O
grampo da conversa do ex-presidente da República com a sua sucessora deu a
exata dimensão de como o poder é usado, nos bastidores, sob pilares de
artificialismo que funcionam com muita desenvoltura em prol e proteção de
interesses e conveniências pessoais, partidários, mostrando formas
inescrupulosas e nada republicanas, embora tenha sido nesse sentido que a
mandatária do país tentou justificar que a sua comunicação estivesse
relacionada com assuntos republicanos, quando, na verdade, ela tratava de socorrer
o seu padrinho político.
Não
à toa que a petista se esforçou, de forma indignada e desesperada, para tentar
desfazer a real finalidade de seu telefonema para o novel ministro da Casa
Civil, mas o máximo que ela conseguiu foi colocar mais lenha na fogueira da
desastrada interlocução presidencial, que teve o condão de levar para o seio do
conturbado Palácio da Alvorada questões relacionadas com a Operação Lava-Jato,
fazendo com que se complicasse, de forma irreversível, a já difícil situação
política brasileira, que passou a ficar mais insustentável.
Não
há dúvida de que a nomeação do ex-presidente para chefiar a Casa Civil,
principalmente no pior momento que ele vem atravessando, ante a intensificação
das investigações contra ele, tendo inclusive pedido de prisão sendo examinado
na Justiça, representou muita falta de sensibilidade política da petista,
diante da indiscutível tentativa de protegê-lo das garras implacáveis do juiz
de Curitiba, que tem sido temido por suas posições inflexíveis contra a corrupção
abrangidas nos esquemas que destruíram a Petrobras.
A
presidente demonstrou completo despreparo de não perceber que seu ato representou,
em essência, gigantesco erro diante da cristalina tentativa de transformá-lo em
ministro com o objetivo de tirar a investigação sobre ele da primeira instância
da Justiça, para dar-lhe foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal e
isso ficou patente na conversa entre ambos.
Por
seu turno, a fragilidade das justificativas oferecidas pela presidente somente
reforçou a veracidade da finalidade objeto da ligação, que era exatamente
blindar o ex-presidente, em caso da decretação da prisão dele, cuja artimanha
ganhou relevância e insustentabilidade com a desesperada e até inexplicável
pressa para a efetivação da nomeação e da posse dele como ministro, justamente
para se evitar que ele fosse preso.
A
conversa grampeada é assustadora quanto à sua finalidade, onde a presidente diz
que encaminhará ao petista o "termo de posse" de ministro para que
seja usado em caso de necessidade, dando clara interpretação que o diálogo tratava
da tentativa de se evitar a efetivação da prisão do petista, mesmo que
decretada.
Na
verdade, a presidente cometeu grave irregularidade administrativa, por ter tentado
socorrer o seu padrinho político, no momento em que ele se encontra no olho do
furacão da Operação Lava-Jato, tendo que responder a investigações sobre
possíveis apropriação indébita, quando a liturgia do cargo de Presidente da
República jamais poderia sequer pensar em prestar proteção a quem quer que
seja, diante dos princípios constitucionais da impessoalidade e da legalidade.
Embora
não fosse esse objetivo, há forte evidência que o episódio contribuiu para que a
Operação Lava-Jato adentrasse no Palácio do Planalto de forma definitiva,
ficando muito claro que a presidente não pode mais descartar a cola do
ex-presidente sob a sua proteção, fato que foi transformado em gigantesco problema
de difícil solução, quando se imaginava, sendo vozes palacianas, que “O objetivo inicial era de que ele ajudaria a
barrar o processo de impeachment.”, mas não há a menor dúvida de que o tiro
saiu pela culatra.
É
induvidoso que a presidente do país deixou muito claro que ela quis interferir
nos trabalhos da Operação Lava-Jato, tanto com relação ao caso da nomeação em
comento como nas informações constantes da delação do senador ex-líder do
governo.
O
episódio em apreço demonstra, com muita clareza, que a presidente do país se
encontra completamente atordoada, perdida e sem assessoramento adequado para
evitar desastre administrativo dessa magnitude, que feriu gravemente a liturgia
do cargo de presidente do país, com a tentativa de interferir diretamente nos
trabalhos da Justiça, na forma como ela deixou transparecer no seu telefonema,
cuja ato pode ter contribuído para apressar o processo da queda do governo,
ante a gravidade de sua atitude antirrepublicana, em injustificável proteção a
um amigo, fazendo uso da máquina pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de março de 2016
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