Nunca
na história deste país, um político esforçou-se tanto para manter viva a imagem
de homem comum, de pessoa acima de tudo muito honesta, tão somente em razão de
ter exercido o poder em sua plenitude e permanecido impermeável às suspeitas da
prática de atos ilícitos.
Na
verdade, para os ingênuos e desinformados, esse homem público residia no mesmo
apartamento sem sofisticação em São Bernardo do Campo (SP) e conservava hábitos
simples, dando a entender que era realmente o homem do povão, mostrando
exatamente que a verdade estava bastante distante da pobreza, porque, por
detrás dos holofotes, o ex-presidente se dava muito bem com a vida real de
pompas, sob cultivos de hábitos sofisticados, bancados por muito dinheiro que o
tornara milionário, em pouco tempo e sem muito esforço.
Conforme
os levantamentos realizados pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, a origem da
dinheirama acumulada por ele, em parte substancial, está nas empreiteiras
acusadas de envolvimento do bilionário esquema de desvio de recursos da
Petrobras, que foi arquitetado e implementado em seu governo.
Não obstante, o mito
começou a ruir e desandar a partir das investigações promovidas pela aludida
operação, que levantaram importantes sinais de que o ex-presidente, seus
filhos, parentes, amigos e aliados estavam participando, de algum modo, do colossal
monumento erigido com recursos do maior escândalo já descoberto no país
tupiniquim.
Com
a finalidade de se aproximar um pouco da realidade do homem milionário, o
petista inventou de comprar um apartamento tríplex e um sítio nas montanhas do
interior de São Paulo, que jamais estiveram registrados em nome dele, como
proprietário, mas ambos passaram por suntuosas reformas, além de terem sido equipados
por empreiteiras que estão sendo investigadas pela Operação Lava-Jato, por
suspeita de atos de corrupção.
O
petista resolveu enviar para o sítio parte da sua mudança, logo que deixou o Palácio
do Planalto, mas o imóvel se encontra registrado nome de dois sócios de seu
filho mais velho, enquanto o tríplex sempre esteve no nome da construtora OAS,
uma das maiores empreiteiras acusadas da distribuição de propinas a partidos e
políticos em troca de contratos na Petrobras.
Embora
o ex-presidente continue negando, de forma peremptória, ser o dono dos citados
imóveis, a Polícia Federal e procuradores não têm dúvidas de que os cofres das
empreiteiras do petrolão patrocinaram a compra do sítio, em 2010, meses antes
de o petista deixar a Presidência da República, que teria sido belo presente,
segundo suspeição de investigadores, recebido por ele quando ainda era
presidente do país, fato que configuraria crime de corrupção e de improbidade
administrativa.
Com
a finalidade de satisfazer o ego do petista, as empreiteiras também não
esqueceram de cuidar dos detalhes para que a propriedade ficasse ao gosto de dele
e de sua família, tendo bancado as obras de sofisticada reforma no sítio, como
a construção de nova sede, com quatro confortáveis suítes e um tanque para
pescaria, para que o conforto fosse a tônica do mimo àquele que soube construir
círculo invejável de amizade disposta a acomodá-lo com o luxo da melhor qualidade,
porquanto elas pagaram até a mobília, cujos móveis da cozinha foram
encomendados pela OAS, em uma loja de primeira linha de luxo.
Conforme
reportagem da revista VEJA, o
ex-presidente teria convencido a OAS a assumir as obras inacabadas da Bancoop, depois
de ter ido à bancarrota após desviar, de forma irresponsável, o dinheiro de associados
para os cofres do PT, segundo alegam os associados lesados.
A
OAS assumiu também o projeto onde o ex-presidente teria uma unidade, possivelmente
para que ele não sofresse prejuízo, com a tirada do projeto do prédio do papel,
em clara demonstração de afago ao petista, com a reserva para ele do tríplex,
na cobertura do edifício, e o cuidado para que, nos moldes do agrado feito no
sítio, o apartamento ficasse ao pleno gosto da família.
De
acordo com a citada revista, a empreiteira teria investido quase R$ 800 mil
apenas na reforma, que deixou o imóvel com um elevador privativo e equipamentos
de lazer de primeiríssima qualidade, que foram aprovados, em visita ao local,
pelo petista e pela ex-primeira-dama, que passariam a desfrutar das benesses
promovidas pela OAS não fosse o surgimento das investigações da Operação
Lava-Jato, que atrapalharam os belos planos do ex-presidente, que alegou que
tinha apenas opção de compra do tríplex.
A
VEJA também revelou que a LILS,
empresa de palestras aberta pelo petista, recebera R$ 10 milhões somente das
empreiteiras investigadas pela Operação Lava-Jato, sob suspeitas de que as
transações não se sustentam, uma vez que há forte indício de que os pagamentos serviram,
na verdade, para a maquiagem de vantagens indevidas repassadas ao presidente,
que as teria recebido por "serviços" prestados às empreiteiras.
O
caso se torna mais escabroso e emblemático porque executivos da OAS, ouvidos
pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, afirmaram à Polícia Federal que não se
recordavam de palestras proferidas pelo ex-presidente na empreiteira, em que
pese constar que a OAS pagou a cifra de R$ 1,2 milhão à LILS.
O
Instituto Lula, entidade sem fins lucrativos criada pelo petista com o
propósito altruísta de acabar com a fome na África e desenvolver a América
Latina, também era destinatário de repasses milionários das companhias que
fraudaram a Petrobras, a exemplo dos R$ 34,9 milhões recebidos pelo instituto
entre 2011 e 2014, a título de doações, quando R$ 20,7 milhões foram repassados
pelas quatro principais construtoras investigadas no caso do petrolão.
Diante dos repasses
milionários e da pouca consistência quanto à sua legitimidade, o Ministério
Público Federal houve por bem pedir que o ex-presidente prestasse depoimento,
tendo em vista que "Há elementos de
prova de que Lula tinha ciência do esquema criminoso engendrado em desfavor da
Petrobras, e também de que recebeu, direta e indiretamente, vantagens indevidas
decorrentes dessa estrutura delituosa".
É impressionante como, diante dos robustos fatos
suspeitos de irregulares que teriam beneficiado o ex-presidente, graças à sua
influência política, conforme a forte evidência da sua materialidade, ainda
existem pessoas fanatizadas e ingênuas que acreditam na inocência dele, à vista
da presença daqueles que o aplaudia com efusão, em clara demonstração de
ruidoso estímulo à impunidade.
Nunca na história do Brasil, um político conseguiu
tanta notoriedade, no país e no exterior, com a disseminação de elevadíssimas
hipocrisia e demagogia, que foram capazes de endeusá-lo e colocá-lo no topo da
maior autoridade do país, em que pesem a robusteza e a convicção dos
procuradores sobre a materialização de fatos que mostram o quanto ele foi
sagazmente inteligente para, do nada, sob a realização de palestras, não
confirmadas por pessoas ligadas a uma contratante, acumular incalculável
fortuna sabidamente proveniente de recursos desviados da Petrobras, cujo esquema
teve origem no governo dele, que cuidou do aparelhamento da estatal com pessoas
qualificadas para a prática de atos delituosos, conforme mostram os fatos apurados.
Os brasileiros têm o dever cívico de se mobilizar no
sentido de repudiar, com veemência, as práticas odiosas de dilapidação do seu
patrimônio por homens públicos que têm a obrigação moral e patriótica de zelar
e defender o interesse nacional, em razão da sua relevante responsabilidade pelo
cultivo dos princípios da dignidade e da nobreza que devem inspirar as
atividades político-partidárias. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de março de 2016
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