sábado, 5 de março de 2016

O declínio do mito


Em reação bastante imprevisível, foi exatamente da maneira a seguir que o ex-presidente da República petista mostrou a sua indignação contra a condução coercitiva determinada contra ele, para depor diante da Justiça Federal, in verbis: “Embora tenham me ofendido e me magoado, embora eu me sinta ultrajado, como se fosse prisioneiro, apesar do tratamento cortês dos delegados da PF, quero dizer que, se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. E a jararaca está viva, como sempre esteve.”.
          Não há a menor dúvida de que a decisão do juiz comandante da Operação Lava-Jato reafirmou sua condição de fazedor de história na República tupiniquim, principalmente porque ninguém teve coragem de peitar o homem mais poderoso, politicamente, do país, ao dar demonstração de autonomia da Justiça e deixar muito claro que os brasileiros estão submissos ao primado dos princípios constitucionais, entre os quais o da igualdade em direitos e obrigações, e ninguém pode se julgar com privilégios nem acima da lei, nem mesmo sob o argumento de que foi presidente do país, porque isso é apenas mais a obrigação de se igualar aos demais cidadãos normais, que jamais poderá exigir tratamento excepcional não previsto na Lei Maior da nação.
A assepsia moral que a Operação Lava-Jato vem impondo, sobretudo, com estrita observância à legislação pátria, concede àquele juiz autoridade para determinar ações e investigações necessárias à verificação da regularidade sobre casos suspeitos, não importando quem esteja envolvido, porque os atos com indício de irregularidade precisam ser apurados, mesmo que seja preciso investigar ex-presidente do país, que não pode se julgar imune à ação do Poder Judiciário, mesmo que não goste ou se mostre indignado, o que é bem próprio das autoridades tupiniquins, que sempre se acham com plenos poderes, inclusive com capacidade para evitar que fatos inquinados de irregulares possam ser apurados, para se verificar a verdade sobre eles.
É certo que o juiz pressentiu que poderia haver reação violenta com a condução coercitiva do todo-poderoso, tanto que ele assim escreveu no despacho: “Colhendo o depoimento mediante condução coercitiva, são menores as probabilidades de que algo semelhante ocorra, já que essas manifestações não aparentam ser totalmente espontâneas”. Ele ainda foi extremamente cauteloso, quando determinou que não fosse usada algema, nem permitida filmagem do deslocamento do petista, tendo estabelecido que o mandado só deveria “ser utilizado e cumprido, caso o ex-presidente, convidado a acompanhar a autoridade policial para depoimento, se recusas­se a fazê­-lo”.
O juiz acertou em cheio, porque houve confrontos entre manifestantes petistas e antipetistas, em clara evidência de que as reações poderiam ter sido ainda piores se a imagem do petista fosse mostrada em situação de degeneração humana, ao ser conduzido algemado e sob vara, fatos que certamente teriam contribuído ainda mais em favor do petista, que iria se valer mais do que o explorado como mártir, vítima e extrema perseguição política, como se político importante como ele não pudesse se beneficiar, às claras, dos mimos das empreiteiras, que repassaram mais de 30 milhões de reais, somente a título de pagamento de palestras, que sabidamente e de sã consciência, não podem valer esse absurdo de dinheiro, por mais valiosas que elas possam transmitir para seus ávidos ouvintes.
É evidente que o ex-presidente procurou tirar proveito da situação criada pela condução coercitiva para armar o seu próprio circo, com a dramatização jamais encenada no palco petista, tendo ele mandado recados insinuantes e  violentos para a Justiça, o Ministério Público, a Polícia Federal, o juiz do caso e todos que apoiaram a medida de suma importância para a elucidação de mais esse rumoroso escândalo, que tem por conflito possível desvio de recursos públicos para satisfazer o ego de político com repasses de dinheiro, sob motivações nada convincentes, reformas de imóveis e outros mimos que são certamente contrários aos princípios da moralidade, legalidade, dignidade e honestidade.
É induvidoso que os fatos irregulares elencados pelo Ministério Público são nada compatíveis com as atividades de homem público que devem ter a conduta sempre ilibada e insuspeita sobre qualquer registro na vida pública, conquanto o ex-presidente não teve a humildade de sequer se referir quanto aos fatos pertinentes às reformas em imóveis que, juridicamente, não são dele, mas o usufruto já ficou demonstrado que é dele e da sua família, e isso é completamente incompatível para quem se diz o homem mais honesto do Brasil.
Em termos jurídicos, é indiscutível que a decisão de submeter o petista a interrogatório é rigorosamente incontestável, à vista das argumentações e dos elementos objetivamente elencados no competente e abalizado pedido do Ministério Público Federal, para fundamentar com bases sólidas, fortes, sobejas e documentadas as evidências contra o ex-presidente, entre os quais o que diz que “Diversos fatos vinculados ao esquema que fraudou as licitações da Petrobras apontam que o ex-presidente da República Lula tinha ciência do estratagema criminoso e dele se beneficiou”.
À vista da pletora motivação dos fatos irregulares cujas autorias são atribuídas ao petista, é sobejamente justificável, sob o ponto de vista jurídico, a decisão de submetê-lo à coerção, que, como visto, serviu para contribuir como estopim para acirrar ainda mais o clima já exaltado na política brasileira, que certamente não ajuda, ao contrário, para sequer minimizar as crises que grassam no país, que sangra e sofre com a degeneração da economia, à vista do flagelo da recessão e das suas maléficas consequências para os brasileiros.
Não há dúvida de que o cenário político pode ter mudado com os fatos emergidos em plena efervescência das investigações objeto da Operação Lava-Jato, que tem agora no seu epicentro a figura do principal político brasileiro, que soube muito bem aproveitar a situação para tentar tirar proveito e desempenhar papel de destaque que já se tornou sua especialidade, qual seja, de se julgar eterna vítima das “elites” e da burguesia e com isso tentar inflamar os militantes petistas e criar clima de conflagração, que somente interessa à decadência da política brasileira, porque o país necessita mesmo é de muita paz e tranquilidade, para, pelo menos, não haver maior prejuízo aos interesses nacionais.
Urge que os verdadeiros brasileiros se conscientizem sobre a extrema permissividade causada aos país por maus homens públicos, que se beneficiam de esquemas de desvios de recursos públicos, por meios de procedimentos fraudulentos e deletérios do patrimônio da nação, e ainda tentam se passar como vítimas, justamente para tirar proveito da ingenuidade e da desinformação de muitos cidadãos que ainda acreditam na dramatização ensaiada e demagógica de político que não consegue, mesmo que minimamente, justificar a sua milionária fortuna, acumulada em tão pouco tempo, que acha engraçado que se censurem a aquisição com recursos públicos de pedalinhos para o uso da sua família, como se isso fosse absolutamente normal, mesmo que isso demonstra, de forma cristalina, flagrante desprezo aos consagrados princípios da moralidade, dignidade e honestidade. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 05 de março de 2016

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