Na tentativa de surfar
nas ondas das eficientíssimas manifestações de protestos contra os desmandos na
administração púbica do país, muitos partidos políticos pretenderam infiltrar
seus filiados e militantes nos movimentos, com a finalidade de se associar à
causa em prol das mudanças pretendidas pelos organizadores desse agradável
movimento social. Entretanto, de forma surpreendente, os manifestantes
hostilizaram e rechaçaram a participação desses militantes, inclusive queimando
as bandeiras que eles conduziam, sob a alegação de que os protestos são
apartidários e não conviria que houvesse confusão quanto aos verdadeiros
propósitos sobre os objetivos a serem alcançados. Há quem diga que os movimentos
são liderados por grupos de extrema direita, sem filiação a partidos políticos,
levando a acreditar que se trate de células com pensamento de ideologia
conservadora e reacionária, à vista da queima de bandeiras de partidos
políticos, como forma de intolerância própria de fascistas. Isso não passa de
mera fantasia sociológica, porquanto as manifestações são fruto da extrema
indignação social, diante do desgoverno e da incompetência quanto ao emprego
dos recursos públicos. Há razões de brasilidade para os protestos,
independentemente de filiação partidária, haja vista a obscuridade e o descaso às
prioridades e ao atendimento das carências da sociedade, em contraposição às
facilidades para o cumprimento das vaidades dos inescrupulosos e indecorosos
políticos, a exemplo da prescindível Copa do Mundo, com recursos públicos. Embora
as manifestações tenham se iniciado com o objetivo de tratar da questão
referente ao preço da tarifa do transporte em São Paulo, o crescente e
inesperado número das pessoas suscitou demandas bem mais amplas, passando a
figurar as questões sobre a PEC 37, os casos de corrupção, os gastos abusivos
com a organização da Copa do Mundo e as precariedades na nas políticas
públicas, como a saúde, educação segurança etc., sobressaindo nesse episódio a
dominação da juventude, que não pôde evitar a participação de arruaceiros, que passaram
a agir de forma violenta e provocativa, com depredação de prédios públicos e
patrimônio particular, em total contrariedade aos objetivos originais dos
movimentos. Na realidade, as manifestações expõem com clareza a total descrença
nas agremiações partidárias, diante das suas práticas degenerativas e
desrespeitosas aos princípios democráticos, em especial quanto à inobservância dos
princípios da ética, da moralidade e do decoro, comprometendo a dignidade que
se impõe na gestão dos recursos públicos e no exercício das funções de cargos
públicos eletivos. O Brasil
está precisando de urgente reforma político-eleitoral, como mecanismo imprescindível
de adequação da realidade brasileira aos novos tempos de modernidade científica
e tecnológica, que não têm espaço nem vez às retrógradas politicagens do
coronelismo, do fisiologismo e do toma lá, dá cá, práticas que acontecem, no
presente, com banalidade na administração pública, em total deformação do que
se espera de uma sociedade evoluída e consciente da sua responsabilidade
cívica. Na atualidade, espera-se da classe política respeito à dignidade no
exercício das funções públicas, em estrita observância aos princípios
democráticos da ética, moralidade e legalidade, os quais são repudiados pelos políticos,
que são elevados, inexplicavelmente, aos patamares de verdadeiros deuses do
Olimpo, ante a inexistência do indispensável controle social sobre a sua
atuação, por não serem submetidos à imposição de nenhuma regra de conduta, que
deveriam existir como forma salutar de comportamento na vida pública, obrigando
a sua equiparação àqueles que, pelo voto universal, os fizeram seus lídimos
representantes. No entanto, os fatos mostram que os políticos, por força da
eleição, são transformados em legítimos representantes dos próprios interesses,
em completa inversão dos valores democráticos e da ordem natural do sistema
político, que tem como pressuposto o atendimento do interesse público. A
sociedade anseia por que essa absurda situação seja modificada com urgência, mediante
completas e abrangentes reforma político-eleitoral e renovação da classe
política dominante, para que o país possa tomar o verdadeiro rumo da seriedade,
da moralização e do desenvolvimento socioeconômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 23 de junho de 2013
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