Há coisas que somente acontecem
nas terras brasis, a exemplo dessa famigerada Copa do Mundo de Futebol, que o
governo se empenhou até a alma, destinando, sem critérios técnicos, montanhas
de dinheiros com a priorização da construção e reformas de megaestádios, concluídos
com base em projetos grandiosos e sofisticados, objetivando superar os modernos
estádios dos países desenvolvidos econômica e esportivamente. Causar inveja
parece ter sido o propósito dos idealizadores dessas obras, para mostrar ao
mundo competência da sua engenhosa megalomania, na construção de estádios de
primeira grandeza. Agora, no que diz respeito à eficiência no quesito
utilização desses estádios, a maioria, com certeza, não tem como justificar os
astronômicos gastos, porque sua capacidade nunca será preenchida no campeonato
local, a exemplo do Mané Garrincha, uma vez que a média de comparecimento não
atinge 900 pessoas por jogo, fato a se lamentar que o formoso templo do
futebol, depois da copa, ficará sob cuidado e zelo dos insetos e roedores, mas,
em compensação, os bestas dos contribuintes, que já arcaram com os altíssimos
custos da construção, serão obrigados a se responsabilizar pelas “módicas”
despesas de manutenção. Na construção dos fantásticos estádios, os governantes não
atentaram para o fato de que os belos estádios europeus acomodam não menos do
que 60 mil frequentadores por jogo, o que justifica os altos investimentos na
sua construção e manutenção. Os contrastes refletem a gritante incompetência
dos nossos governantes, que esbanjaram montanhas de recursos para a realização
de suntuosas obras para o atendimento do capricho de governante megalomaníaco,
que queria realizar a copa a qualquer custo, em prejuízo das prioridades
nacionais, que podem ficar em planos secundários. A maior gravidade dessa
insensatez é a nação ser obrigada a arcar com dispêndios altíssimos para a
realização de evento que terá duração de apenas um mês, cujos benefícios, se
houver, jamais compensarão o enorme sacrifício da sociedade. Também há verdadeiro
exagero no planejamento e na concepção da descomunal estrutura dos estádios,
por ser incompatível com a realidade das condições de vida dos brasileiros,
que, na sua expressiva maioria, padece de carências essenciais, sobressaindo a
eterna precariedade da saúde pública, representada pela crônica enfermidade do
atendimento médico-hospitalar, que contribui para que a população fique ainda
mais adoentada diante das más condições dos hospitais, sempre lotados e
impotentes para atender a demanda em ritmo de crescimento constante. Custa
acreditar que os governantes não se conscientizem sobre o real sofrimento do
povo, ao priorizar obras faraônicas, com expressivas verbas públicas, cujo
investimento não resultará o mínimo benefício para a sociedade e oxalá para o
país, quando os recursos aplicados nos estádios seriam bastante úteis no
saneamento de algumas necessidades sociais. Na verdade, a leniência da
sociedade com a incompetência gerencial do país permite que os maus gestores
públicos se mantenham no poder por muito mais tempo do que o tolerável, em
nítido prejuízo aos interesses nacionais e às políticas públicas, que deveriam
ser executadas, de forma prioritária, para a melhoria das condições de vida da
população desassistida. No Distrito Federal, o governo, além de torrar mais de
um bilhão de reais com o Mané Garrincha, ainda tem a petulância de veicular
publicidade na mídia, também com dinheiro do povo, para promover a “eficiência”
da sua gestão, tendo por foco a construção desse estádio, como se ele trouxesse
algum benefício para a sociedade. No último jogo, com renda superior a seis
milhões de reais, o aluguel pelo uso do monumento público foi, pasmem, de tão
somente quatro reais, o que dimensiona o tamanho da ineficiência do serviço
público. Também é curioso se verificar que o povo constrói o estádio, mas é
obrigado a pagar entrada, em valor de até R$ 350,00, para assistir aos jogos e
os lucros dos eventos vão para os empresários. Ao final de conversa, ainda
aparece um cidadão, na publicidade, atestando o conforto da poltrona e outro anunciando:
“GDF chega junto de quem mais precisa”,
ou seja, o governo ainda tem a cara de pau de debochar e zombar da ingenuidade
dos cidadãos que são obrigados a pagar elevados tributos, inclusive para
enterrar em estádios inúteis. Enquanto sobra “competência” para construir
estádios de conforto superior às arenas do primeiro mundo, o povão padece das
costumeiras dificuldades com a fartura do caos que grassa o país. Urge que a
sociedade reavalie e valorize o seu precioso voto, de modo que seus
representantes, escolhidos pelo sufrágio universal, sejam capazes de dignificar
o exercício do cargo público, cumprindo seu mandato em estrita observância aos
relevantes princípios em defesa do interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de junho de 2013
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