sábado, 26 de dezembro de 2015

A interferência injustificável


Em visível demonstração de incômodo com a recepção negativa, tanto do mercado quanto da base histórica do PT, ao início da gestão do novo ministro da Fazenda, o petista, ex-presidente da República, não perdeu tempo para pressionar o governo a anunciar, no limiar de 2016, ações efetivas e concretas, de modo a acenar para mudanças na política econômica, tendo por finalidade a retomada do crescimento.
Ele entende que a criação de expectativas positivas no início do segundo ano do governo da sua pupila é de fundamental importância para a garantia do apoio popular à presidente, à vista da batalha contra o impeachment dela. 
A preocupação do ex-presidente se tornou ainda mais evidente porque o início da gestão do novo ministro da Fazenda conseguiu desagradar, ao mesmo tempo, à direita e à esquerda, à vista dos incontestáveis resultados espelhados pelo mercado financeiro, que reagiu mal ao anúncio da nomeação dele, em que pese ele ter assumido que vai manter o ajuste fiscal e defender o equilíbrio das contas públicas, mas a resposta foi nada animadora, com a alta do valor do dólar e a queda das ações na bolsa.
Para estragar ainda mais a já difícil e desgastada situação do governo, a par da defesa do ajuste fiscal, houve empenho da equipe econômica em promover reforma na Previdência Social, que teve o condão de pôr mais lenha na fervura da insatisfação dos movimentos sociais, que até já havia saído às ruas para protestar contra o impeachment da petista. 
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) fez fortes críticas ao início da gestão do novo ministro e o comparou a seu antecessor, que teria sido alvo de reclamações por ser, supostamente, lídimo representante do setor bancário no governo. 
O presidente da CUT, que tem acesso direto ao ex-presidente, disse que “Agora, novamente no fim do ano, assisto atônito às mesmas cenas do ano passado. Muda o ministro da economia, mas não muda a política econômica. Era justamente isso que temíamos. Isso não vai acontecer. A primeira fala do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, é semelhante à primeira de Joaquim Levy”.
O aludido presidente, que tem sido incansável responsável pela mobilização de contingentes de militantes pró-presidente nas ruas, afirmou, em tom ameaçador, que a presidente corre o risco de perder o apoio nas ruas e, consequentemente, o mandato presidencial. 
O sindicalista ameaçou o governo, nestes termos: “Exigimos que nos próximos dias, ao invés desse discurso conservador ultrapassado e subordinado ao mercado, o governo anuncie medidas de interesse da classe trabalhadora. Os golpistas estão de plantão com pedidos de impeachment ou renúncia. E as ruas só vão defender o projeto democrático popular se tiverem o que defender”.
Outro líder popular, também expondo ameaças ao governo, disse, em ultimato à presidente, que “Não adianta nada o novo ministro assumir e duas horas depois ir à TV para dizer que vai manter o ajuste fiscal. Dilma já perdeu o apoio popular. O que as ruas disseram na quarta-feira foi: esta é a última chance”.
Não há a menor dúvida de que tanto o PT como as lideranças populares e trabalhistas estão muito mais preocupadas não com a situação econômica do país, mas sim com as medidas que possam contribuir para satisfazer os anseios da classe trabalhadora e dos grupos sociais que dão apoio ao governo, porque eles estão se lixando para os ajustes fiscal e econômico e o equilíbrio das contas públicas, que seriam ações efetivas capazes de contribuir para a reconstrução da economia e do desenvolvimento do país.  
Para eles, o que importa mesmo é a adoção de medidas que sirvam para o atendimento de suas pretensões sociais, fazendo com que o discurso do novo ministro seja totalmente descaracterizado para se adaptar aos seus anseios, com desprezo às causas nacionais, que devem ficar em planos secundários.
A verdade é que, ao cobrar ações concretas do governo, com vistas a possibilitar a reconstrução do país, o petista apenas expõe seu único pensamento de resolver os problemas que estão interferindo nos seus planos de retorno ao poder, ou seja, ele está pensando unicamente no seu umbigo e nas questões circunscritas a ele, não havendo a mínima preocupação com o soerguimento da economia nacional e com as condições de vida da população, porque se ele estivesse pensando nela, com certeza, seu apoio seria de forma inconteste ao ajuste fiscal e ao equilíbrio das contas públicas, em que pesem tais medidas serem contrárias à ideologia do PT, por elas terem enorme contribuição ao saneamento da economia nacional, quando o pensamento do petista defendia ações populistas, na forma da liberação indiscriminada do crédito, que poderia contribuir ainda mais para o aumento da inflação.
A indevida interferência do ex-presidente na gestão pública dá a impressão de que o governo tende a agir ao sabor das conveniências dos caciques de seu partido, em especial do petista-mor, que tem o maior interesse em fazer a máquina pública sair da inércia crônica, por não conseguir apresentar nada de concreto, com vistas à retomada do crescimento econômico.
A cobrança de ações objetivas de governo visa a atender exclusivamente interesses do padrinho político da presidente, por ele, enfim, enxergar que a sua futura candidatura à Presidência da República vem sendo triturada com o pífio desempenho da gestão petista, que tem conseguido acumular no seu currículo de péssima governança os piores resultados, em termos ético, político, econômico e social, em razão da indiscutível insatisfação popular, colhida por meio das pesquisas de opinião pública, que revelam que a preferência pela gestão da presidente oscila em média de 10%, dando a entender que, entre 10 eleitores, nove desaprovam a forma desastrada da governança do país, havendo indiscutível pretensão popular de que é imperiosa a mudança na Presidência, como forma de se evitar prejuízos ainda mais alarmantes e de difícil direção aos trilhos do desenvolvimento.
É evidente que a cobrança pelo ex-presidente de ações efetivas de governo não se relaciona senão com interesse do fortalecimento do PT e do próprio petista, à vista da proximidade das eleições municipais, cujo cenário eleitoral se apresenta como o pior possível para as pretensões petistas, exatamente em razão da péssima administração do país, que se encontra envolta com a apreciação de atos de incompetência, inépcia e desmoralização, que têm sido marca indelével da gestão pública, inclusive com a presidente do país sendo alvo de processo de impeachment, por ter sido enquadrada em crime de responsabilidade fiscal, cujo ato do presidente da Câmara dos Deputados, nesse sentido, acaba de ser convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, quando ele decidiu pela normatização do rito processual do impeachment da petista, pondo por terra a tentativa da esfarrapada ideia plantada pelo PT de que ele se trata de golpe, que não foi visto por esse prisma por quem realmente entende de matérias constitucionais, ou seja, a Excelsa Corte de Justiça.
A sociedade precisa ficar atenta sobre a pretensão de golpe, quanto à reivindicação de ações concretas do governo, porque, na realidade, elas jamais objetivam a satisfação de causas nacionais, mas sim o atendimento de interesses pessoais e partidários, conforme ficou bem explicitado com a mudança do titular da Fazenda, quando o antecessor tentava aprovar medidas de ajustes fiscal e econômico e de equilíbrio das contas públicas que vinham desagradando os interesses da agremiação governista e de grupos sociais simpatizantes do partido, por causarem antipatia e impopularidade contra o governo e o PT, com enormes desgastes para as pretensões eleitorais da legenda e incalculáveis prejuízos à perenidade do poder e à absoluta dominação da classe política.
Os brasileiros, no âmbito do seu sentimento cívico, devem repudiar, com veemência, as manobras visivelmente interesseiras de homens públicos que as consideram normais, como forma de se beneficiarem da máquina pública para a conquista do poder e a manutenção nele, inclusive adotando reiteradas medidas nada republicanas, como a indevida interferência na gestão pública, em indiscutível contrariedade aos princípios da administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de dezembro de 2015

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