A
construtora Odebrecht, enfim, admitiu sua ligação com as questionadas obras no
famoso sítio de Atibaia (SP), frequentado pela família do ex-presidente da
República petista, cujas reformas foram realizadas no ano de 2010, ainda quando
ele ocupava o principal cargo do país.
A
empreiteira disse, em nota, que teria feito verificação interna, tendo
encontrado elementos que comprovam que um engenheiro do seu quadro de pessoal
atual na reforma da propriedade rural objeto da investigação da Operação
Lava-Jato, em atendimento de pedido de um superior hierárquico da empresa.
Segundo
a construtora, seu engenheiro “realizou
acompanhamento técnico de obras” e “apoiou
a mobilização de pessoas envolvidas na execução dos serviços, que foram
remunerados pelo responsável pelas obras.”.
A
empreiteira informou que seu engenheiro, que ficou conhecido por ter
acompanhado as obras do estádio de futebol do Corinthians, construído para Copa
de 2014, teria trabalhado nas obras do sítio, no período entre a segunda
quinzena de dezembro de 2010 a meados de janeiro de 2011.
A
manifestação da construtora, agora, muda completamente a sua versão anterior,
firmada à Folha, de que tinha
identificado “relação da empresa com a
obra”, evidentemente na suposição de que o caso não iria a adiante, à vista
de envolver pessoa com enorme influência na política e no poder.
Em
depoimento prestado aos procuradores da Operação Lava-Jato, no último dia 22, o
engenheiro, possivelmente diante de novas revelações sobre as obras, também
mudou a versão dada à reportagem da Folha,
ao dizer que havia trabalhado nas férias, gratuitamente, para ajudar a um
amigo, versão que foi mudada um pouco, quando disse depois que ele teria atuado
na obra a pedido de um chefe da Odebrecht.
Ainda
na nota, a construtora esclarece que não “custeou
de qualquer modo insumos ou materiais utilizados”, nem foi remunerada pelos
serviços prestados no imóvel em apreço.
Não
obstante, essa versão bate de frente com afirmações feitas à Folha, pela pessoa que vendeu os
materiais e produtos destinados às obras do sítio. Segundo ela, a Odebrecht
bancou sim parte das obras, que teriam consumido aproximadamente o valor de R$
500 mil somente em materiais e que os pagamentos dos produtos foram feitos com
dinheiro em espécie, por mensageiro que carregava os valores em envelopes
dentro de mala.
Não
há a menor dúvida de que chega a ser extremamente irritante a forma debochada
dos envolvidos em malfeitos, sempre tentando fugir dos fatos verdadeiros, mas
eles terminam se rendendo à realidade, porque a sua materialização é sempre
imponderável e imutável e ela, mais cedo ou mais tarde, termina vindo à tona, por
mais que tentem escondê-la, como nesse caso, que, enfim, já se tem o limiar do
fio da meada, que levará ao epicentro de mais um ruidoso episódio envolvendo
homem público, que tem o dever de dar bons exemplos de honestidade e de
dignidade.
É
evidente que nos casos escabrosos, cuja transparência pode normalmente causar enormes
transtornos, o nome do superior da empreiteira não foi declinado, obviamente para
tornar difícil o trabalho inerentes às investigações, que por certo não se
satisfazem somente com as lacônicas e insuficientes informações sobre os fatos.
Igualmente
com o propósito de não revelar a identidade sobre o real interessado pela
execução das obras, não se sabe quem é o responsável que fez o pagamento ao
pessoal que participou da reforma, em clara demonstração da falta de
honestidade, diante da omissão da verdade, que naturalmente virá à lume, a
exemplo desta revelação da construtora, que admite ter participado das
questionadas reformas, quando antes ela era negada.
Não
fica nada bem para a empreiteira continuar contribuindo para a omissão da
verdade, porque isso somente evidencia o acobertamento de algo irregular, que
possa vir a comprometer a reputação de alguém que tem o dever moral e ético de
ser absolutamente transparente.
De
qualquer modo, a confissão de ter participado das obras, apenas com seu
engenheiro, já é algo importante como admissão da prática irregular, cabendo às
investigações aprofundarem seus trabalhos, com vistas à revelação da verdade
real, cujas consequências precisam servir de lição para os bons homens
públicos, que devem se espelhar somente em realizações honestas e saudáveis para
a construção do bem comum e da edificação social. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de março de 2016
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