domingo, 23 de outubro de 2016

O descaso contra a seca

O drama da seca no Nordeste volta a martirizar os sertanejos, que se desesperam diante da terrível estiagem e do baixo nível dos reservatórios, cuja lamúria se complica com a desorganizada distribuição de água pelas entidades públicas, que alegam falta de recursos financeiros para atender a enorme demanda, de forma satisfatória.
Nos lugarejos, o desespero das pessoas é tão grande que todo mundo só pensa, antes de tudo, no abastecimento da caixa comunitária com água, para onde todos se dirigem logo cedo da manhã, para se certificar se houve o enchimento da referida caixa d’água pelos caminhões que estão sempre atrasados ou de frequência inconstante, em demonstração de irresponsabilidade das autoridades públicas, que certamente não passam pelas mesmas agruras da população, com a falta de água.
Há registro de que as pessoas são obrigadas a improvisar, readaptar os costumes e se virar diante da permanente escassez do precioso líquido, inclusive reprogramando os hábitos normais dos banhos, que passaram para o desconforto do uso da velha cuia, que já havia sido aposentado há bastante tempo.
Outros dizem que a água verde que é normalmente utilizada na região tem caraterística fedida, mas não tem alternativa e é com ela que se cozinha, se dá banho nas pessoas e se prepara a comida, o que demonstra a precariedade com que o ser humano tenta driblar as dificuldades causadas pela falta de água.
Nas cidades e nos lugarejos, são normais as histórias de sofrimento por conta da seca e da falta de água, como brigas e ameaças na disputa por um lugar na fila dos chafarizes públicos e das caixas d'água comunitárias, obrigando a presença constante da polícia para se evitar maiores confusões e desordem pública.  
Sem a suficiência da água fornecida pelas entidades públicas, o comércio de água já se tornou negócio rendoso para alguns aproveitadores da situação, que se beneficiam das dificuldades para vender galões e barris a moradores.
Também já se tornou atividade normal o vaivém de caminhões e até de motocicletas adaptadas para transportar água, fazendo que a paisagem do drama da falta de água se integre à vida dos sertanejos, que estão em contínua preocupação com o abastecimento da água indispensável à vida.
Uma dona de casa disse que, certa vez, sem dinheiro para comprar água potável, foi obrigada a beber a água apanhada no chafariz público, mas "Tive dor de barriga, diarreia. Fui bater no posto de saúde. Lá em casa, todo mundo adoeceu".
Diante da situação caótica propiciada pelas secas sucessivas, cabe aos governos federal,  estaduais e municipais a obrigação de priorizar medidas efetivas e capazes de, ao menos, minorá-la, com a construção de adutoras, barragens submersas e cisternas, além, conforme o caso, de dessalinizadores de água, bem assim de outras formas que possam suprir a carência de água, de modo a demonstrar o indispensável cuidado que deve ser implementado, de forma emergencial e permanente e não apenas nas situações de calamidade pública, quando falta água, que tem se mostrado como providência tão somente paliativa e circunstancial, quando a sofrida população exige e merece solução definitiva de seus cruciais problemas da falta de água. 
Por sua vez, é muito importante que os sertanejos pressionem as autoridades públicas, para que elas possam conhecer de perto o quadro de dificuldades vivenciado no seu dia a dia, em que a eterna falta de água se torna pesadelo, tira o seu sossego e intensifica a preocupação sobre o futuro, que sempre tende a piorar quando nada é feito para se prevenir o agravamento da situação.
À vista do descaso das autoridades, fica bastante fácil de se inferir que a situação de penúria dos nordestinos tem sua importância que ela se evolua e se agrave, contribuindo para que o status quo possa propiciar os benefícios que seriam totalmente ineexistentes se os problemas com a escassez fossem solucionados por meio de medidas que, à toda evidência, são factíveis e precisam apenas da vontade política para a sua implementação.
Não tem coração que aguente, sem sofrer, ver a destruição da vida humana e animal, que vem sendo dizimada graças ao descaso e desprezo das autoridades públicas, que se omitem como se não tivessem nenhuma responsabilidade com a desgraça que consume a dignidade dos nordestinos, que clamam por socorro a vida inteira, mas ele não chega e quando alguma medida aparece, ela serve tão somente de paliativo, que tem tempo de validade para se acabar e deixar tudo como antes, em completo abandono, conforme tem sido a sina e a saga dos sertanejos, na certeza de que a próxima eleição os mesmos desavergonhados políticos aparecem com as caras mais deslavadas e descaradas, pedindo o importante voto daqueles sempre esquecidos.
Urge que os nordestinos se conscientizem de que é preciso ter vergonha na cara para exigir dos homens públicos efetivos compromissos para a priorização de políticas públicas objetivando estudos e implementações de medidas capazes de solucionar, em definitivo, as agruras impingidas pelas secas, de modo que o abastecimento de água seja garantido de forma perene, independentemente das crises climáticas, que são inevitáveis, mas, à toda evidência, o ser humano não merece tamanho sofrimento causado pela falta de caráter dos políticos que se omitem diante de situação dramática, com o fito de se beneficiar eternamente do sistema vigente de descaso e de vergonha. Acorda, Brasil!
          ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 23 de outubro de 2016

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