sábado, 19 de dezembro de 2015

As indignidades da República


O presidente do Senado Federal teria sido poupado do terrível constrangimento de ser acordado, ainda na madrugada, por agentes da Polícia Federal batendo a sua porta, quando foi deflagrada a Operação Catilinária, mas a revista ÉPOCA descobriu mais um fato que o perturba demasiadamente, porque o Supremo Tribunal Federal autorizou, no último dia 9, a quebra de seus sigilos bancário e fiscal, compreendendo o período de 2010 e 2014.
Segundo a revista, as evidências de atos irregulares praticados pelo senador alagoano são cada vez mais consistentes e graves. Não à toa, ele ter se posicionado, de modo decisivo, ao lado e em defesa da presidente da República e, para demonstrar efetivo apoio a ela, ele ousou fazer duras críticas ao vice-presidente da República, que até aí era seu predileto correligionário, mas acaba de romper com a petista, a quem o senador alagoano demonstrou importante afago.
Em que pese o presidente do Senado estar totalmente encurralado por graves denúncias de corrupção com recursos públicos, seu apoio é extremamente valioso para presidente do país, em especial a partir de quando o Supremo Tribunal Federal entendeu que a Câmara Alta tem poderes para até arquivar o processo de impeachment. É mais do que evidente que o apoio do senador alagoano exige que a presidente o retribua com, no mínimo, proteção naquilo que estiver ao alcance dela, deixando transparecer vergonhosa troca de espúrios afagos e favores entre homens públicos que estão submergidos em águas turvas e não têm o menor pudor em utilizar expedientes nada republicanos para se beneficiarem mutuamente.
O presidente do Senado diz que “suas relações com empresas públicas e privadas nunca ultrapassaram os limites institucionais. Já prestou as informações que lhe foram solicitadas e está à disposição para quaisquer novos esclarecimentos. Jamais credenciou, autorizou ou consentiu que seu nome fosse utilizado por terceiros em quaisquer circunstâncias”.
É uma vergonha para os brasileiros que um cidadão envolvido com esquemas de corrupção ainda tenha o direito de transitar livremente no meio dos cidadãos honrados e de bem, como se ainda fosse o todo-poderoso, por comandar um dos principais poderes da República, que foi maculado com o peso da indignidade por parte de quem o dirige.
Com absoluta certeza, se esse cidadão morasse na pior republiqueta já estaria, há muito tempo, trancafiado e condenado, por ter desviado recursos públicos para suas contas e se associado à quadrilha de bandidos da pior qualidade, diante da insensatez de pilhar o patrimônio dos brasileiros.
Causa perplexidade que é justamente esse cidadão que encabeça a tropa de choque no Congresso Nacional disposta a blindar a presidente da República contra o impeachment dela, ou seja, a mandataria do país se junta, de forma deliberada, com cidadão que responde a, pelo menos, meia dúzia de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, por força das investigações da Operação Lava-Jato e de apuração em processo de improbidade administrativa, tendo por finalidade salvar os mandatos de ambos, em evidente menosprezo aos princípios da ética, moralidade e nobreza, que devem imperar no exercício de cargos públicos, quanto mais em se tratando de principais cargos da República, fato que somente confirma o descaso, principalmente com relação à presidente do país, pelo culto aos conceitos de seriedade e dignidade que se impõem à frente da Presidência da República.
Não à toa que muito se apregoa que o Brasil não é um país sério, justamente devido a fatos como esse, em que o presidente do Senado, totalmente comprometido com a corrupção, ante as investigações sobre o seu envolvimento com esquemas de desvio de recursos públicos da Petrobras e de empresa subsidiária, constitui-se principal aliado da presidente da República, para salvá-la do impeachment, como se ele fosse exemplo de honradez e dignidade e estivesse acima de qualquer suspeita de desonestidade, quando, na verdade, ele deveria estar afastado de seus cargos, tanto de presidente do Senado como de representante do povo, porque as suspeitas da prática de desvio de recursos públicos, por meio de recebimento de propina, tem o condão de macular por completo a sua reputação tanto de cidadão quanto mais de homem público, que tem o dever constitucional de se comportar com dignidade e como modelo de lisura e honradez.
Por seu turno, a presidente da República, ao tê-lo como principal aliado, nivela-se no mesmo patamar do lamaçal por ele representado, em demonstração de que os princípios da ética, da moral e do decoro não têm qualquer importância nas atividades político-administrativas, em evidente desrespeito aos brasileiros que a elegeram.
É evidente que não se elegem os homens públicos para eles praticarem atos indecorosos e indignos, mas, no fundo, eles são, na verdade, o reflexo dos brasileiros, que os elegem e se tornam senhores absolutos para cometerem os piores absurdos em nome da representatividade política, o que, em última análise, os atos de corrupção são extensão da vontade dos brasileiros insensatos e despreparados para a escolha correta de seus representantes, que têm a obrigação constitucional de desempenhar os cargos públicos eletivos sob a observância dos princípios fundamentais da ética, da moralidade, do decoro e da dignidade.
Convém que os brasileiros se conscientizem sobre a premência de profunda mudança quanto às escolhas de seus representantes para o desempenho de atividades político-administrativas, de modo que seja possível, ao menos, se eliminar da vida pública os maus políticos, que somente enxergam a satisfação de seus interesses, como no presente caso da mandatária do país e do presidente do Senado Federal, que não têm o menor pudor em se aliarem um ao outro, sendo um é cidadão investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e pela Justiça, em diversos inquéritos, em razão do seu envolvimento em esquemas de corrupção, por desvio de recursos públicos e improbidade administrativa, em completa dissonância com os princípios da ética, moralidade, legalidade, dignidade e honestidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 19 de dezembro de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário