sexta-feira, 28 de junho de 2013

O povo no comando da reforma política

O governo declarou que o plebiscito deverá "nortear" a reforma política, mas a "palavra final" será do Congresso Nacional sobre a legislação que vier a formalizá-la. Segundo um ministro negociador político da reforma, as questões “centrais” da reforma contarão com a opinião dos eleitores, porque o “Um plebiscito com milhões de participantes tem que ir ao cerne do problema. Vamos tratar do que é essencial, das balizas. O plebiscito vai nortear a reforma, balizar a reforma”. Segundo ele, deverá ser respeitado o mandamento constitucional, ao definir que somente o Congresso tem competência para fazer a lei eleitoral e qualquer mudança constitucional, motivo pelo qual cabe a ele dar a palavra final. Etimologicamente, plebiscito significa consulta ao povo para opinar sobre matéria de relevância política, com vistas ao balizamento de medidas a serem adotadas pela administração pública. No caso, para nortear a reforma política tão ansiada pela sociedade, que já não aguenta nem falar no vergonhoso e desmoralizado sistema político que tem servido de proteção para políticos que não dignificam as funções públicas eletivas. A intenção do governo, já adiantada, é promover um plebiscito para que o povo se manifeste, pasmem, a respeito de “duas diretrizes essenciais”, quais sejam, financiamento de campanha (se público, privado ou misto) e sistema de votação (se proporcional ou distrital), com a possibilidade de que o Congresso poderá, "em tese", não considerar a vontade popular. Causa espécie, para não dizer tremenda frustração, verificar que a incompetência palaciana suscita reforma política e apresenta como vexatória consulta aos eleitores sobre poucas diretrizes. Esse governo está zombando da inteligência da sociedade e menosprezando a sua capacidade de decidir sobre os altos interesses nacionais. Essa iniciativa de plebiscito é evidente demonstração de incapacidade e incompetência de reformular e modernizar o sistema político-eleitoral, que exige mexida em todos os tópicos, não somente nas aludidas diretrizes. Convém que também sejam estudadas questões da maior abrangência e da mais elevada relevância, como não obrigatoriedade do voto; fim das coligações partidárias; obrigatoriedade do cumprimento das promessas de campanha, sob pena da perda do mandato; extinção do quociente eleitoral; validade do voto majoritário, independentemente do partido; candidatura avulsa, sem precisar se vinculação a partido; unificação das eleições; extinção da reeleição; limite de ocupação de cargos de parlamentares; extinção da suplência senatorial; perda de mandato de quem se eleger para um cargo e assumir função no Executivo; perda automática de mandato do político corrupto; drástica redução da quantidade de senadores, deputados federais e estaduais e vereadores; obrigatoriedade de trabalho de quarenta horas semanais para políticos; estabelecimento de única remuneração para parlamentares, sem direito às esdrúxulas ajudas, verbas de representação, auxílios e outras injustificáveis mordomias impróprias à dignidade do servidor público; entre outros temas capazes de moralizar o ultrapassado e desatualizado sistema político-eleitoral brasileiro. Não há dúvida de que o governo não tem consciência sobre os elevados gastos e o pífio resultado sobre limitadíssimas questões a serem respondidas pelos eleitores, de forma inconsistente, sobre matéria tão importante para uma gigante nação, que merece uma reforma decente, digna e moderna e que não permita a continuidade de políticos exercendo cargos públicos sem a menor qualificação e despreparo quanto à sensibilidade sobre as reais causas nacionais. A propósito, é notório que os congressistas já demonstraram a sua "capacidade" de legislar em causa própria e em defesa de seus legítimos interesses, fatos reprováveis à vista de serem os “lídimos” representantes do povo, cujas indignas atuações como parlamentares não recomendam em absoluto que eles sequer formulem o novo código eleitoral e partidário a ser-lhes aplicado. Trata-se de clara inversão natural da ordem lógica dos valores éticos e morais. Somente o povo tem competência para formular o sistema político-partidário-eleitoral, cabendo aos congressistas apenas a sua aprovação. Esse Congresso, totalmente desacreditado, corroído e poluído pelas práticas inescrupulosas, não tem competência nem moral para promover reforma do sistema político-eleitoral, conforme evidencia seu questionável desempenho e aferrada submissão ao fisiologismo como ideologia política, em contraste com os princípios democráticos de respeito à ética, ao decoro e ao zelo pela coisa pública. Somente o povo, fonte primária da democracia, por ser quem elege seus representantes e tem a obrigação de pagar os absurdos e injustificáveis vencimentos dos políticos, tem competência para organizar, de forma isenta e imparcial, sistema político confiável e eficiente. A sociedade anseia por que a tão desejada reforma política seja conduzida exclusivamente pelo povo, com a contribuição de organismos civis e jurisconsultos especializados, inclusive em Direito Eleitoral, sem a participação de entidades ou pessoas diretamente interessadas no seu resultado, de maneira que somente o país e a população se beneficiem, com a efetividade almejada, de legislação moderna e de vanguarda, em termos de funcionalidade positiva do sistema político-eleitoral. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 27 de junho de 2013

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