Segundo notícia divulgada pela
mídia, a presidente da República teria aceitado a ideia de convidar o seu
antecessor para exercer o cargo de titular de ministério na Esplanada mais
esplendorosa do país, onde se desfilam plêiade de dezenas de ministros, muitos
dos quais a título de recompensa por apoio aos projetos de interesse da
presidente do país, no Congresso Nacional, em obrigatoriedade de fidelidade ao
Palácio do Planalto.
Ao que se anuncia, a medida
teria por objetivo se evitar que o petista-mor seja preso, em razão dos fatos investigados
na Operação Lava-Jato, por ordem do juiz federal que comanda as operações pertinentes
ao escândalo do petrolão, onde há fortes indícios de que o petista teria sido
beneficiário de dinheiro desviado da Petrobras, com reformas em imóveis e repasses
de recursos sob o título de pagamento de palestras, muitas das quais estranhas
a diretores da construtora contratante, segundo relato de investigações
realizadas por força-tarefa da citada operação.
Em conformidade com nota da
coluna Painel, da Folha de S. Paulo,
ministros da intimidade da presidente do país e do petista tentam convencê-lo a
aceitar a generosa oferta, como forma de tentativa de salvação política dos
dois mais importantes petistas, que se encontram envolvidos em questões ultraescabrosas,
sob suspeitas das práticas de irregularidades levantadas, respectivamente, pelo
Tribunal de Contas da União, de que tratam as famigeradas pedaladas fiscais, e
pela Operação Lava-Jato, na forma indicada acima.
A situação do petista se complicou bastante com a
sua condução coercitiva pela Polícia Federal, para prestar depoimento sob grave
suspeita de seu envolvimento nos fatos objeto da Operação Lava-Jato, que se
tornou cada vez mais possível a sua condenação, à luz dos elementos de prova já
obtidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.
Ao transformar o ex-presidente
em ministro, ele teria o benefício de foro privilegiado e qualquer ação contra ele
dependeria do aval do Supremo Tribunal Federal para ganhar trâmite, além de ser
blindado automaticamente contra as garras afiadas do juiz que preside a mais
competente equipe de investigação da história republicana, que foi capaz de pôr
no xadrez figurões da política, do mundo empresarial e de muitas importantes
personalidades brasileiras.
Essa já é a segunda vez que se
cogita colocar o ex-presidente na direção de ministério, com a finalidade
exclusiva de catapultá-lo para situação confortável de privilégio, na tentativa
de livrá-lo das garras sedentas do juiz da operação que poderia se chamar
limpeza da imundície, que vem realizando trabalho ultraexemplar, por não ter
cedido à dominação política nem às influências do poder, ao mostrar que a
Justiça precisa ser aplicada integral e de forma isonômica sobre os atos
contrários aos princípios da dignidade e da honestidade, não levando em conta a
relevância das pessoas envolvidas, eis que os fatos delituosos precisam ser
punidos na forma da lei, que não condiz com a concessão de privilégios.
É induvidoso que o gesto de a
presidente do país de aquiescer com a esquisita integração de seu padrinho
político ao seu governo contribui ainda mais, em potencial, para o seu enfraquecimento
moral, por se tratar de gesto absolutamente questionável, por não se originar em
situação natural, ou seja, em pleno reconhecimento pelo sistema do mérito e do
profissionalismo, como fazem os países sérios e desenvolvidos democraticamente,
mas sim por simples imposição de simpatia pessoal que tem por propósito
contribuir para a proteção do petista contra a correta ação da Justiça de apurar,
em decorrência da sua incumbência constitucional e legal, possíveis fatos
delituosos, que precisam ser esclarecidos em benefício do interesse público.
À toda evidência, o gesto da
presidente pode contribuir para se perpetuar a ideia maligna e inadmissível da
impunidade, agora claramente protegida pela mandatária do país, que passa a ser
cúmplice, diante de suas concretas manifestações de apoio ao seu
correligionário de partido, quando ela, pela relevância do cargo que ocupa,
deveria ficar totalmente afastada dos acontecimentos, até mesmo quanto à opinião
em defesa do ex-presidente, que compete, por conta própria, se defender,
mostrando a licitude dos atos que o envolvem, quanto mais tendo-se em conta que
ele é, na sua opinião, o homem mais puro e honesto do país, que não precisa, por
isso, de ajuda de ninguém para se defender.
Não
há a menor dúvida de que, ao se cogitar pôr gracioso ministério no colo do
ex-presidente, há explícito sentimento que esse gesto consolida, de forma muita
clara, a vontade de encobrir algo que a sociedade já sabe muito bem do que se
trata, que é dificultar, ao máximo e o quanto mais possíveis, a revelação da verdade
real sobre fatos que envergonham a sensibilidade de um povo, que tanto aspira
por dignidade e honestidade na política e na administração do país, que foram
mandadas há muito tempo para o espaço sideral, tornando cada vez mais
impossível a moralização tão ansiada pelos brasileiros. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 09 de março de 2016
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