domingo, 27 de março de 2016

Crise humanitária?


Enquanto a Venezuela se afunda progressivamente numa espiral de desabastecimento, miséria e caos administrativo, na sua capital Caracas tem loja de altíssima especialização de bom gosto, que vende produtos importados sofisticados para a classe abastarda, como relógios Patek Philippe, a grife suíça mais prestigiada entre colecionadores e tantas excentricidades, que convivem muito bem entre escassez imposta à população afetada pela degeneração das estruturas do país.
          Com clara dissonância com a elevada escassez e alheia à inflação mais elevada do mundo, estando beirando agora ao astronômico 280% a.a. e a contração do PIB próxima de 10%, conforme previsão do Fundo Monetário Internacional, uma pequena parcela da população do país mantém vida ímpar de luxo e opulência, mas somente se enquadram nesse seleto grupo, como não poderia deixar de ser em país de regime totalitário, empresários, famílias com renda em dólar e pessoas ligadas ao chavismo, ou seja, ao poder, que estão imunes às agruras do regime mais pernicioso surgido nos últimos tempos, à vista, no caso da Venezuela, das potenciais reservas petrolíferas do país, que não têm sido capazes de contribuir para se evitar a sua  destruição socioeconômica.
Como é normal nos países socialistas, a concessão de privilégios permite que pessoas de classe média alta possam desfrutar, com a maior naturalidade, de vida confortável e despreocupada, em contraste com a situação deplorável submetida coercitivamente à classe pobre.
Importante empresário relata, ironicamente, diante da crise do país, que passa os finais de semana num clube à beira-mar, onde ancora sua lancha com suíte e "Fico aqui numa boa tomando uísque e, às vezes, saio com esse bichão (barco)."
Outro empresário morador numa mansão no mais abastado de Caracas esteve em Miami somente para ver show de cantora famosa, a par de sentenciar que "Tenho uma qualidade de vida que eu não teria em nenhum outro lugar. E eu amo o meu país”, evidentemente sem sopesar a desgraça por que passam seus semelhantes venezuelanos, totalmente atolados na lama patrocinada pela incompetência administrativa.
Na realidade, há os casos de exceção de pessoas que se beneficiam do regime totalitário, enquanto muitas outras, que não suportaram conviver com as agruras, já se mudaram para o exterior, para fugir das expropriações ilegais e de tantas outras políticas absurdas do governo chavista, a exemplo do perverso e destruidor princípio econômico, com o famigerado controle de preços e de câmbio, que contribuiu para a desestruturação do setor produtivo e consequentemente do desabastecimento generalizado do país.
A verdade atual é que a sobrevivência da maioria absoluta dos venezuelanos depende dos alimentos e produtos básicos vendidos sob preços regulados em poucos mercados estatais, onde imperam filas e racionamentos, fazendo com que a população carente seja submetida ao ridículo da desumanidade, diferentemente o que acontece com as classes média alta e alta, que são abastecidas por camelôs, que revendem, com ágio, mercadorias adquiridas nos mercados estatais ou em comércios privados, menos atingidos pela escassez, mas com preços impeditivos para a classe pobre.
O disparate existente no regime socialista chega a ser gritante, por faltar até papel higiênico na rede estatal, mas nas delicatesses seletivas de Caracas têm sal do Himalaia, mostarda francesa moída na pedra e 14 tipos de azeite de oliva importado, sendo que somente uma garrafa de água com gás francesa é vendida a 1.500 bolívares, mais de 10% do salário mínimo venezuelano.
Essa situação contrastante entre classes ricas e pobres da Venezuela é muito importante que seja do conhecimento dos brasileiros, como forma de se avaliar, com base em dados reais, as distorções existentes no regime socialista/comunista que privilegia, com concessões excepcionais, as classes que apoiam o sistema de governo, enquanto a pobreza se nivela no mesmo porão da miséria e das dificuldades, em cristalina demonstração de que o referido sistema é discriminatório, desumano e cruel com aqueles que apenas serviram de massa de manobra para a conquista do poder, que sempre será defendido de forma ferrenha, porque a alternância dele não combina com a “democracia” apregoada falsa e indevidamente pelos governos socialistas.
Os brasileiros precisam se conscientizar, ante os péssimos exemplos vindos da Venezuela, que o regime socialista/comunista tem como princípio fundamental a completa degeneração dos conceitos de administração eficiente e competente, à vista das distorções de tratamento adotadas com relação às classes sociais, porquanto algumas são privilegiadas e outras desprezadas e jogadas na vala comum da desumanidade, sem direito ao usufruto da individualidade, da liberdade e da democracia, que tem como parâmetro o princípio de que é tudo do povo para o povo, em condições de igualdade, em direitos e obrigações, sem as indignas exceções consentidas pelos governos ditatoriais, permitindo-se que o país conviva com picos elevados de inflação, pobreza e criminalidade, em total materialização de real crise humanitária. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 27 de março de 2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário