O ano de 2015 foi muito importante para a confirmação,
diante dos fatos brasileiros, do famoso provérbio segundo o qual economia e política
realmente andam juntas, mostrando que, se uma vai bem a outra segue idêntico
ritmo e o inverso também é verdadeiro, ou seja, quando qualquer uma estiver
fragilizada, a outra não é diferente.
Durante o ano, a crise política se encarregou de
travar e interromper projetos importantes, acirrar os ânimos entre políticos, gerar
desconfiança entre os investidores e principalmente contaminar o mercado
financeiro.
De seu turno, o arrefecimento da economia cuidou de
reduzir a arrecadação, contribuindo para modificar, de forma significativa, as
metas governamentais, com a invenção de pacotes de ajustes fiscal e econômico,
principalmente contendo no seu bojo aumento de tributos, que causaram
insatisfação do povo e antipatia à gestão da presidente do país.
As péssimas notícias sobre o desempenho da economia
não deram trégua durante todo ano, tendo sobressaído a terrível recessão, o desemprego,
a inflação alta, a taxa de juros elevada, o aumento da conta de luz, as ondas
de demissões, o dólar acima de R$ 4,00 pela primeira vez desde a criação do
Plano Real, a redução de arrecadação, a falta de investimentos, entre outras
mazelas decorrentes da economia em desaceleração.
Para complicar ainda mais as dificuldades com a
gastança do governo, a par de causar rombo nas contas públicas, o mercado
passou a ter total desconfiança sobre a capacidade da gestão pública, fato que levou
duas agências de classificação de risco a retirar o grau de investimento do
Brasil, que perdeu o selo de bom pagador, que significativa garantia de
segurança aos investidores internacionais.
É evidente que, sem o atestado de bom pagador, o
país passou a se encaixar no grupo considerado "grau especulativo", o
que significa, na visão do mercado, que o Brasil tem menos capacidade financeira
para honrar suas dívidas.
Na verdade, o governo tem enorme desafio em curto
prazo, que é o equilíbrio do ajuste fiscal, principalmente no que diz respeito
ao esforço para ajustar as contas públicas, que seria, basicamente, gastar bem
menos do que se arrecada, sacrifício esse que passa ano-luz distante do Palácio
do Planalto, que tem por meta políticas mais simples, como a perversa sanha de
aumento de tributos, como remédio mágico para a solução dos problemas do
Estado, com o que a carga tributária brasileira é considerada uma das mais
pesadas do mundo.
O certo é que, sem dinheiro para honrar os gastos
públicos, o governo é obrigado a buscar recursos no mercado, sempre oferecendo
retorno atrativo e mais interessante para os investidores, mediante juros
estratosféricos, que estão no patamar de 14,25%, com perspectiva de aumentar,
em 2016, para 14,75%, conforme a intenção da política monetária de controlar a
inflação por meio da retração do crédito e do consumo, ou seja, as previsões para
o próximo ano são catastróficas, porque as medidas econômicas do governo acenam
para a falta de investimentos, a recessão, nada de desenvolvimento e boa dose
de retração da economia.
Também conspira contra o governo a intensificação
das investigações objeto da Operação Lava-Jato, cujos resultados foram capazes
de mostrar que a administração pública, diante da fragilidade do controle
interno, foi incapaz de evitar a dilapidação do patrimônio da Petrobras, cujos
fatos contribuíram para fragilizar a popularidade da presidente, por falta de
reação do governo acerca dos fatos deletérios, que ajudaram a abater a já
combalida economia, à vista do envolvimento no lastimável episódio das mais importantes
construtoras nacionais.
A contabilização feita por especialistas aponta que
a economia brasileira deve encolher 3,7% em 2015, cuja tendência de
desaceleração, para o novo ano, tem pessimista estimativa de 2,8%, mostrando
que as dificuldades econômicas não vão facilitar a governabilidade do país, que
continuará em forte crise de desenvolvimento.
A precariedade da gestão pública é patente, porque,
pela primeira vez, se confirmadas as previsões, o país poderá contabilizar dois
anos consecutivos de queda no PIB, desde o registro da série histórica,
iniciado em 1948.
A par das medidas de ajuste fiscal, em 2015, o
governo liberou preços que ele havia represado, por muito tempo, em atendimento
à conveniência eleitoreira, como energia e gasolina, que contribuíram para subir
e impactar a inflação, que deve terminar o ano em 10,7% e poderá se tornar
registro histórico, visto que será o maior percentual desde 2002 (12,53%).
Embora não passe de mera falácia, o governo anunciou
cortes de gastos para reduzir o rombo nas contas públicas, mas o Brasil pode
fechar 2015 com déficit - despesas maiores que as receitas - recorde de até R$
117,9 bilhões, incluído o abatimento de até R$ 55 bilhões referentes às denominadas
"pedaladas fiscais" - pagamentos atrasados a bancos públicos –, que incriminaram
a presidente do país, à vista da abertura do processo de impeachment pela
Câmara dos Deputados, por ela ter sido incursa no crime de responsabilidade
fiscal.
Conclui-se que, quando há desgoverno no país, não
adianta esperar que aconteça algo de bom em benefício dos brasileiros, porque
as dificuldades afloram em todos os setores, as quais são potencializadas com a
falta de habilidade para contorná-las.
Os fatos mostram, à saciedade, que o próprio
governante já atrai para a sua gestão o conjunto das precariedades e o
resultado tem sido o pior possível, à luz dos resultados do seu desempenho, que
são alarmantes e trágicos e mostram que o país se encontra sim, na atualidade,
exatamente no fundo do poço.
Urge que haja mudança na administração do país,
para que bons fluidos possam contribuir para modificar esse conjunto de
imobilismo e inércia que foi instalado pela incompetência, ineficiência e
ineficácia na gestão pública, que, à toda evidência, não tem condições de continuar
à frente do governo, sob pena de contribuir ainda mais para a destruição do
patrimônio dos brasileiros, à vista dos resultados da gestão visivelmente
contrários ao interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de dezembro de 2015
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