quarta-feira, 9 de março de 2016

Indevidos privilégios



Segundo notícia divulgada pela mídia, a presidente da República teria aceitado a ideia de convidar o seu antecessor para exercer o cargo de titular de ministério na Esplanada mais esplendorosa do país, onde se desfilam plêiade de dezenas de ministros, muitos dos quais a título de recompensa por apoio aos projetos de interesse da presidente do país, no Congresso Nacional, em obrigatoriedade de fidelidade ao Palácio do Planalto.
Ao que se anuncia, a medida teria por objetivo se evitar que o petista-mor seja preso, em razão dos fatos investigados na Operação Lava-Jato, por ordem do juiz federal que comanda as operações pertinentes ao escândalo do petrolão, onde há fortes indícios de que o petista teria sido beneficiário de dinheiro desviado da Petrobras, com reformas em imóveis e repasses de recursos sob o título de pagamento de palestras, muitas das quais estranhas a diretores da construtora contratante, segundo relato de investigações realizadas por força-tarefa da citada operação.
Em conformidade com nota da coluna Painel, da Folha de S. Paulo, ministros da intimidade da presidente do país e do petista tentam convencê-lo a aceitar a generosa oferta, como forma de tentativa de salvação política dos dois mais importantes petistas, que se encontram envolvidos em questões ultraescabrosas, sob suspeitas das práticas de irregularidades levantadas, respectivamente, pelo Tribunal de Contas da União, de que tratam as famigeradas pedaladas fiscais, e pela Operação Lava-Jato, na forma indicada acima.
A situação do petista se complicou bastante com a sua condução coercitiva pela Polícia Federal, para prestar depoimento sob grave suspeita de seu envolvimento nos fatos objeto da Operação Lava-Jato, que se tornou cada vez mais possível a sua condenação, à luz dos elementos de prova já obtidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.
Ao transformar o ex-presidente em ministro, ele teria o benefício de foro privilegiado e qualquer ação contra ele dependeria do aval do Supremo Tribunal Federal para ganhar trâmite, além de ser blindado automaticamente contra as garras afiadas do juiz que preside a mais competente equipe de investigação da história republicana, que foi capaz de pôr no xadrez figurões da política, do mundo empresarial e de muitas importantes personalidades brasileiras.
Essa já é a segunda vez que se cogita colocar o ex-presidente na direção de ministério, com a finalidade exclusiva de catapultá-lo para situação confortável de privilégio, na tentativa de livrá-lo das garras sedentas do juiz da operação que poderia se chamar limpeza da imundície, que vem realizando trabalho ultraexemplar, por não ter cedido à dominação política nem às influências do poder, ao mostrar que a Justiça precisa ser aplicada integral e de forma isonômica sobre os atos contrários aos princípios da dignidade e da honestidade, não levando em conta a relevância das pessoas envolvidas, eis que os fatos delituosos precisam ser punidos na forma da lei, que não condiz com a concessão de privilégios.
É induvidoso que o gesto de a presidente do país de aquiescer com a esquisita integração de seu padrinho político ao seu governo contribui ainda mais, em potencial, para o seu enfraquecimento moral, por se tratar de gesto absolutamente questionável, por não se originar em situação natural, ou seja, em pleno reconhecimento pelo sistema do mérito e do profissionalismo, como fazem os países sérios e desenvolvidos democraticamente, mas sim por simples imposição de simpatia pessoal que tem por propósito contribuir para a proteção do petista contra a correta ação da Justiça de apurar, em decorrência da sua incumbência constitucional e legal, possíveis fatos delituosos, que precisam ser esclarecidos em benefício do interesse público.
À toda evidência, o gesto da presidente pode contribuir para se perpetuar a ideia maligna e inadmissível da impunidade, agora claramente protegida pela mandatária do país, que passa a ser cúmplice, diante de suas concretas manifestações de apoio ao seu correligionário de partido, quando ela, pela relevância do cargo que ocupa, deveria ficar totalmente afastada dos acontecimentos, até mesmo quanto à opinião em defesa do ex-presidente, que compete, por conta própria, se defender, mostrando a licitude dos atos que o envolvem, quanto mais tendo-se em conta que ele é, na sua opinião, o homem mais puro e honesto do país, que não precisa, por isso, de ajuda de ninguém para se defender.    
Não há a menor dúvida de que, ao se cogitar pôr gracioso ministério no colo do ex-presidente, há explícito sentimento que esse gesto consolida, de forma muita clara, a vontade de encobrir algo que a sociedade já sabe muito bem do que se trata, que é dificultar, ao máximo e o quanto mais possíveis, a revelação da verdade real sobre fatos que envergonham a sensibilidade de um povo, que tanto aspira por dignidade e honestidade na política e na administração do país, que foram mandadas há muito tempo para o espaço sideral, tornando cada vez mais impossível a moralização tão ansiada pelos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 09 de março de 2016

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