Este momento
histórico enche de orgulho o povo brasileiro diante do fulgor das manifestações
de protestos, tão benéficas ao aperfeiçoamento do exercício democrático e por
evidenciarem a conscientização da sociedade sobre a verdadeira situação caótica
da administração pública e do sistema político-eleitoral. Essa terrível
degeneração político-administrativa é cristalina, já perdura de longa data e tem
como origem a desvinculação e o descompromisso dos homens públicos com a
dignidade no exercício dos cargos públicos eletivos. Nunca, na história deste
país, o gerenciamento dos recursos públicos estive entregue ao comando de
políticos inescrupulosos e indefesos às negociatas, à corrupção, às falcatruas,
às indecências e aos procedimentos contrários ao interesse público, em evidente
maneira indigna e indecorosa de representar a nobre liturgia dos cargos
públicos eletivos. Os fatos mostram que os políticos brasileiros exercem
funções públicas como se os órgãos e as empresas estatais lhes pertencessem, tendo
plena liberdade para se apoderar a seu bel-prazer e de forma soberana deles e
dos seus recursos, sem a obrigatoriedade da observância aos requisitos técnicos
de eficiência e eficácia nem aos princípios da legalidade, moralidade,
probidade, economicidade e transparência, embora constitucional e legalmente a
eles estejam visceralmente vinculados, não podendo deles se afastar, sob pena
de cometerem crime de responsabilidade. É lamentável que nunca seja aplicada
essa penalidade, devido à incompreensível omissão dos órgãos de fiscalização e
controle, bem assim da oposição ao governo, que nem sempre cumpre o seu dever
institucional. Impressiona a intensidade das manifestações cobrando
providências dos governantes contra o descalabro e a decrepitude da dignidade na
administração pública, desrespeitada sem o menor pudor por eles, que se acham
acima da lei e imunes à obrigação de zelar pela moralidade dos atos públicos. A
escalada dos protestos, embora possa parecer surpreendente, revela de maneira
bem coerente e adequada o tamanho da indignação da sociedade contra os abusos e
o descaso dos homens políticos, que não se envergonham de eleger seus
interesses pessoais e partidários como principais objetivos políticos, principalmente
no que se refere à conquista do poder e à permanência nele, em desprezo às
causas da sociedade, como finalidade primacial. Para tanto, os princípios
éticos são misturados e confundidos com fisiologismo, corrupção e fraqueza
moral, em flagrante desrespeito aos preceitos democráticos. Não deixa de ser
curioso que esse especial engajamento social teve origem com o ato de majoração
da tarifa de ônibus em São Paulo, depois revogado, que foi assinado exatamente
pelo prefeito petista, dando início ao rastilho de pólvora a centelhar para o
resto do país e a acenar que não eram somente por meros vinte centavos que o
Brasil vinha sendo maltratado pelos governantes, mas por outros graves
problemas que afligem a dignidade da gestão pública, consistente no fisiologismo;
na corrupção; na deficiência das políticas públicas, como saúde, educação,
segurança, infraestrutura, saneamento básico, transportes et.; gastos
injustificáveis com a realização da Copa do Mundo de Futebol, entre outras
questões como os altíssimos gastos com os parlamentares, que são exemplo de
desperdício de recursos públicos e de ineficiência de produtividade. Não
obstante, em completa contraposição às auspiciosas manifestações pacíficas,
causa extrema perplexidade a onda de violência e vandalismo totalmente
inadmissível, protagonizada por alguns desequilibrados que aproveitam o momento
especial para mostrar selvageria, em demonstração de insensibilidade com os
patrimônios público e privado, absolutamente sem plausibilidade com os nobres
objetivos das passeatas destinadas à moralização da gestão dos recursos
públicos e da preservação e integridade dos direitos humanos e de propriedade.
A sociedade anseia por que as justas manifestações de protestos contra a forma
de pouco respeito aos princípios da administração pública pelos políticos
pátrios, em evidente afronta à ética, moralidade e legalidade, sirvam de lição
para que as pretendidas mudanças sejam efetivamente promovidas, com a devida
urgência, como forma de contribuir para o aperfeiçoamento e desenvolvimento das
políticas públicas, em benefício da sociedade. Acorda, Brasil.
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de junho de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário