Nos
últimos dias, as bases e os pilares do Palácio do Planalto demonstram visível tremor,
ante a possibilidade de o senador petista preso abrir o verbo e contar, em
delação premiada, sua versão sobre os esquemas de corrupção na administração
petista, à vista da dificuldade da obtenção de habeas corpus, uma vez que ele foi
para o xadrez por ordem justamente de uma turma do Supremo Tribunal Federal,
ficando difícil a apresentação de recurso na mesma corte.
Diante
desse fato, resta ao petista, como esperança de soltura antecipada, a
estratégica delação premiada, por meio da qual se garante, no mínimo, a prisão
domiciliar vigiada pela Justiça, o que não deixa de ser liberdade.
A
bancada petista passa por forte incômodo com a nota divulgada pelo presidente
do PT, que negou solidariedade ao ex-líder do governo no Senado Federal, por
deixar transparecer entre os correligionários que esse fato pode levar o
senador à situação extrema de se sentir totalmente abandonado pelo partido, o
que é realidade inegável.
Na
avaliação de parlamentares, foi constatado que o desprezo do PT é tão visível
que o PMDB tem sido a bancada que demonstrou muito mais cuidado e solidariedade
com o ex-líder do governo.
Como
se sabe, o ex-líder do governo era presença constante no Palácio do Planalto,
tinha proximidade com o petista, ex-presidente da República, em visitas frequentes
ao Instituto do petista, em São Paulo, para encontros políticos, e era também
interlocutor de dois importantes alvos da Operação Lava-Jato, um ex-diretor da
Petrobras e o pecuarista amigo do ex-presidente, os quais o senador tinha a incumbência
de monitorar bem de perto, para não perturbar os interesses do ex-presidente.
O
senador petista poderá ser o primeiro político de peso a fazer delação. Ele é
bem informado, diante da bagagem acumulada nos governos pós-democratização, tendo
dirigido a Eletrosul, comandado o Ministério de Minas e Energia, dirigido a
Diretoria de Gás e Energia da Petrobras, além ter sido líder do PT e do governo
no Senado, ou seja, a sua trajetória é típica de político que sempre esteve
muito próximo ao poder.
Há
forte expectativa de que o senador preso faça delação e envolve diretamente a
presidente petista, por ter sido seu líder no Senado e conhece como ninguém a
trajetória dela na Petrobras, fatos que suscitam muitas interrogações sobre o
que ele possa revelar sobre ela.
Espera-se
que o senador petista decida colaborar com a verdade, mesmo que seu depoimento
jogue fogo no circo, com capacidade para abalar as estruturas dos sistemas
político e administrativo do país, com peso para afetar diretamente os rumos da
Operação Lava-Jato, que precisa momentaneamente de verdadeira sacudidela com
notícias “pombas”, para que as centelhas tragam luzes às investigações.
Diante
dessa teia de conhecimentos e de contatos, o Palácio do Planalto parece temer
que o senador preso e depois de abandonado possa revelar fatos comprometedores
sobre as atividades ilícitas do governo, do ex-presidente e do PT, porque
somente interessam ao Ministério Público Federal ou à Justiça informações
privilegiadas e relevantes que levem a novas investigações, o que seriam, em
caso contrário, completamente dispensáveis a delação, obviamente sem a
apresentação de fatos bombásticos, que não tivessem o peso da bomba atômica para
implodir as estruturas da República.
Com
base nesse quadro nada alentador, que se complicou com o desprezo do PT, o
senador pode tirar o sono de muita gente no Planalto, ante a possibilidade de o
seu depoimento contribuir para o esclarecimento de fatos comprometedores de
pessoas importantes da República, que até agora têm conseguido driblar as
garras afiadas da Operação Lava-Jato, que têm sido perspicazes, mas, até agora,
não conseguiu pô-las sobre muitos, por enquanto, espertos e sagazes.
Fala-se
muito em risco quanto à delação do senador petista, mas sobre, enfim, diante de
quê situação? Acaso o governo tem algo a esconder ou a temer que o senador seja
capaz de assombrar o Palácio do Planalto com seus depoimentos?
À
vista das afirmações vinda do Planalto, o governo tenta ser tão seguro em
alardear que não tem nada a temer ou esconder sobre as podridões oriundas dos
esquemas de corrupção que arrasaram as estruturas da Petrobras.
Se
o governo e o seu partido estivessem tão convictos sobre a sua inculpabilidade
com relação às falcatruas e ao desmazelo na Petrobras e na administração do
país, certamente não haveria nenhum motivo para o Palácio do Planalto ser
alertado nem temer sobre possível delação premiada do senador que acaba de cair
em estado de desgraça, principalmente à vista do velho brocardo de que quem não
deve não teme, não se justificando tamanho e assombroso medo partindo de pessoa
que se encontra esfacelada politicamente. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 12 de dezembro de 2015
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