O
ex-presidente da República petista, que é alvo da Operação Lava-Jato, está
próximo de aceitar cargo de ministro especial de comandante da articulação
política do Palácio do Planalto com movimentos sociais e congressistas, com
vistas ao enfrentamento com a oposição, na batalha contra o impeachment contra a
presidente do país.
O
gigantismo das manifestações pelo impeachment contra a presidente brasileira e
a decisão da Justiça de São Paulo de transferir para o juiz de Curitiba a
deliberação sobre o pedido de prisão feito pelo Ministério Público Estadual cresceram
em muito as chances de o petista assumir uma pasta na Esplanada dos
Ministérios.
A
surpreendente reviravolta no seio do governo é vista como o último lance para se
evitar o impeachment contra a presidente, principalmente com poderes de
interlocução com o Congresso Nacional e com os movimentos sociais.
O
governo e os advogados do petista estudam as repercussões e possíveis empecilhos
jurídicos contra a nomeação dele para o exercício de ministro, embora não haja
dúvida de que essa medida não passa de manobra presidencial visando à obstrução
à Justiça, justamente porque ele é alvo da Operação Lava-Jato.
O
certo é que, no governo, o ex-presidente ganha prerrogativa de foro
privilegiado, em que os casos referentes às denúncias e às ações de
investigações passam a ser apreciadas e julgadas pelo Supremo Tribunal Federal
e não mais pelo juiz de Curitiba, que tem
sido implacável com investigados no escândalo do petrolão, cujo caso do
tríplex foi enviado para o juiz da Lava-Jato, que tem competência, agora, para
deliberar sobre o pedido de prisão do petista, formulado pela Ministério
Público de São Paulo.
O
ex-presidente foi muito claro, ao afirmar que “Eu quero ajudar a salvar o nosso projeto”, quando acertava, no
Palácio do Planalto, os detalhes sobre as suas novas funções, que foram aceitas
com respaldo na seguinte reflexão: “Tem
uma hora em que a guerra se torna tão difícil que precisamos agir rápido.”.
Não
se pode caracterizar como sendo crime de lesa-pátria a ida do petista para o
governo, por ele se encontrar sendo investigado sob suspeita da prática de atos
irregulares, envolvendo o beneficiamento em imóveis sob o usufruto dele e da
família dele, mas com certeza é bastante temerário que a mandatária do país
faça nomeação de pessoa que esteja nessas condições de investigado justamente
pela possibilidade de ter cometido crime de estelionato, falsidade ideológica,
organização criminosa e lavagem de dinheiro, somente no que diz respeito ao já
famoso tríplex, conforme a denúncia do Ministério Público de São Paulo, fato
que, por certo, a presidente do país terá dificuldade para defender a licitude
e a moralidade da nomeação em referência.
É
até possível que haja perseguição ao petista, mas compete a ele se defender e
mostrar a sua inculpabilidade por tudo que ele vem sendo acusado, porque, somente
depois de comprovada a sua inocência, com os meios probantes, é que a sua
nomeação para o cargo de ministro ganharia a indispensável legitimidade que se
espera de todos os servidores públicos, em termos da comprovação conduto
ilibada, porque, ao contrário, nas circunstâncias atuais, as conclusões são de
que ele estaria correndo do juiz de Curitiba, para ter foro privilegiado, que é
outro monstrinho jurídico que precisa acabar com urgência, ante o princípio com
sede constitucional, segundo o qual os brasileiros são iguais perante a lei, em
direitos e obrigações.
Não
se pode descartar a existência de situações com objetivos contrários aos
interesses do ex-presidente, até mesmo para inviabilizar o retorno dele à Presidência,
em 2018, mas o momento conturbado atual exige que os fatos que estão sendo
denunciados sejam esclarecidos da melhor forma possível, justamente para que
não fiquem dúvidas para serem discutidas no calor da campanha eleitoral, que
certamente poderão ser objeto de exploração por parte dos adversários.
A
verdade é que é preciso se reconhecer que a situação do país se encontra caótica,
à vista da terrível recessão, que arrasta para o olho do furacão, de forma bastante
dramática, o elevado custo de vida, os juros nas alturas, o temível desemprego,
a arrasadora desindustrialização, a redução de salários, a diminuição da
arrecadação, a falta de investimentos em serviços públicos de qualidade e obras
de infraestrutura, a impopularidade da presidente do país, conforme ficou muito
evidente nas manifestações de protestos das ruas e outras dificuldades que
estão contribuindo fortemente para que a economia passe por momento de retração
e retrocesso, com sérios prejuízos para os brasileiros.
Não
obstante, em que pese a degeneração das estruturas econômica, política e
administrativa, em clara demonstração de incompetência do governo, a presidente
do país dá prioridade à nomeação do ex-presidente para o cargo de ministro, na
tentativa de, nas palavras do petista: “Eu
quero ajudar a salvar o nosso projeto”, ou seja, salvar o governo da
presidente petista, dando a entender que os problemas do país fiquem em planos
secundários, em evidente demonstração de desprezo às causas nacionais e aos
interesses dos brasileiros.
Com
certeza, a ida do ex-presidente para o Palácio do Planalto vai simplesmente anuviar
a imagem da presidente do país, porque ele passará a fazer às vezes de
presidente de fato e isso não é bom para a imagem da principal autoridade que
foi eleita para governar a nação, que, de repente, passa a ser figura apagada e
sem autonomia para coisa alguma, tudo em nome e sob o argumento de que é
necessário salvar o governo dela, não importando os fins para se alcançar os
meios, em que pese haver outros instrumentos legítimos para se tentar de
maneira transparente esse intento, sem que não houvesse a mínima dúvida quanto
às medidas adotadas.
Trata-se de nomeação com contorno de
indiscutível ilegitimidade, diante da cristalina caracterização do atendimento
de inescrupulosas conveniências pessoais e partidárias, em que a presidente diz
que precisa do prestígio do ex-presidente para barrar o processo contra o seu
impeachment no Congresso Nacional, que foi fortalecido depois das manifestações
de protestos dos brasileiros, que estão cada vez mais se conscientizando de que
o país está acéfalo, como uma nau sem rumo, prestes a naufragar a qualquer
momento, sem esperança de sobrevivente, diante da gravidade das crises que
deixaram a presidente desorientada e sem norte, que ainda insiste em
permanecer, sem a menor razão ou motivação, no comando da nação.
Lamentavelmente,
apesar da gravidade das crises política, econômica e administrativa, há, no
Brasil, inexplicável e injustificável ausência de mecanismo jurídico prevendo
que o governante deva ser avaliado, com vistas ao seu afastamento do cargo, por
meio de referendo popular, quando demonstrar incompetência, ineficiência,
inépcia, omissão e destruição das estruturas do Estado e que a sua continuidade
no cargo somente tem o condão de contribuir para potencializar os danos aos
interesses dos brasileiros, ou seja, o afastamento de administrador público
incapacitado para o exercício do cargo é medida preventiva que se impõe da mais
alta relevância, como forma de minimizar os prejuízos às causas nacionais.
Por
sua vez, a ida do petista para o ministério pode contribuir para que ele se
livre das garras do juiz de Curitiba, fato que deixa muito claro que somente
ele seria capaz de julgá-lo com a devida justiça e correção, conquanto o
tribunal para o qual seria transferida a jurisdição para julgá-lo - à vista da
ilação que se pode fazer ante a manobra da sua nomeação -, poderia ser
benevolente para com ele, com possibilidade até de ele poder ser inocentado, em
razão de seu prestígio político, pelo tanto de atos irregulares cuja autoria
vem sendo atribuída ao petista.
A
nomeação do ex-presidente para o ministério da petista somente contribui para
incrementar ainda mais o que já está muito nebuloso nos céus de Brasília, que
não consegue se afastar dos casos maus resolvidos, à vista do surgimento de
novos casos, sempre recheados com ingredientes que não se compatibilizam com os
saudáveis princípios republicano e democrático, como deixa transparecer esse
arranjo para a satisfação da conveniência dos dois principais caciques do PT,
cuja agremiação não se cansa de protagonizar situações esdrúxulas e pouco usuais,
em que um ex-presidente da República se torna ministro com a exclusiva
finalidade de salvar o questionável projeto político da perenidade no poder,
conforme mostram os fatos analisados por renomados especialistas, que estranham
a inconveniência política, ante o agravamento das crises que assolam, de forma
dramática, as estruturas das instituições nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de março de 2016
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