quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O balanço da mediocridade


O ano de 2015 foi muito importante para a confirmação, diante dos fatos brasileiros, do famoso provérbio segundo o qual economia e política realmente andam juntas, mostrando que, se uma vai bem a outra segue idêntico ritmo e o inverso também é verdadeiro, ou seja, quando qualquer uma estiver fragilizada, a outra não é diferente.
Durante o ano, a crise política se encarregou de travar e interromper projetos importantes, acirrar os ânimos entre políticos, gerar desconfiança entre os investidores e principalmente contaminar o mercado financeiro.
De seu turno, o arrefecimento da economia cuidou de reduzir a arrecadação, contribuindo para modificar, de forma significativa, as metas governamentais, com a invenção de pacotes de ajustes fiscal e econômico, principalmente contendo no seu bojo aumento de tributos, que causaram insatisfação do povo e antipatia à gestão da presidente do país.
As péssimas notícias sobre o desempenho da economia não deram trégua durante todo ano, tendo sobressaído a terrível recessão, o desemprego, a inflação alta, a taxa de juros elevada, o aumento da conta de luz, as ondas de demissões, o dólar acima de R$ 4,00 pela primeira vez desde a criação do Plano Real, a redução de arrecadação, a falta de investimentos, entre outras mazelas decorrentes da economia em desaceleração.
Para complicar ainda mais as dificuldades com a gastança do governo, a par de causar rombo nas contas públicas, o mercado passou a ter total desconfiança sobre a capacidade da gestão pública, fato que levou duas agências de classificação de risco a retirar o grau de investimento do Brasil, que perdeu o selo de bom pagador, que significativa garantia de segurança aos investidores internacionais.
É evidente que, sem o atestado de bom pagador, o país passou a se encaixar no grupo considerado "grau especulativo", o que significa, na visão do mercado, que o Brasil tem menos capacidade financeira para honrar suas dívidas.
Na verdade, o governo tem enorme desafio em curto prazo, que é o equilíbrio do ajuste fiscal, principalmente no que diz respeito ao esforço para ajustar as contas públicas, que seria, basicamente, gastar bem menos do que se arrecada, sacrifício esse que passa ano-luz distante do Palácio do Planalto, que tem por meta políticas mais simples, como a perversa sanha de aumento de tributos, como remédio mágico para a solução dos problemas do Estado, com o que a carga tributária brasileira é considerada uma das mais pesadas do mundo.
O certo é que, sem dinheiro para honrar os gastos públicos, o governo é obrigado a buscar recursos no mercado, sempre oferecendo retorno atrativo e mais interessante para os investidores, mediante juros estratosféricos, que estão no patamar de 14,25%, com perspectiva de aumentar, em 2016, para 14,75%, conforme a intenção da política monetária de controlar a inflação por meio da retração do crédito e do consumo, ou seja, as previsões para o próximo ano são catastróficas, porque as medidas econômicas do governo acenam para a falta de investimentos, a recessão, nada de desenvolvimento e boa dose de retração da economia.
Também conspira contra o governo a intensificação das investigações objeto da Operação Lava-Jato, cujos resultados foram capazes de mostrar que a administração pública, diante da fragilidade do controle interno, foi incapaz de evitar a dilapidação do patrimônio da Petrobras, cujos fatos contribuíram para fragilizar a popularidade da presidente, por falta de reação do governo acerca dos fatos deletérios, que ajudaram a abater a já combalida economia, à vista do envolvimento no lastimável episódio das mais importantes construtoras nacionais.
A contabilização feita por especialistas aponta que a economia brasileira deve encolher 3,7% em 2015, cuja tendência de desaceleração, para o novo ano, tem pessimista estimativa de 2,8%, mostrando que as dificuldades econômicas não vão facilitar a governabilidade do país, que continuará em forte crise de desenvolvimento.
A precariedade da gestão pública é patente, porque, pela primeira vez, se confirmadas as previsões, o país poderá contabilizar dois anos consecutivos de queda no PIB, desde o registro da série histórica, iniciado em 1948.
A par das medidas de ajuste fiscal, em 2015, o governo liberou preços que ele havia represado, por muito tempo, em atendimento à conveniência eleitoreira, como energia e gasolina, que contribuíram para subir e impactar a inflação, que deve terminar o ano em 10,7% e poderá se tornar registro histórico, visto que será o maior percentual desde 2002 (12,53%).
Embora não passe de mera falácia, o governo anunciou cortes de gastos para reduzir o rombo nas contas públicas, mas o Brasil pode fechar 2015 com déficit - despesas maiores que as receitas - recorde de até R$ 117,9 bilhões, incluído o abatimento de até R$ 55 bilhões referentes às denominadas "pedaladas fiscais" - pagamentos atrasados a bancos públicos –, que incriminaram a presidente do país, à vista da abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados, por ela ter sido incursa no crime de responsabilidade fiscal.
Conclui-se que, quando há desgoverno no país, não adianta esperar que aconteça algo de bom em benefício dos brasileiros, porque as dificuldades afloram em todos os setores, as quais são potencializadas com a falta de habilidade para contorná-las.
Os fatos mostram, à saciedade, que o próprio governante já atrai para a sua gestão o conjunto das precariedades e o resultado tem sido o pior possível, à luz dos resultados do seu desempenho, que são alarmantes e trágicos e mostram que o país se encontra sim, na atualidade, exatamente no fundo do poço.
Urge que haja mudança na administração do país, para que bons fluidos possam contribuir para modificar esse conjunto de imobilismo e inércia que foi instalado pela incompetência, ineficiência e ineficácia na gestão pública, que, à toda evidência, não tem condições de continuar à frente do governo, sob pena de contribuir ainda mais para a destruição do patrimônio dos brasileiros, à vista dos resultados da gestão visivelmente contrários ao interesse público. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 30 de dezembro de 2015

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