domingo, 13 de dezembro de 2015

A repetição dos horrores da seca


Um agricultor aposentado do Rio Grande do Norte, depois de estudar fatores ínsitos no primeiro dia do ano, no Cruzeiro do Sul, na direção dos ventos, e nas estações da lua, concluiu que o próximo ano não terá bom inverno, porque o primeiro dia do ano cai numa sexta-feira e terá, ainda, a lua na fase minguante, fatos que contribuem para acarretar baixa probabilidade de chuvas.
O agricultor, com experiência de 83 anos de idade, reside na zona rural de Apodi, no interior do Estado, e se autodenomina profeta das chuvas, termo que é usado para a caracterização de homens e mulheres que fazem previsões do tempo e do clima, com base em observações das mudanças do ecossistema, da atmosfera e de outros métodos tradicionais de previsão.
Com base nas suas observações, o profeta de Apodi acredita que “O ano vai entrar num dia de sexta-feira, num minguante da lua e é bissexto. Nunca vi um ano bissexto ser bom. Também está sujeito a ele ser seco, porque em 2017, o ano vai entrar em um dia de domingo. Não temos inverno. O que vamos ter é umas ‘chuvadinhas’ perdidas aqui e acolá. Eu não sei dizer os meses que vão ser não, mas vão ser todas entre vão da lua. Entre fases”.
O profeta também disse que, enquanto a constelação do Cruzeiro do Sul estiver surgindo durante a madrugada, não é um bom sinal para o homem do campo.
Segundo a análise dele, “O Cruzeiro está saindo de madrugadinha, quase 4h da manhã. Isso é sinal de que as chuvas vão custar muito a vir. O inverno só pega quando ele está saindo aqui de 7h da noite. Tem um mentiroso dizendo que quem vai governar o ano que vem vai ser o sol, mas eu digo que é mentira. Quando o sol governa, nunca é seco”.
A previsão do profeta das chuvas vai ao encontro de meteorologistas, como no caso da recente entrevista dada por um meteorologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (EMPARN), que teria revelado que o inverno no mencionado Estado está seriamente comprometido, cuja explicação foi baseada no fenômeno meteorológico El niño, que se encontra na categoria de maior intensidade, refletindo negativamente com estiagem na região nordestina.
Em que pesem as previsões sobre a escassez de chuvas e de água, conforme as manifestações das experiências sobre os fenômenos da natureza, combinando ainda a movimentação do El niño com as posições dos astros celestiais, tudo ainda postos, obviamente, nos campos das hipóteses, não existe qualquer movimentação por parte das autoridades governamentais no sentido de assegurar tranquilidade para os sertanejos, com relação à adoção de medidas contra a seca, mesmo que sejam as mesmas de sempre, que não passam de mero paliativo, em que somente há tentativa de se resolver as dificuldades de momento, ficando tudo como antes depois de serenados os ânimos mais exaltados dos sertanejos afetados pela seca.
Diante das experiências hauridas no âmbito dos nordestinos atingidos pelos reiterados sofrimentos, que não aguentam nem mesmo ouvir falar em estiagem, quanto menos em seca, já passou do tempo para os governos federal, estaduais e municipais terem decididos revolucionar os costumeiros padrões de incompetência imperante nas secas passadas, que são meras repetições irresponsáveis de medidas que objetivam dizer aos flagelados pela seca que os governos se encontram presentes nos momentos de dificuldades, não permitindo que falte o apoio da sua incumbência legal, mas isso não condiz com a realidade que precisa mudar, com a máxima urgência.
Não obstante, essa forma precária e deficiente de assistencialismo é apenas momentânea, quando os fatos já demonstram que a grave questão das secas deve ser encarada com seriedade e respeito aos nordestinos, por meio de medidas efetivas e definitivas, adotadas com a vontade e a determinação no sentido de que a revolução contra as secas abrange estudos, planejamentos e programas de efetiva reestruturação de tudo que já existe de levantamentos que apenas serviram como medicamento de eficácia momentânea, que não conseguiram atingir o cerne da causa, como forma de utilizá-los como instrumentos capazes de mostrar que as medidas devem ser efetivas e definitivas, para que as secas sejam tão somente como inevitáveis fenômenos meteorológicos naturais, sem a menor interferência na vida normal dos sertanejos, uma vez que as medidas indispensáveis à sua proteção estão postas adequadamente garantindo a sua tranquilidade.
É evidente que a priorização de políticas públicas para assegurar o definitivo afastamento das agruras dos nordestinos jamais será adotada, em razão da predominância de que a calamidade das secas interessa sobremaneira à ganância e à sanha da classe política dominante regional, que investe em absurdas artimanhas degenerativas sobre a necessidade da manutenção do status quo, evidentemente em detrimento dos interesses exatamente daqueles que os mantêm no poder.
Os nordestinos precisam repudiar as ações irresponsáveis que são repetidamente postas à disposição sempre nos casos de seca, sob os fajutos argumentos da presença dos governos na região, diante da sua ineficácia, e exigir a urgente revolução quanto às medidas que possam ser adotadas com eficiência e eficácia, para assegurar efetiva solução para a chamada indústria das secas, onde os maus homens públicos aproveitam da situação para se manterem no topo da política e de outros interessem pessoais e de grupos, à vista da resistência às medidas capazes de sanear de vez os clamorosos casos da seca. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 13 de dezembro de 2015

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