No
começo do século XX, diante da gravidade da epidemia da febre amarela, o
Serviço de Profilaxia foi criado para agir com a maior intensidade e eficiência,
à procura, em todos os lugares, do invasor mortífero. Tudo era revirado, até encontrar
o Aedes aegypti, cuja missão teria por objetivo o seu extermínio, por meio de
processo rigorosamente planejado e estruturado para matar o mal pela raiz.
Foi
o sanitarista e médico Oswaldo Cruz o responsável pela criação do Serviço de
Profilaxia da Febre Amarela, criado para combater, de forma implacável, a
epidemia da febre amarela, que era também transmitida pelo mosquito Aedes
aegypti, que se expandia em larga escala no país.
As
conhecidas brigadas de mata-mosquitos eram conhecidas por sua ação muitas vezes
de forma truculenta, em nome da assepsia que precisava ser executada com inseticidas
capazes de eliminar focos de insetos, por meio de modelo de ação inspirada nos
quarteis militares.
As
medidas foram tão bem executadas, apesar das severas e injustas críticas, que surtiram
efeito em pouco tempo e, em março de 1907, a febre amarela foi considerada
erradicada no Rio de Janeiro e nas áreas urbanas, segundo afirmam os registros oficiais.
Àquela
época, não existindo métodos eficazes para combate à febre amarela, como vacina
e outros sistemas alternativos, houve então a feliz iniciativa da criação das
brigadas para exterminar o Aedes aegypti, que foi caçado sob lupa, cujo método
foi reconhecido valioso, por sua comprovada eficácia.
Segundo
os registros, os agentes percorriam as ruas e entravam nas casas, lavavam
caixas de água, jogavam remédio em ralos e bueiros, limpavam telhados e calhas,
instalavam redes de proteção, removiam qualquer local passível de desova de
mosquitos, num trabalho exaustivo de combate à doença.
Era
comum a invasão de casas pelas brigadas, mesmo quando elas não eram bem-vindas,
por parte de pessoas que não entendiam direito a grave situação de epidemia.
Diante
do incômodo da situação, parte da população chegava a conseguir habeas corpus para impedir a invasão
sanitária, mas o então sanitarista colocava suas brigadas para trabalhar de
madrugada, pegando de surpresa os moradores.
Quando
eram encontrados doentes em casas, os agentes desinfetavam o local e
providenciavam o isolamento domiciliar do paciente ou o transferiam para
hospital de isolamento.
Em
que pese o exemplo magnífico desse baluarte sanitarista, o Aedes aegypti voltou
com força no fim dos anos 80 e, desde 1990, os brasileiros foram obrigados a conviver
com permanentes e crônicas epidemias sazonais de dengue no verão, cujas
consequências são centenas de mortes, que nada representam para autoridades
públicas, que deixam de adotar as providências com a finalidade de exterminar,
por todos os meios e formas, o temível mosquito da dengue.
Para
agravar ainda mais a terrível situação, neste ano, surgiram duas novas
epidemias, ambas transmitidas pelo mosquito, ganharam destaque negativo: a
chikungunya e a zika, sendo que esta última vem causando grave problema, de
efeito alarmante, por ser bem maior do que o imaginado originalmente e com um
impacto social devastador, conhecido pelo caso de zika, o que já é mais do
justificável a caça ao mosquito com implacáveis métodos militares, como forma
de eliminar sem trégua e sem folga essa praga, que aterroriza a população
desprezada pela completa omissão do Estado, que somente promove reuniões aqui e
ali, diante da gravidade da situação, mas sem qualquer medida efetiva e
definitiva, como foi feito em tempos remotos, quando não existiam os meios e os
recursos tecnológicos da atualidade, o que facilitariam a eliminação desse
mosquito que jamais deveriam infernizar, no século XXI, a população.
Um
epidemiologista do Departamento de Clínica Médica da UERJ afirma que "De fato, até o fim dos anos 80, a questão
era dada por resolvida. Mas as coisas
mudaram muito. Naquela época não havia a mobilidade de hoje, com o fluxo
constante de pessoas para todo lado".
E
evidente que há dificuldades para lidar com o problema, principalmente quando
inexistem prioridade e mobilização por parte das autoridades incumbidas das
questões de saúde pública, que deveriam se empenhar de maneira redobrada e
revolucionária, sob pena de, em pleno século XXI, o homem moderno ficar refém do
mosquito Aedes aegypti, em vergonhosa e vexatória façanha que deixaria o mais
famoso sanitarista brasileiro achando que o homem passa por processo de
involução, quando deveria ser o contrário.
As
evidências naturais indicam que, sob o prisma da operacionalidade, não há
fórmula fácil para se caçar e combater o mosquito, na atualidade, que ainda tem
o complicador das mudanças climáticas no país continente, mas nem por isso, a
população pode se acomodar diante de desculpas esfarrapadas nesse sentido,
porque o que contam mesmo são o esforço e o emprenho das autoridades públicas,
que não podem alegar dificuldades para trucidar o mosquito, não importando as
adversidades, porque a vida humana exige priorização de políticas públicas
específicas para o saneamento da questão.
A
prevenção é importante forma de combate às doenças transmitidas pelo Aedes
aegypti, porque é por meio dela que se pode evitar, por exemplo, o acúmulo de
água parada em recipientes que podem servir de criadouros. O fato em si não é
suficiente para o saneamento do problema, porque o governo precisa
conscientizar e educar a população, com informações permanentes, de modo que
ela seja convocada para participar e contribuir para a efetividade e a
eficiência dos programas governamentais, que devem ser executados de forma
prioritária e com a agressividade que não permita a mínima chance à
proliferação do mosquito.
É
muito triste e desesperador que o país tupiniquim, em pleno século XXI, com
todos os avanços científicos e tecnológicos, demostre que ainda existe imaginável
desprezo à saúde pública, ao permitir que desprezível mosquito seja causador de
centenas de mortes e de sofrimento de milhares de brasileiros e ainda continue
atormentando os brasileiros, tudo por culpa de governantes despreparados e
irresponsáveis que somente priorizam a manutenção no poder, mas se omite em
relação à eficiência das políticas públicas, em especial da saúde pública e da valorização
da vida humana.
Trata-se
de mais um descaso que não justifica a adoção de medidas tardias, quando a
tragédia já causou enormes estragos.
Diante
dos prejuízos já causados às vidas humanas, as autoridades incumbidas da saúde
pública precisam ser responsabilizadas por sua omissão, como forma de se exigir
penalização por suas omissões e culpas por terem permitido que a situação
chegasse à tamanha e injustificável precariedade.
É
evidente que a responsabilidade pelo combate às epidemias e pela eliminação das
causas delas é primariamente das autoridades públicas incumbidas legalmente da
saúde pública, em consonância com as políticas previstas e estabelecidas
constitucional e legalmente, na forma das programações orçamentárias aprovadas
com essa finalidade, a exemplo do que é feito rigorosamente nos países
civilizados, onde ninguém morre em razão da injustificável omissão dos
governantes, que são conscientizados sobre a sua responsabilidade de proteger a
população contra toda espécie de doenças, que não medem esforços para proteger
a população. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 16 de dezembro de 2015
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