O presidente do Senado Federal teria sido poupado do
terrível constrangimento de ser acordado, ainda na madrugada, por agentes da
Polícia Federal batendo a sua porta, quando foi deflagrada a Operação Catilinária,
mas a revista ÉPOCA descobriu mais um fato que o perturba
demasiadamente, porque o Supremo Tribunal Federal autorizou, no último dia 9, a
quebra de seus sigilos bancário e fiscal, compreendendo o período de 2010 e
2014.
Segundo a revista, as evidências de atos irregulares
praticados pelo senador alagoano são cada vez mais consistentes e graves. Não à
toa, ele ter se posicionado, de modo decisivo, ao lado e em defesa da presidente
da República e, para demonstrar efetivo apoio a ela, ele ousou fazer duras
críticas ao vice-presidente da República, que até aí era seu predileto correligionário,
mas acaba de romper com a petista, a quem o senador alagoano demonstrou
importante afago.
Em que pese o presidente do Senado estar totalmente
encurralado por graves denúncias de corrupção com recursos públicos, seu apoio
é extremamente valioso para presidente do país, em especial a partir de quando
o Supremo Tribunal Federal entendeu que a Câmara Alta tem poderes para até
arquivar o processo de impeachment. É mais do que evidente que o apoio do
senador alagoano exige que a presidente o retribua com, no mínimo, proteção
naquilo que estiver ao alcance dela, deixando transparecer vergonhosa troca de
espúrios afagos e favores entre homens públicos que estão submergidos em águas
turvas e não têm o menor pudor em utilizar expedientes nada republicanos para
se beneficiarem mutuamente.
O presidente do Senado diz que “suas relações com empresas públicas e privadas
nunca ultrapassaram os limites institucionais. Já prestou as informações que
lhe foram solicitadas e está à disposição para quaisquer novos esclarecimentos.
Jamais credenciou, autorizou ou consentiu
que seu nome fosse utilizado por terceiros em quaisquer circunstâncias”.
É
uma vergonha para os brasileiros que um cidadão envolvido com esquemas de
corrupção ainda tenha o direito de transitar livremente no meio dos cidadãos
honrados e de bem, como se ainda fosse o todo-poderoso, por comandar um dos
principais poderes da República, que foi maculado com o peso da indignidade por
parte de quem o dirige.
Com
absoluta certeza, se esse cidadão morasse na pior republiqueta já estaria, há
muito tempo, trancafiado e condenado, por ter desviado recursos públicos para suas
contas e se associado à quadrilha de bandidos da pior qualidade, diante da
insensatez de pilhar o patrimônio dos brasileiros.
Causa
perplexidade que é justamente esse cidadão que encabeça a tropa de choque no
Congresso Nacional disposta a blindar a presidente da República contra o
impeachment dela, ou seja, a mandataria do país se junta, de forma deliberada,
com cidadão que responde a, pelo menos, meia dúzia de inquéritos no Supremo
Tribunal Federal, por força das investigações da Operação Lava-Jato e de
apuração em processo de improbidade administrativa, tendo por finalidade salvar
os mandatos de ambos, em evidente menosprezo aos princípios da ética,
moralidade e nobreza, que devem imperar no exercício de cargos públicos, quanto
mais em se tratando de principais cargos da República, fato que somente
confirma o descaso, principalmente com relação à presidente do país, pelo culto
aos conceitos de seriedade e dignidade que se impõem à frente da Presidência da
República.
Não
à toa que muito se apregoa que o Brasil não é um país sério, justamente devido
a fatos como esse, em que o presidente do Senado, totalmente comprometido com a
corrupção, ante as investigações sobre o seu envolvimento com esquemas de desvio
de recursos públicos da Petrobras e de empresa subsidiária, constitui-se principal
aliado da presidente da República, para salvá-la do impeachment, como se ele
fosse exemplo de honradez e dignidade e estivesse acima de qualquer suspeita de
desonestidade, quando, na verdade, ele deveria estar afastado de seus cargos,
tanto de presidente do Senado como de representante do povo, porque as
suspeitas da prática de desvio de recursos públicos, por meio de recebimento de
propina, tem o condão de macular por completo a sua reputação tanto de cidadão
quanto mais de homem público, que tem o dever constitucional de se comportar
com dignidade e como modelo de lisura e honradez.
Por
seu turno, a presidente da República, ao tê-lo como principal aliado, nivela-se
no mesmo patamar do lamaçal por ele representado, em demonstração de que os
princípios da ética, da moral e do decoro não têm qualquer importância nas
atividades político-administrativas, em evidente desrespeito aos brasileiros
que a elegeram.
É
evidente que não se elegem os homens públicos para eles praticarem atos
indecorosos e indignos, mas, no fundo, eles são, na verdade, o reflexo dos
brasileiros, que os elegem e se tornam senhores absolutos para cometerem os
piores absurdos em nome da representatividade política, o que, em última
análise, os atos de corrupção são extensão da vontade dos brasileiros insensatos
e despreparados para a escolha correta de seus representantes, que têm a
obrigação constitucional de desempenhar os cargos públicos eletivos sob a
observância dos princípios fundamentais da ética, da moralidade, do decoro e da
dignidade.
Convém
que os brasileiros se conscientizem sobre a premência de profunda mudança
quanto às escolhas de seus representantes para o desempenho de atividades
político-administrativas, de modo que seja possível, ao menos, se eliminar da
vida pública os maus políticos, que somente enxergam a satisfação de seus
interesses, como no presente caso da mandatária do país e do presidente do
Senado Federal, que não têm o menor pudor em se aliarem um ao outro, sendo um é
cidadão investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e pela
Justiça, em diversos inquéritos, em razão do seu envolvimento em esquemas de
corrupção, por desvio de recursos públicos e improbidade administrativa, em
completa dissonância com os princípios da ética, moralidade, legalidade,
dignidade e honestidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 19 de dezembro de 2015
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