terça-feira, 1 de março de 2016

A verdade, em dose...


A construtora Odebrecht, enfim, admitiu sua ligação com as questionadas obras no famoso sítio de Atibaia (SP), frequentado pela família do ex-presidente da República petista, cujas reformas foram realizadas no ano de 2010, ainda quando ele ocupava o principal cargo do país.
A empreiteira disse, em nota, que teria feito verificação interna, tendo encontrado elementos que comprovam que um engenheiro do seu quadro de pessoal atual na reforma da propriedade rural objeto da investigação da Operação Lava-Jato, em atendimento de pedido de um superior hierárquico da empresa.  
Segundo a construtora, seu engenheiro “realizou acompanhamento técnico de obras” e “apoiou a mobilização de pessoas envolvidas na execução dos serviços, que foram remunerados pelo responsável pelas obras.”.
A empreiteira informou que seu engenheiro, que ficou conhecido por ter acompanhado as obras do estádio de futebol do Corinthians, construído para Copa de 2014, teria trabalhado nas obras do sítio, no período entre a segunda quinzena de dezembro de 2010 a meados de janeiro de 2011.
A manifestação da construtora, agora, muda completamente a sua versão anterior, firmada à Folha, de que tinha identificado “relação da empresa com a obra”, evidentemente na suposição de que o caso não iria a adiante, à vista de envolver pessoa com enorme influência na política e no poder.
Em depoimento prestado aos procuradores da Operação Lava-Jato, no último dia 22, o engenheiro, possivelmente diante de novas revelações sobre as obras, também mudou a versão dada à reportagem da Folha, ao dizer que havia trabalhado nas férias, gratuitamente, para ajudar a um amigo, versão que foi mudada um pouco, quando disse depois que ele teria atuado na obra a pedido de um chefe da Odebrecht.
Ainda na nota, a construtora esclarece que não “custeou de qualquer modo insumos ou materiais utilizados”, nem foi remunerada pelos serviços prestados no imóvel em apreço.
Não obstante, essa versão bate de frente com afirmações feitas à Folha, pela pessoa que vendeu os materiais e produtos destinados às obras do sítio. Segundo ela, a Odebrecht bancou sim parte das obras, que teriam consumido aproximadamente o valor de R$ 500 mil somente em materiais e que os pagamentos dos produtos foram feitos com dinheiro em espécie, por mensageiro que carregava os valores em envelopes dentro de mala.   
Não há a menor dúvida de que chega a ser extremamente irritante a forma debochada dos envolvidos em malfeitos, sempre tentando fugir dos fatos verdadeiros, mas eles terminam se rendendo à realidade, porque a sua materialização é sempre imponderável e imutável e ela, mais cedo ou mais tarde, termina vindo à tona, por mais que tentem escondê-la, como nesse caso, que, enfim, já se tem o limiar do fio da meada, que levará ao epicentro de mais um ruidoso episódio envolvendo homem público, que tem o dever de dar bons exemplos de honestidade e de dignidade.
É evidente que nos casos escabrosos, cuja transparência pode normalmente causar enormes transtornos, o nome do superior da empreiteira não foi declinado, obviamente para tornar difícil o trabalho inerentes às investigações, que por certo não se satisfazem somente com as lacônicas e insuficientes informações sobre os fatos.
Igualmente com o propósito de não revelar a identidade sobre o real interessado pela execução das obras, não se sabe quem é o responsável que fez o pagamento ao pessoal que participou da reforma, em clara demonstração da falta de honestidade, diante da omissão da verdade, que naturalmente virá à lume, a exemplo desta revelação da construtora, que admite ter participado das questionadas reformas, quando antes ela era negada.
Não fica nada bem para a empreiteira continuar contribuindo para a omissão da verdade, porque isso somente evidencia o acobertamento de algo irregular, que possa vir a comprometer a reputação de alguém que tem o dever moral e ético de ser absolutamente transparente.
De qualquer modo, a confissão de ter participado das obras, apenas com seu engenheiro, já é algo importante como admissão da prática irregular, cabendo às investigações aprofundarem seus trabalhos, com vistas à revelação da verdade real, cujas consequências precisam servir de lição para os bons homens públicos, que devem se espelhar somente em realizações honestas e saudáveis para a construção do bem comum e da edificação social. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de março de 2016

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