desmedidas viagens presidenciais para o exterior e o
verdadeiro motivo pelo qual a medida foi adotada somente agora. Em nota, o
governo esclareceu que a Lei de Acesso à Informação determina "que o acesso agora é a regra e o sigilo
passou a ser a exceção.” e que, na prática, a regra é de que qualquer
informação sobre viagens da presidente e do vice ao exterior não será alcançada
pela aludida lei, enquanto eles estiverem nos cargos. A decisão de esconder o
escandaloso tamanho da fatura demonstra, de forma cristalina, que tem algo
muito sujo no reino do socialismo tupiniquim, que não pode ser exposto sobre o
tapete palaciano, para que a oposição não possa exercer sua função
constitucional de fiscalizar as ações do governo. Isso afronta os comezinhos
princípios democráticos e corrompe seus pilares, a ponto de desacreditar e
macular completamente o sublime ritual de transparência que se espera do
principal poder da República, que tem o dever constitucional e legal de servir
de norte para a administração pública, como fazem naturalmente os países
civilizados e desenvolvidos. A omissão da transparência sobre a execução da
despesa pública objetiva mutilar o princípio previsto na Carta Magna que obriga
a prestação de contas, fato que evidencia crime de responsabilidade, pela
patente deliberação de ter a liberdade de abusar descontrolada e
inescrupulosamente do dinheiro público. Em se tratando da execução de recursos
públicos, para custear despesas de comitiva, a princípio, a serviço da pátria,
a falta de transparência traduz-se na completa negação da imprescindível
prática da democracia, como forma de justificar a viagem em consonância com o
interesse do país e a boa e regular destinação dos tributos pagos pelos otários
dos contribuintes. Diferentemente disso e na forma vergonhosa do sigilo
aprovado pelo governo, não há dúvida de que, se antes havia farra com o
dinheiro pública, a última viagem presidencial a Roma, com diária de R$ 7,8 mil,
passa a ser mera brincadeirinha, ante a impossibilidade de, doravante, serem aquilatados
os abusos, os desperdícios e as exorbitâncias com recursos públicos. No Estado
Democrático de Direito, o administrador público tem o dever de prestar contas à
sociedade sobre seus atos, cabendo aos órgãos de controle e fiscalização
atestarem a regularidade da aplicação dos gastos do governo, sem embargo de que
a sociedade deva exigir que o gestor público cumpra a obrigação constitucional
de comprovar a legitimidade dos seus atos. Urge que o socialismo palaciano
tenha a dignidade de provar e informar à sociedade que seus atos estão
revestidos de lisura e guardam conformidade com o interesse público, de modo a satisfazer
aos consagrados princípios da administração pública, em especial a legalidade,
transparência e economicidade, preceitos inarredáveis das pessoas públicas.
Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de junho de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário