Diante da movimentação para forçar a saída do
presidente da Câmara dos Deputados do cargo, um dos maiores aliados dele
procurou líderes da oposição para tentar a formalização de acordo com o objetivo
de poupar o mandato de deputado do peemedebista.
Reunido com correligionários em São Paulo, o amigo do
presidente da Câmara fez diversos contatos com lideranças da oposição, que
confirmaram as ligações e o teor das conversas, mas disseram ter rejeitado a
abordagem.
A fórmula mágica consistia na abertura de processo de
impeachment contra a presidente da República, tendo por base a denúncia de
juristas consagrados, em troca dos votos necessários para o arquivamento do
processo contra o presidente da Câmara, no Conselho de Ética, e depois ele renunciaria
à Presidência da Câmara, declarando-se impedido para conduzir o processo contra
a petista.
Em consequência, o peemedebista se livraria da
cassação por quebra de decoro parlamentar e manteria seu mandato de deputado, em
razão do benefício de ter dado início ao processo de impeachment contra a
presidente do país, que tanto almejava a oposição.
Apesar das evidências e também como a proposta não
vingou, o peemedebista negou, de pronto, que tivesse se envolvido com as
alegadas negociações, tendo afirmado que "Eu não participo de nenhum acordo e não discuti acordo com quem quer
que seja. Comigo ninguém conversou nem autorizei ninguém a falar em meu nome
sobre qualquer coisa. Se isso é verdade, propagaram uma mentira.".
A dificuldade para a implementação desse plano
diabólico foi o fato de a oposição ter se afastado do presidente da Câmara, por
ele ter apresentado argumentos ridículos e sem o menor fundamento sobre a sua
defesa para as contas secretas nas quais manteve investimentos não declarados
na Suíça. A oposição considerou a explicação dele bastante frágil e passou a
defender o seu afastamento do cargo de presidente da Câmara.
O mais curioso desse imbróglio é que, até antes da admissão
do pedido de abertura do processo de impeachment contra a presidente petista, o
governo federal e o PT traçavam estratégia para poupar os principais
protagonistas da cena política: a presidente da República e o presidente da
Câmara, tudo justificado por conveniências recíprocas, para a permanência de
ambos nos respectivos cargos e não haver prejuízo para o avanço da pauta de
votações de interesse do governo, a ponto de o líder do governo ter defendido
abertamente o peemedebista, na reunião de líderes, ao dizer que ele tem a
legitimidade para continuar na presidência e pedir que a pauta seja votada. Ele
teria alegado que "A Câmara não pode
parar. A oposição quer paralisar o governo".
Diante dos fatos nada dignos e republicanos, que se
desenrolaram nos bastidores sujos do Parlamento, a exemplo do caso em comento, cada
tacada na seara política mais o nível dos congressistas se nivela à decadência
e à degeneração, mostrando que as atividades políticas sofrem verdadeira
involução e contribuem cada vez mais para o fortalecimento da indignidade na
representação política, se distanciando dos princípios desejáveis da ética e da
moralidade.
Essa absurda ideia do deputado paulista de tabular
acordo, com finalidades visivelmente espúrias, na tentativa de salvar o mandato
de deputado de quem responde a diversos inquéritos por desvio de recursos
públicos, mediante envolvimento em esquema de corrupção, conforme mostram as
investigações da Operação Lava-Jato, significa simplesmente falta de caráter e
de dignidade no exercício de cargos públicos eletivos, em visível contrariedade
aos princípios da ética e do decoro.
Essa forma indiscutivelmente ilícita de atuação de
parlamentares tem a firme convicção de se mostrar que muitos parlamentares são
indignos da representatividade que foram investidos pelo povo, que precisa se
conscientizar, com urgência, sobre a premência da depuração dos maus homens
públicos da vida pública, como forma de propiciar moralização nos Parlamentos e
nas atividades de representação política, diante enorme quantidade de políticos
vendáveis e movidos por conveniências pessoais e partidárias, em detrimento dos
interesses nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 22 de dezembro de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário