O
drama da seca no Nordeste volta a martirizar os sertanejos, que se desesperam
diante da terrível estiagem e do baixo nível dos reservatórios, cuja lamúria se
complica com a desorganizada distribuição de água pelas entidades públicas, que
alegam falta de recursos financeiros para atender a enorme demanda, de forma satisfatória.
Nos
lugarejos, o desespero das pessoas é tão grande que todo mundo só pensa, antes
de tudo, no abastecimento da caixa comunitária com água, para onde todos se
dirigem logo cedo da manhã, para se certificar se houve o enchimento da
referida caixa d’água pelos caminhões que estão sempre atrasados ou de
frequência inconstante, em demonstração de irresponsabilidade das autoridades
públicas, que certamente não passam pelas mesmas agruras da população, com a
falta de água.
Há
registro de que as pessoas são obrigadas a improvisar, readaptar os costumes e
se virar diante da permanente escassez do precioso líquido, inclusive
reprogramando os hábitos normais dos banhos, que passaram para o desconforto do
uso da velha cuia, que já havia sido aposentado há bastante tempo.
Outros
dizem que a água verde que é normalmente utilizada na região tem caraterística fedida,
mas não tem alternativa e é com ela que se cozinha, se dá banho nas pessoas e se
prepara a comida, o que demonstra a precariedade com que o ser humano tenta
driblar as dificuldades causadas pela falta de água.
Nas
cidades e nos lugarejos, são normais as histórias de sofrimento por conta da
seca e da falta de água, como brigas e ameaças na disputa por um lugar na fila
dos chafarizes públicos e das caixas d'água comunitárias, obrigando a presença
constante da polícia para se evitar maiores confusões e desordem pública.
Sem
a suficiência da água fornecida pelas entidades públicas, o comércio de água já
se tornou negócio rendoso para alguns aproveitadores da situação, que se beneficiam
das dificuldades para vender galões e barris a moradores.
Também
já se tornou atividade normal o vaivém de caminhões e até de motocicletas
adaptadas para transportar água, fazendo que a paisagem do drama da falta de
água se integre à vida dos sertanejos, que estão em contínua preocupação com o
abastecimento da água indispensável à vida.
Uma
dona de casa disse que, certa vez, sem dinheiro para comprar água potável, foi
obrigada a beber a água apanhada no chafariz público, mas "Tive dor de barriga, diarreia. Fui bater no
posto de saúde. Lá em casa, todo mundo adoeceu".
Diante
da situação caótica propiciada pelas secas sucessivas, cabe aos governos
federal, estaduais e municipais a
obrigação de priorizar medidas efetivas e capazes de, ao menos, minorá-la, com
a construção de adutoras, barragens submersas e cisternas, além, conforme o
caso, de dessalinizadores de água, bem assim de outras formas que possam suprir
a carência de água, de modo a demonstrar o indispensável cuidado que deve ser
implementado, de forma emergencial e permanente e não apenas nas situações de
calamidade pública, quando falta água, que tem se mostrado como providência tão
somente paliativa e circunstancial, quando a sofrida população exige e merece
solução definitiva de seus cruciais problemas da falta de água.
Por
sua vez, é muito importante que os sertanejos pressionem as autoridades
públicas, para que elas possam conhecer de perto o quadro de dificuldades
vivenciado no seu dia a dia, em que a eterna falta de água se torna pesadelo, tira
o seu sossego e intensifica a preocupação sobre o futuro, que sempre tende a
piorar quando nada é feito para se prevenir o agravamento da situação.
À
vista do descaso das autoridades, fica bastante fácil de se inferir que a
situação de penúria dos nordestinos tem sua importância que ela se evolua e se
agrave, contribuindo para que o status
quo possa propiciar os benefícios que seriam totalmente ineexistentes se os
problemas com a escassez fossem solucionados por meio de medidas que, à toda
evidência, são factíveis e precisam apenas da vontade política para a sua
implementação.
Não
tem coração que aguente, sem sofrer, ver a destruição da vida humana e animal,
que vem sendo dizimada graças ao descaso e desprezo das autoridades públicas,
que se omitem como se não tivessem nenhuma responsabilidade com a desgraça que
consume a dignidade dos nordestinos, que clamam por socorro a vida inteira, mas
ele não chega e quando alguma medida aparece, ela serve tão somente de paliativo,
que tem tempo de validade para se acabar e deixar tudo como antes, em completo
abandono, conforme tem sido a sina e a saga dos sertanejos, na certeza de que a
próxima eleição os mesmos desavergonhados políticos aparecem com as caras mais
deslavadas e descaradas, pedindo o importante voto daqueles sempre esquecidos.
Urge
que os nordestinos se conscientizem de que é preciso ter vergonha na cara para
exigir dos homens públicos efetivos compromissos para a priorização de
políticas públicas objetivando estudos e implementações de medidas
capazes de solucionar, em definitivo, as agruras impingidas pelas secas, de
modo que o abastecimento de água seja garantido de forma perene,
independentemente das crises climáticas, que são inevitáveis, mas, à toda
evidência, o ser humano não merece tamanho sofrimento causado pela falta de
caráter dos políticos que se omitem diante de situação dramática, com o fito de
se beneficiar eternamente do sistema vigente de descaso e de vergonha. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília,
em 23 de outubro de 2016
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