segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Basta de privilégios


O Ministério do Desenvolvimento Social determinou que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – órgão subordinado à pasta – instaure imediatamente sindicância para investigar denúncia de que a ex-presidente da República teria usado a influência de servidores de carreira da autarquia para agilizar sua aposentaria pela Previdência Social, sem o devido agendamento.
Além disso, o secretário-executivo da pasta ordenou que os funcionários do INSS envolvidos no caso, entre os quais um ex-ministro petista, sejam afastados de suas funções, enquanto durarem as investigações.
Em nota divulgada, a ex-presidente negou ter recebido qualquer tratamento privilegiado, tendo dito que auditoria do INSS poderá constatar que não houve nenhum tipo de irregularidade em sua aposentadoria.
Acontece que reportagem da revista "Época" revelou que a petista teve auxílio de servidores para obter o benefício social, sem entrar na fila dos aposentados e que documentos mostram que o cadastro dela teria sido alterado 16 vezes dentro da sede do INSS, em um mesmo dia, para a regularização de registros de trabalho pertinente ao tempo de serviço prestado por ela.
A revista ressalta que, no dia 1º de setembro último – menos de 24 horas depois de a ex-presidente ter sido afastada da Presidência da República, por meio de impeachment aprovado pelo Senado Federal – um assessor dela foi atendido, em local especial, diretamente pela servidora comissionada chefe de uma agência do INSS, em Brasília, para a formalização da aposentadoria em questão.
A reportagem menciona que foi contabilizado o tempo de contribuição previdenciária referente a 40 anos, nove meses e dez dias para a ex-presidente, que corresponde à aposentadoria com renda mensal de R$ 5.189,82, que é o teto do regime previdenciário.
A revista também registra que não há sinal de agendamento no sistema do INSS para que a interessada (ou seu representante legal) fosse atendida no dia da concessão da aposentadoria ou em qualquer outra data.
Conforme a reportagem, o tempo médio de espera para que o verdadeiro trabalhador consiga data para requerer aposentadoria em agência da Previdência é de 74 dias, sendo que, no Distrito Federal, onde o pedido da petista foi feito, o prazo médio na fila é de aproximadamente 115 dias.
O Ministério do Desenvolvimento Social decidiu exonerar dos cargos comissionados os servidores do INSS envolvidos no episódio da aposentadoria da ex-presidente, naturalmente por considerar anormal os procedimentos por eles adotados.
A ex-presidente não tem sensibilidade para enxergar nem entender o questionamento acerca do fato em si, quanto à sua concessão de aposentadoria, confirmada em tempo recorde e de forma inusitada, ou seja, em poucas horas, quando, só o agendamento, supera mais os dois meses para o aqueles trabalhadores que verdadeiramente trabalharam, que não conseguem qualquer privilégio, sem levar em consideração a brutal burocracia para a concessão propriamente, caso não haja necessidade de complementação de documentos, que normalmente são exigidos em quase todas as concessões.
Causa espécie que a ex-presidente não tenha sensibilidade suficiente para perceber que nem o jeitinho brasileiro da “Lei do Gerson” seria capaz de arrancar uma aposentadoria em tempo mais que recorde, para os padrões da infernal burocracia que impera na ineficiente, oneroso e ultrapassada máquina pública, que ficou pior ainda na gestão do governo afastado do Palácio do Planalto pelo Congresso Nacional, por incompetência administrativa e constatação do crime de responsabilidade. 
É lamentável que os fatos mostrem não a irregularidade da aposentadoria em si da ex-presidente da República, mas a forma como ela foi concedida, que não seguiu o modelo republicano, normalmente exigido para os trabalhadores sem qualquer privilégio, fato que é digno de reprovação da sociedade,  à vista do ferimento do princípio da igualdade de direitos e obrigações previsto na Constituição, que não prevê qualquer espécie de tratamento diferenciado para ninguém, muito menos para quem se julga superior aos demais brasileiros, que têm direito de repudiar as formas espúrias de privilégios inadmissíveis, em pleno século XXI. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 02 de outubro de 2016

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