Em visível demonstração de incômodo com a recepção
negativa, tanto do mercado quanto da base histórica do PT, ao início da gestão do
novo ministro da Fazenda, o petista, ex-presidente da República, não perdeu
tempo para pressionar o governo a anunciar, no limiar de 2016, ações efetivas e
concretas, de modo a acenar para mudanças na política econômica, tendo por
finalidade a retomada do crescimento.
Ele entende que a criação de expectativas positivas
no início do segundo ano do governo da sua pupila é de fundamental importância para
a garantia do apoio popular à presidente, à vista da batalha contra o
impeachment dela.
A preocupação do ex-presidente se tornou ainda mais
evidente porque o início da gestão do novo ministro da Fazenda conseguiu
desagradar, ao mesmo tempo, à direita e à esquerda, à vista dos incontestáveis resultados
espelhados pelo mercado financeiro, que reagiu mal ao anúncio da nomeação dele,
em que pese ele ter assumido que vai manter o ajuste fiscal e defender o
equilíbrio das contas públicas, mas a resposta foi nada animadora, com a alta do
valor do dólar e a queda das ações na bolsa.
Para estragar ainda mais a já difícil e desgastada situação
do governo, a par da defesa do ajuste fiscal, houve empenho da equipe econômica
em promover reforma na Previdência Social, que teve o condão de pôr mais lenha
na fervura da insatisfação dos movimentos sociais, que até já havia saído às
ruas para protestar contra o impeachment da petista.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores
(CUT) fez fortes críticas ao início da gestão do novo ministro e o comparou a
seu antecessor, que teria sido alvo de reclamações por ser, supostamente, lídimo
representante do setor bancário no governo.
O presidente da CUT, que tem acesso direto ao
ex-presidente, disse que “Agora,
novamente no fim do ano, assisto atônito às mesmas cenas do ano passado. Muda o
ministro da economia, mas não muda a política econômica. Era justamente isso
que temíamos. Isso não vai acontecer. A primeira fala do novo ministro da
Fazenda, Nelson Barbosa, é semelhante à primeira de Joaquim Levy”.
O aludido presidente, que tem sido incansável responsável
pela mobilização de contingentes de militantes pró-presidente nas ruas, afirmou,
em tom ameaçador, que a presidente corre o risco de perder o apoio nas ruas e,
consequentemente, o mandato presidencial.
O sindicalista ameaçou o governo, nestes termos: “Exigimos que nos próximos dias, ao invés
desse discurso conservador ultrapassado e subordinado ao mercado, o governo
anuncie medidas de interesse da classe trabalhadora. Os golpistas estão de
plantão com pedidos de impeachment ou renúncia. E as ruas só vão defender o
projeto democrático popular se tiverem o que defender”.
Outro líder popular, também expondo ameaças ao governo,
disse, em ultimato à presidente, que “Não
adianta nada o novo ministro assumir e duas horas depois ir à TV para dizer que
vai manter o ajuste fiscal. Dilma já perdeu o apoio popular. O que as ruas
disseram na quarta-feira foi: esta é a última chance”.
Não há a menor dúvida de que tanto o PT como as
lideranças populares e trabalhistas estão muito mais preocupadas não com a
situação econômica do país, mas sim com as medidas que possam contribuir para satisfazer
os anseios da classe trabalhadora e dos grupos sociais que dão apoio ao
governo, porque eles estão se lixando para os ajustes fiscal e econômico e o
equilíbrio das contas públicas, que seriam ações efetivas capazes de contribuir
para a reconstrução da economia e do desenvolvimento do país.
Para eles, o que importa mesmo é a adoção de
medidas que sirvam para o atendimento de suas pretensões sociais, fazendo com
que o discurso do novo ministro seja totalmente descaracterizado para se
adaptar aos seus anseios, com desprezo às causas nacionais, que devem ficar em
planos secundários.
A
verdade é que, ao cobrar ações concretas do governo, com vistas a possibilitar a
reconstrução do país, o petista apenas expõe seu único pensamento de resolver
os problemas que estão interferindo nos seus planos de retorno ao poder, ou
seja, ele está pensando unicamente no seu umbigo e nas questões circunscritas a
ele, não havendo a mínima preocupação com o soerguimento da economia nacional e
com as condições de vida da população, porque se ele estivesse pensando nela, com
certeza, seu apoio seria de forma inconteste ao ajuste fiscal e ao equilíbrio
das contas públicas, em que pesem tais medidas serem contrárias à
ideologia do PT, por elas terem enorme contribuição ao saneamento da economia
nacional, quando o pensamento do petista defendia ações populistas, na forma da
liberação indiscriminada do crédito, que poderia contribuir ainda mais para o
aumento da inflação.
A
indevida interferência do ex-presidente na gestão pública dá a impressão de que
o governo tende a agir ao sabor das conveniências dos caciques de seu partido,
em especial do petista-mor, que tem o maior interesse em fazer a máquina
pública sair da inércia crônica, por não conseguir apresentar nada de concreto,
com vistas à retomada do crescimento econômico.
A
cobrança de ações objetivas de governo visa a atender exclusivamente interesses
do padrinho político da presidente, por ele, enfim, enxergar que a sua futura candidatura
à Presidência da República vem sendo triturada com o pífio desempenho da gestão
petista, que tem conseguido acumular no seu currículo de péssima governança os
piores resultados, em termos ético, político, econômico e social, em razão da indiscutível
insatisfação popular, colhida por meio das pesquisas de opinião pública, que
revelam que a preferência pela gestão da presidente oscila em média de 10%,
dando a entender que, entre 10 eleitores, nove desaprovam a forma desastrada da
governança do país, havendo indiscutível pretensão popular de que é imperiosa a
mudança na Presidência, como forma de se evitar prejuízos ainda mais alarmantes
e de difícil direção aos trilhos do desenvolvimento.
É
evidente que a cobrança pelo ex-presidente de ações efetivas de governo
não se relaciona senão com interesse do fortalecimento do PT e do próprio
petista, à vista da proximidade das eleições municipais, cujo cenário eleitoral
se apresenta como o pior possível para as pretensões petistas, exatamente em
razão da péssima administração do país, que se encontra envolta com a
apreciação de atos de incompetência, inépcia e desmoralização, que têm sido
marca indelével da gestão pública, inclusive com a presidente do país sendo
alvo de processo de impeachment, por ter sido enquadrada em crime de
responsabilidade fiscal, cujo ato do presidente da Câmara dos Deputados, nesse
sentido, acaba de ser convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, quando ele decidiu
pela normatização do rito processual do impeachment da petista, pondo por terra
a tentativa da esfarrapada ideia plantada pelo PT de que ele se trata de golpe,
que não foi visto por esse prisma por quem realmente entende de matérias
constitucionais, ou seja, a Excelsa Corte de Justiça.
A
sociedade precisa ficar atenta sobre a pretensão de golpe, quanto à reivindicação
de ações concretas do governo, porque, na realidade, elas jamais objetivam a
satisfação de causas nacionais, mas sim o atendimento de interesses pessoais e
partidários, conforme ficou bem explicitado com a mudança do titular da
Fazenda, quando o antecessor tentava aprovar medidas de ajustes fiscal e
econômico e de equilíbrio das contas públicas que vinham desagradando os
interesses da agremiação governista e de grupos sociais simpatizantes do
partido, por causarem antipatia e impopularidade contra o governo e o PT, com
enormes desgastes para as pretensões eleitorais da legenda e incalculáveis
prejuízos à perenidade do poder e à absoluta dominação da classe política.
Os
brasileiros, no âmbito do seu sentimento cívico, devem repudiar, com veemência,
as manobras visivelmente interesseiras de homens públicos que as consideram
normais, como forma de se beneficiarem da máquina pública para a conquista do
poder e a manutenção nele, inclusive adotando reiteradas medidas nada
republicanas, como a indevida interferência na gestão pública, em indiscutível contrariedade
aos princípios da administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de dezembro de 2015
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