segunda-feira, 7 de março de 2016

Estímulo à impunidade


Nunca na história deste país, um político esforçou-se tanto para manter viva a imagem de homem comum, de pessoa acima de tudo muito honesta, tão somente em razão de ter exercido o poder em sua plenitude e permanecido impermeável às suspeitas da prática de atos ilícitos.
Na verdade, para os ingênuos e desinformados, esse homem público residia no mesmo apartamento sem sofisticação em São Bernardo do Campo (SP) e conservava hábitos simples, dando a entender que era realmente o homem do povão, mostrando exatamente que a verdade estava bastante distante da pobreza, porque, por detrás dos holofotes, o ex-presidente se dava muito bem com a vida real de pompas, sob cultivos de hábitos sofisticados, bancados por muito dinheiro que o tornara milionário, em pouco tempo e sem muito esforço.
Conforme os levantamentos realizados pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, a origem da dinheirama acumulada por ele, em parte substancial, está nas empreiteiras acusadas de envolvimento do bilionário esquema de desvio de recursos da Petrobras, que foi arquitetado e implementado em seu governo.
Não obstante, o mito começou a ruir e desandar a partir das investigações promovidas pela aludida operação, que levantaram importantes sinais de que o ex-presidente, seus filhos, parentes, amigos e aliados estavam participando, de algum modo, do colossal monumento erigido com recursos do maior escândalo já descoberto no país tupiniquim.
Com a finalidade de se aproximar um pouco da realidade do homem milionário, o petista inventou de comprar um apartamento tríplex e um sítio nas montanhas do interior de São Paulo, que jamais estiveram registrados em nome dele, como proprietário, mas ambos passaram por suntuosas reformas, além de terem sido equipados por empreiteiras que estão sendo investigadas pela Operação Lava-Jato, por suspeita de atos de corrupção.
O petista resolveu enviar para o sítio parte da sua mudança, logo que deixou o Palácio do Planalto, mas o imóvel se encontra registrado nome de dois sócios de seu filho mais velho, enquanto o tríplex sempre esteve no nome da construtora OAS, uma das maiores empreiteiras acusadas da distribuição de propinas a partidos e políticos em troca de contratos na Petrobras.
Embora o ex-presidente continue negando, de forma peremptória, ser o dono dos citados imóveis, a Polícia Federal e procuradores não têm dúvidas de que os cofres das empreiteiras do petrolão patrocinaram a compra do sítio, em 2010, meses antes de o petista deixar a Presidência da República, que teria sido belo presente, segundo suspeição de investigadores, recebido por ele quando ainda era presidente do país, fato que configuraria crime de corrupção e de improbidade administrativa.
Com a finalidade de satisfazer o ego do petista, as empreiteiras também não esqueceram de cuidar dos detalhes para que a propriedade ficasse ao gosto de dele e de sua família, tendo bancado as obras de sofisticada reforma no sítio, como a construção de nova sede, com quatro confortáveis suítes e um tanque para pescaria, para que o conforto fosse a tônica do mimo àquele que soube construir círculo invejável de amizade disposta a acomodá-lo com o luxo da melhor qualidade, porquanto elas pagaram até a mobília, cujos móveis da cozinha foram encomendados pela OAS, em uma loja de primeira linha de luxo. 
Conforme reportagem da revista VEJA, o ex-presidente teria convencido a OAS a assumir as obras inacabadas da Bancoop, depois de ter ido à bancarrota após desviar, de forma irresponsável, o dinheiro de associados para os cofres do PT, segundo alegam os associados lesados.
A OAS assumiu também o projeto onde o ex-presidente teria uma unidade, possivelmente para que ele não sofresse prejuízo, com a tirada do projeto do prédio do papel, em clara demonstração de afago ao petista, com a reserva para ele do tríplex, na cobertura do edifício, e o cuidado para que, nos moldes do agrado feito no sítio, o apartamento ficasse ao pleno gosto da família.
De acordo com a citada revista, a empreiteira teria investido quase R$ 800 mil apenas na reforma, que deixou o imóvel com um elevador privativo e equipamentos de lazer de primeiríssima qualidade, que foram aprovados, em visita ao local, pelo petista e pela ex-primeira-dama, que passariam a desfrutar das benesses promovidas pela OAS não fosse o surgimento das investigações da Operação Lava-Jato, que atrapalharam os belos planos do ex-presidente, que alegou que tinha apenas opção de compra do tríplex.
A VEJA também revelou que a LILS, empresa de palestras aberta pelo petista, recebera R$ 10 milhões somente das empreiteiras investigadas pela Operação Lava-Jato, sob suspeitas de que as transações não se sustentam, uma vez que há forte indício de que os pagamentos serviram, na verdade, para a maquiagem de vantagens indevidas repassadas ao presidente, que as teria recebido por "serviços" prestados às empreiteiras.
O caso se torna mais escabroso e emblemático porque executivos da OAS, ouvidos pela força-tarefa da Operação Lava-Jato, afirmaram à Polícia Federal que não se recordavam de palestras proferidas pelo ex-presidente na empreiteira, em que pese constar que a OAS pagou a cifra de R$ 1,2 milhão à LILS.
          O Instituto Lula, entidade sem fins lucrativos criada pelo petista com o propósito altruísta de acabar com a fome na África e desenvolver a América Latina, também era destinatário de repasses milionários das companhias que fraudaram a Petrobras, a exemplo dos R$ 34,9 milhões recebidos pelo instituto entre 2011 e 2014, a título de doações, quando R$ 20,7 milhões foram repassados pelas quatro principais construtoras investigadas no caso do petrolão.
       Diante dos repasses milionários e da pouca consistência quanto à sua legitimidade, o Ministério Público Federal houve por bem pedir que o ex-presidente prestasse depoimento, tendo em vista que "Há elementos de prova de que Lula tinha ciência do esquema criminoso engendrado em desfavor da Petrobras, e também de que recebeu, direta e indiretamente, vantagens indevidas decorrentes dessa estrutura delituosa".
É impressionante como, diante dos robustos fatos suspeitos de irregulares que teriam beneficiado o ex-presidente, graças à sua influência política, conforme a forte evidência da sua materialidade, ainda existem pessoas fanatizadas e ingênuas que acreditam na inocência dele, à vista da presença daqueles que o aplaudia com efusão, em clara demonstração de ruidoso estímulo à impunidade.
Nunca na história do Brasil, um político conseguiu tanta notoriedade, no país e no exterior, com a disseminação de elevadíssimas hipocrisia e demagogia, que foram capazes de endeusá-lo e colocá-lo no topo da maior autoridade do país, em que pesem a robusteza e a convicção dos procuradores sobre a materialização de fatos que mostram o quanto ele foi sagazmente inteligente para, do nada, sob a realização de palestras, não confirmadas por pessoas ligadas a uma contratante, acumular incalculável fortuna sabidamente proveniente de recursos desviados da Petrobras, cujo esquema teve origem no governo dele, que cuidou do aparelhamento da estatal com pessoas qualificadas para a prática de atos delituosos, conforme mostram os fatos apurados.
Os brasileiros têm o dever cívico de se mobilizar no sentido de repudiar, com veemência, as práticas odiosas de dilapidação do seu patrimônio por homens públicos que têm a obrigação moral e patriótica de zelar e defender o interesse nacional, em razão da sua relevante responsabilidade pelo cultivo dos princípios da dignidade e da nobreza que devem inspirar as atividades político-partidárias. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 07 de março de 2016

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