Enquanto a Venezuela se afunda progressivamente
numa espiral de desabastecimento, miséria e caos administrativo, na sua capital
Caracas tem loja de altíssima especialização de bom gosto, que vende produtos
importados sofisticados para a classe abastarda, como relógios Patek Philippe,
a grife suíça mais prestigiada entre colecionadores e tantas excentricidades,
que convivem muito bem entre escassez imposta à população afetada pela
degeneração das estruturas do país.
Com clara dissonância com
a elevada escassez e alheia à inflação mais elevada do mundo, estando beirando
agora ao astronômico 280% a.a. e a contração do PIB próxima de 10%, conforme
previsão do Fundo Monetário Internacional, uma pequena parcela da população do
país mantém vida ímpar de luxo e opulência, mas somente se enquadram nesse seleto
grupo, como não poderia deixar de ser em país de regime totalitário, empresários,
famílias com renda em dólar e pessoas ligadas ao chavismo, ou seja, ao poder,
que estão imunes às agruras do regime mais pernicioso surgido nos últimos
tempos, à vista, no caso da Venezuela, das potenciais reservas petrolíferas do
país, que não têm sido capazes de contribuir para se evitar a sua destruição socioeconômica.
Como é normal nos países socialistas, a concessão
de privilégios permite que pessoas de classe média alta possam desfrutar, com a
maior naturalidade, de vida confortável e despreocupada, em contraste com a situação
deplorável submetida coercitivamente à classe pobre.
Importante empresário relata, ironicamente, diante
da crise do país, que passa os finais de semana num clube à beira-mar, onde
ancora sua lancha com suíte e "Fico
aqui numa boa tomando uísque e, às vezes, saio com esse bichão (barco)."
Outro empresário morador numa mansão no mais
abastado de Caracas esteve em Miami somente para ver show de cantora famosa, a
par de sentenciar que "Tenho uma
qualidade de vida que eu não teria em nenhum outro lugar. E eu amo o meu país”,
evidentemente sem sopesar a desgraça por que passam seus semelhantes
venezuelanos, totalmente atolados na lama patrocinada pela incompetência
administrativa.
Na realidade, há os casos de exceção de pessoas que
se beneficiam do regime totalitário, enquanto muitas outras, que não suportaram
conviver com as agruras, já se mudaram para o exterior, para fugir das
expropriações ilegais e de tantas outras políticas absurdas do governo
chavista, a exemplo do perverso e destruidor princípio econômico, com o
famigerado controle de preços e de câmbio, que contribuiu para a desestruturação
do setor produtivo e consequentemente do desabastecimento generalizado do país.
A verdade atual é que a sobrevivência da maioria absoluta
dos venezuelanos depende dos alimentos e produtos básicos vendidos sob preços
regulados em poucos mercados estatais, onde imperam filas e racionamentos,
fazendo com que a população carente seja submetida ao ridículo da desumanidade,
diferentemente o que acontece com as classes média alta e alta, que são
abastecidas por camelôs, que revendem, com ágio, mercadorias adquiridas nos
mercados estatais ou em comércios privados, menos atingidos pela escassez, mas
com preços impeditivos para a classe pobre.
O disparate existente no regime socialista chega a
ser gritante, por faltar até papel higiênico na rede estatal, mas nas delicatesses seletivas de Caracas têm
sal do Himalaia, mostarda francesa moída na pedra e 14 tipos de azeite de oliva
importado, sendo que somente uma garrafa de água com gás francesa é vendida a
1.500 bolívares, mais de 10% do salário mínimo venezuelano.
Essa situação contrastante entre classes ricas e
pobres da Venezuela é muito importante que seja do conhecimento dos
brasileiros, como forma de se avaliar, com base em dados reais, as distorções
existentes no regime socialista/comunista que privilegia, com concessões
excepcionais, as classes que apoiam o sistema de governo, enquanto a pobreza se
nivela no mesmo porão da miséria e das dificuldades, em cristalina demonstração
de que o referido sistema é discriminatório, desumano e cruel com aqueles que
apenas serviram de massa de manobra para a conquista do poder, que sempre será
defendido de forma ferrenha, porque a alternância dele não combina com a “democracia”
apregoada falsa e indevidamente pelos governos socialistas.
Os brasileiros precisam se conscientizar, ante os
péssimos exemplos vindos da Venezuela, que o regime socialista/comunista tem
como princípio fundamental a completa degeneração dos conceitos de
administração eficiente e competente, à vista das distorções de tratamento
adotadas com relação às classes sociais, porquanto algumas são privilegiadas e
outras desprezadas e jogadas na vala comum da desumanidade, sem direito ao
usufruto da individualidade, da liberdade e da democracia, que tem como
parâmetro o princípio de que é tudo do povo para o povo, em condições de
igualdade, em direitos e obrigações, sem as indignas exceções consentidas pelos
governos ditatoriais, permitindo-se que o país conviva com picos elevados de
inflação, pobreza e criminalidade, em total materialização de real crise
humanitária. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de março de 2016
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