quinta-feira, 13 de outubro de 2016

À beira da dizimação

À toda evidência, a periferia das metrópoles e os grotões do resto do país, ainda encantados com os anos dourados disseminados por força da inclusão social e crédito fácil, tinham ignorado plenamente a incompetência administrativa e a corrupção institucionalizada no país e, envoltos nesse estado de completa letargia, hipotecavam total apoio ao partido para que a nação pudesse continuar na bandalheira e na esculhambação em que se encontra, em especial, com a desorganização das contas públicas, a recessão econômica, o desemprego e outras crises que dificultam a retomada do desenvolvimento.
Em harmonia com essa mesma linha de raciocínio, as classes da pobreza não tinham qualquer motivo para não entender que o impeachment da então presidente não teria sido objeto senão de golpe contra a democracia e afronta aos seus pensamentos eleitorais, conforme assim diziam os seguidores do petismo.
De repente, o PT se depara com outra realidade, absolutamente contrária aos projetos que eram sustentados pela fidelidade das referidas camadas da pobreza, transformando a firmeza desse apoio em incertezas concretas de desprezo às ideologias de conveniência do petismo, no embalo da avassaladora derrota nas urnas, deixando muito claro que os brasileiros, incluídas as classes menos favorecidas economicamente, i.e., as chamadas periferias, reprovaram os métodos empregados, de forma inescrupulosa, pelo PT, inclusive o varrendo do mapa político do Brasil e ainda sepultou, de vez, a ridícula tese disseminada de que houve golpe no impeachment da petista.
Trata-se de estrondosa derrota sofrida pelo PT, na sua história, constituindo o maior revés eleitoral do partido, porque os resultados das urnas falam por si sós e mostram números eloquentes de repúdio aos candidatos petistas as prefeituras, sendo que somente 256 foram eleitos no primeiro turno, fato que representa 60% menos do que há quatro anos e vertiginosa queda de terceiro para o décimo lugar no ranking geral dos prefeitos eleitos.
O PT contabiliza expressiva perda de mais de 23 milhões de votos para prefeito, ou seja, em 2012, a legenda contou 27,6 milhões votos e, este ano, somente 4,4 milhões de eleitores votaram na legenda, fato que não deixa dúvida da maciça debandada dos insatisfeitos com as políticas de conveniência praticada pelo partido, que apesar do revés político ainda se acha o mais imaculado da face da terra.
Enquanto o partido amarga acachapante derrota, o ex-presidente da República petista continua contabilizando más notícias, como a última referente à denúncia que o Ministério Público Federal faz à Justiça contra ele, um sobrinho dele e outras oito pessoas, sob suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e tráfico de influência, com relação a contrato de financiamento do BNDES para a Odebrecht tocar obras em Angola, na África.
A denúncia afirma que o petista teria influenciado na liberação dos recursos pertinentes e, em compensação, a citada empreiteira teria contratado a empresa Exergia, de propriedade de um sobrinho dele, que não teria prestação qualquer serviço, por ter sido uma montagem grosseira de negócios.
Fica muito claro que o resultado da última eleição municipal é termômetro que indica que a população não reconhece mais no PT o partido mais adequado para representar a sociedade, uma vez que seus líderes políticos são incapazes de transmitir confiança ao povo, em razão da falta de renovação do seu quadro político, a indicar dificuldades para o destino do partido, porquanto seus principais caciques ou estão sendo investigados ou foram presos, pela prática dos deprimentes crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros contra a dignidade político-partidária, tudo a expor o real esfacelamento da PT e da nata de seus caciques.
          Com total desprovimento de argumento concreto, o PT trata as denúncias de corrupção por meio da verborragia da “perseguição política” e do “golpe”, como tentativa desesperada para proteger os petistas ainda não condenados ou presos.
O partido, que defendia a “ética na política”, tornou-se o símbolo da corrupção e da incompetência e, por isso, foi praticamente dizimado pelas urnas no último pleito municipal, como demonstração da rejeição quase generalizada das pessoas que se conscientizaram que o país precisa ser passado a limpo e o afastamento dele da vida pública é importante passo para possibilizar a indispensável moralização na política e na administração pública.
Embora completamente atolado no lamaçal da corrupção, somente o PT não entendia que suas práticas criminosas poderiam continuar impunes, até mesmo pelos brasileiros, que, enfim, criou vergonha na cara e teve a dignidade de dizer, em alto e bom som, que tudo tem limite e a gota d'água foi representada exatamente pela arrogância, prepotência, demagogia, hipocrisia e tentativa de se cometer as piores irregularidades, muitas das quais já apontadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, mas ainda haver a insistência de ironizar, ridicularizar e zombar do trabalho sério, competente e eficiente desempenhado pelas citadas instituições, que estão mostrando robustas provas sobre atos irregulares no governo afastado, mas mesmo assim as lideranças petistas garantem que tudo aconteceu em conformidade com a lei e que não tem absolutamente nada de ilícito.
Não obstante, o povo acreditou piamente no resultado das investigações e aproveitou a presença das urnas para mandar o duríssimo recado que o PT jamais gostaria de ter ouvido, qual seja, a sua atuação recheada de incompetência, ineficiência e desmoralização contraria os sentimentos de honradez e dignidade dos brasileiros, que anseiam por urgente moralização na administração do país.
Agora não tem mais espaço para as ridículas alegações de golpe contra a ex-presidente petista, que foi afastada por causa do crime de responsabilidade, materializado na má gestão dos recursos públicos, à vista dos imensuráveis rombos nas contas públicas, a par da mediocridade do gerenciamento administrativo do país, traduzido, em especial, pela recessão econômica e pelo recorde no desemprego.
Não resta dúvida de que o resultado das urnas revelou, da forma estritamente democrática, a robusta rejeição dos brasileiros ao método nada compatível com os interesses públicos e os princípios republicanos, que tinha como essencialidade a perpetuação no poder e dele se beneficiar – como muito bem demonstram as investigações da Operação Lava-Jato -, mas, agora, depois do impeachment da petista e dos cristalinos e lúcidos resultados das urnas, com repúdio à maneira retrógrada de gestão pública e de moralidade, o país pode vislumbrar verdadeira oportunidade para revigorar as estruturas do Estado e a concepção moderna de governança, como forma possível da consecução da retomada do desenvolvimento socioeconômico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 13 de outubro de 2016

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