quarta-feira, 12 de junho de 2013

Megalomania da incompetência

Há coisas que somente acontecem nas terras brasis, a exemplo dessa famigerada Copa do Mundo de Futebol, que o governo se empenhou até a alma, destinando, sem critérios técnicos, montanhas de dinheiros com a priorização da construção e reformas de megaestádios, concluídos com base em projetos grandiosos e sofisticados, objetivando superar os modernos estádios dos países desenvolvidos econômica e esportivamente. Causar inveja parece ter sido o propósito dos idealizadores dessas obras, para mostrar ao mundo competência da sua engenhosa megalomania, na construção de estádios de primeira grandeza. Agora, no que diz respeito à eficiência no quesito utilização desses estádios, a maioria, com certeza, não tem como justificar os astronômicos gastos, porque sua capacidade nunca será preenchida no campeonato local, a exemplo do Mané Garrincha, uma vez que a média de comparecimento não atinge 900 pessoas por jogo, fato a se lamentar que o formoso templo do futebol, depois da copa, ficará sob cuidado e zelo dos insetos e roedores, mas, em compensação, os bestas dos contribuintes, que já arcaram com os altíssimos custos da construção, serão obrigados a se responsabilizar pelas “módicas” despesas de manutenção. Na construção dos fantásticos estádios, os governantes não atentaram para o fato de que os belos estádios europeus acomodam não menos do que 60 mil frequentadores por jogo, o que justifica os altos investimentos na sua construção e manutenção. Os contrastes refletem a gritante incompetência dos nossos governantes, que esbanjaram montanhas de recursos para a realização de suntuosas obras para o atendimento do capricho de governante megalomaníaco, que queria realizar a copa a qualquer custo, em prejuízo das prioridades nacionais, que podem ficar em planos secundários. A maior gravidade dessa insensatez é a nação ser obrigada a arcar com dispêndios altíssimos para a realização de evento que terá duração de apenas um mês, cujos benefícios, se houver, jamais compensarão o enorme sacrifício da sociedade. Também há verdadeiro exagero no planejamento e na concepção da descomunal estrutura dos estádios, por ser incompatível com a realidade das condições de vida dos brasileiros, que, na sua expressiva maioria, padece de carências essenciais, sobressaindo a eterna precariedade da saúde pública, representada pela crônica enfermidade do atendimento médico-hospitalar, que contribui para que a população fique ainda mais adoentada diante das más condições dos hospitais, sempre lotados e impotentes para atender a demanda em ritmo de crescimento constante. Custa acreditar que os governantes não se conscientizem sobre o real sofrimento do povo, ao priorizar obras faraônicas, com expressivas verbas públicas, cujo investimento não resultará o mínimo benefício para a sociedade e oxalá para o país, quando os recursos aplicados nos estádios seriam bastante úteis no saneamento de algumas necessidades sociais. Na verdade, a leniência da sociedade com a incompetência gerencial do país permite que os maus gestores públicos se mantenham no poder por muito mais tempo do que o tolerável, em nítido prejuízo aos interesses nacionais e às políticas públicas, que deveriam ser executadas, de forma prioritária, para a melhoria das condições de vida da população desassistida. No Distrito Federal, o governo, além de torrar mais de um bilhão de reais com o Mané Garrincha, ainda tem a petulância de veicular publicidade na mídia, também com dinheiro do povo, para promover a “eficiência” da sua gestão, tendo por foco a construção desse estádio, como se ele trouxesse algum benefício para a sociedade. No último jogo, com renda superior a seis milhões de reais, o aluguel pelo uso do monumento público foi, pasmem, de tão somente quatro reais, o que dimensiona o tamanho da ineficiência do serviço público. Também é curioso se verificar que o povo constrói o estádio, mas é obrigado a pagar entrada, em valor de até R$ 350,00, para assistir aos jogos e os lucros dos eventos vão para os empresários. Ao final de conversa, ainda aparece um cidadão, na publicidade, atestando o conforto da poltrona e outro anunciando: “GDF chega junto de quem mais precisa”, ou seja, o governo ainda tem a cara de pau de debochar e zombar da ingenuidade dos cidadãos que são obrigados a pagar elevados tributos, inclusive para enterrar em estádios inúteis. Enquanto sobra “competência” para construir estádios de conforto superior às arenas do primeiro mundo, o povão padece das costumeiras dificuldades com a fartura do caos que grassa o país. Urge que a sociedade reavalie e valorize o seu precioso voto, de modo que seus representantes, escolhidos pelo sufrágio universal, sejam capazes de dignificar o exercício do cargo público, cumprindo seu mandato em estrita observância aos relevantes princípios em defesa do interesse público. Acorda, Brasil!    
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 11 de junho de 2013

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