terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A indignidade como fundamento


Diante da movimentação para forçar a saída do presidente da Câmara dos Deputados do cargo, um dos maiores aliados dele procurou líderes da oposição para tentar a formalização de acordo com o objetivo de poupar o mandato de deputado do peemedebista.
Reunido com correligionários em São Paulo, o amigo do presidente da Câmara fez diversos contatos com lideranças da oposição, que confirmaram as ligações e o teor das conversas, mas disseram ter rejeitado a abordagem.
A fórmula mágica consistia na abertura de processo de impeachment contra a presidente da República, tendo por base a denúncia de juristas consagrados, em troca dos votos necessários para o arquivamento do processo contra o presidente da Câmara, no Conselho de Ética, e depois ele renunciaria à Presidência da Câmara, declarando-se impedido para conduzir o processo contra a petista.
Em consequência, o peemedebista se livraria da cassação por quebra de decoro parlamentar e manteria seu mandato de deputado, em razão do benefício de ter dado início ao processo de impeachment contra a presidente do país, que tanto almejava a oposição.
Apesar das evidências e também como a proposta não vingou, o peemedebista negou, de pronto, que tivesse se envolvido com as alegadas negociações, tendo afirmado que "Eu não participo de nenhum acordo e não discuti acordo com quem quer que seja. Comigo ninguém conversou nem autorizei ninguém a falar em meu nome sobre qualquer coisa. Se isso é verdade, propagaram uma mentira.".
A dificuldade para a implementação desse plano diabólico foi o fato de a oposição ter se afastado do presidente da Câmara, por ele ter apresentado argumentos ridículos e sem o menor fundamento sobre a sua defesa para as contas secretas nas quais manteve investimentos não declarados na Suíça. A oposição considerou a explicação dele bastante frágil e passou a defender o seu afastamento do cargo de presidente da Câmara.
O mais curioso desse imbróglio é que, até antes da admissão do pedido de abertura do processo de impeachment contra a presidente petista, o governo federal e o PT traçavam estratégia para poupar os principais protagonistas da cena política: a presidente da República e o presidente da Câmara, tudo justificado por conveniências recíprocas, para a permanência de ambos nos respectivos cargos e não haver prejuízo para o avanço da pauta de votações de interesse do governo, a ponto de o líder do governo ter defendido abertamente o peemedebista, na reunião de líderes, ao dizer que ele tem a legitimidade para continuar na presidência e pedir que a pauta seja votada. Ele teria alegado que "A Câmara não pode parar. A oposição quer paralisar o governo".
Diante dos fatos nada dignos e republicanos, que se desenrolaram nos bastidores sujos do Parlamento, a exemplo do caso em comento, cada tacada na seara política mais o nível dos congressistas se nivela à decadência e à degeneração, mostrando que as atividades políticas sofrem verdadeira involução e contribuem cada vez mais para o fortalecimento da indignidade na representação política, se distanciando dos princípios desejáveis da ética e da moralidade.
Essa absurda ideia do deputado paulista de tabular acordo, com finalidades visivelmente espúrias, na tentativa de salvar o mandato de deputado de quem responde a diversos inquéritos por desvio de recursos públicos, mediante envolvimento em esquema de corrupção, conforme mostram as investigações da Operação Lava-Jato, significa simplesmente falta de caráter e de dignidade no exercício de cargos públicos eletivos, em visível contrariedade aos princípios da ética e do decoro.
Essa forma indiscutivelmente ilícita de atuação de parlamentares tem a firme convicção de se mostrar que muitos parlamentares são indignos da representatividade que foram investidos pelo povo, que precisa se conscientizar, com urgência, sobre a premência da depuração dos maus homens públicos da vida pública, como forma de propiciar moralização nos Parlamentos e nas atividades de representação política, diante enorme quantidade de políticos vendáveis e movidos por conveniências pessoais e partidárias, em detrimento dos interesses nacionais. Acorda, Brasil!
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 22 de dezembro de 2015

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