sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Não há fatos?

O ex-presidente da República petista, em mensagem dirigida a militantes do PT, pediu que “Me respeite para que eu possa respeitar vocês”. Ele aproveitou o ensejo para fazer desabafo sobre o que chama de perseguição da imprensa com sua vida pessoal, que teria sido vasculhada há décadas e que nenhum crime foi encontrado e provado.
O petista disse que “A minha vida foi investigada na campanha de 82, na campanha de 86, na campanha de 90, na campanha de 94, na campanha de 98, na campanha de 2002, na campanha de 2006, na campanha de 2010, com Dilma, e na campanha de 2014. Continuem investigando. No dia em que acharem, por favor, denunciem. Se não acharem, parem. E comecem a fazer coisa séria nesse país (sic)”.
O político insinua, em tom de ironia sobre a honestidade alheia, que seus acusadores o denunciam por crimes que eles mesmos cometeriam, caso pudessem: “Possivelmente, se eles estivessem no meu lugar, eles fariam o que pensam que eu fiz”.
A sua fértil imaginação foi capaz de criar a seguinte pérola: “o Brasil não suporta mentira por muito tempo. E isso tá prejudicando o país, tá prejudicando a imagem do Brasil lá fora e tá prejudicando a credibilidade do país, que tinha muita credibilidade (sic).”, dando a entender que as investigações não passam de armações e farsas destinadas a prejudicar seus projetos políticos, ante a sua supremacia sobre tudo e sobre todos.
Por fim, o petista exige ser respeitado, nestes termos: “Eu tive o prazer de presidir esse país, quando o país passou a ser um país com perspectiva de ser a 5º economia do mundo, de ser admirado e respeitado, dos EUA à China. Porque eu queria ser respeitado e respeitava todo mundo. Por isso, me respeite! Me respeite para que eu possa respeitar vocês (sic)”.
Em ocasião anterior, o ex-presidente já havia se manifestado em sua defesa, tendo afirmado que “Estão à procura de um crime, para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar”.
Sem perder a pose, ele se coloca como vítima de “verdadeira caçada judicial” e tenta, sem apresentar provas, defende-se das denúncias de práticas de corrupção.
Ele afirma que “Sei o que fiz antes, durante e depois de ter sido presidente. Nunca fiz nada ilegal, nada que pudesse manchar a minha história. Não posso me calar, porém, diante dos abusos cometidos por agentes do Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política”.
Mantendo-se fiel à sua cáustica disposição de atacar a imprensa e a oposição, o petista disse que “Desde a campanha eleitoral de 2014, trabalha-se a narrativa de ser o PT não mais partido, mas uma ‘organização criminosa’, e eu o chefe dessa organização. Essa ideia foi martelada sem descanso por manchetes, capas de revista, rádio e televisão. Precisa ser provada à força, já que ‘não há fatos, mas convicções'”.
No momento, há avaliações no sentido de que, com a prisão do principal líder do impeachment, o juiz de Curitiba se robustece com a força necessária para também prender aquele que conta com absoluta expectativa dos brasileiros para conhecer, o quanto antes, as dependências da “República de Curitiba”, por ser a pessoa considerada pelos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato o “pai” da “organização criminosa” do petrolão.
Causa enorme estranheza que, diante das denúncias, embora cercadas de celeumas, quanto à verdadeira autoria sobre os fatos de que se tratam, sendo dirigidas ao ex-presidente, inclusive que ele teria se beneficiado e também é o comandante-em-chefe da podridão havida na Petrobras, segundo os procuradores do Ministério Público, os ataques e as defesas do petista não são capazes de demonstrar a sua inculpabilidade com relação às irregularidades cuja autoria lhe é atribuída, notadamente porque eles são apresentados desacompanhados de provas de contestação aos elementos juntados aos autos, que são objeto de investigações realizadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
O ex-presidente parece demonstrar total insensibilidade sobre a realidade dos fatos, ao afirmar que “... continuem investigando. No dia em que acharem, por favor, denunciem. Se não acharem, parem...”, tendo em vista que as denúncias feitas pelo Ministério Público à Justiça já constituem provas materiais suficientes para calar a arrogância de qualquer pessoa sensata, que enxergaria facilmente que, agora, convém procurar contestar os achados constantes dos autos e não mais tentar ganhar no grito as causas que precisam ser demolidas com provas juridicamente válidas.
Na verdade, o petista já é réu em três processos em tramitação na Justiça, o que significa se afirmar que os fatos investigados foram confirmados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público e denunciados à instância própria do poder Judiciário, que os aceitou como conclusões válidas e pertinentes.
Outras questões ainda estão sendo investigadas contra o ex-presidente e certamente deverão se transformar em objeto de novas denúncias à Justiça e o petista poderá ser declarado réu de novo, exatamente em razão da materialização das suspeitas de crimes cometidos por ele.
É preciso ficar muito claro que nenhum juiz do mundo, principalmente do Brasil, seria insensato, desqualificado e irresponsável em transformar alguém em réu se não houvesse nos autos robustas provas sobre os fatos denunciados, sob pena de responder pelo crime de prevaricação, por ter falhado, faltado com a verdade, agido por interesse ou má fé no desempenho de seu cargo ou torcer a justiça, que poderia implicar a perda do cargo.
Ao que tudo indica, o ex-presidente deve estar passando por situação bastante difícil e delicada, para não entender a realidade dos fatos e ainda querer ignorar, à vista de suas insinuações sobre nada ter sido achado contra ele, que a situação de trirréu é simplesmente o resultado incontestável dos levantamentos sobre casos reais que ele insiste em desprezar e censurar com a maior veemência de suas forças, ao afirmar, de forma reiterada, que quando encontrar algo contra ele que o denuncie, quando ele já é réu, exatamente por ter sido denunciado, com base em achados que comprovam a sua participação em atos inquinados de irregulares.
Convém que o ex-presidente se conscientize que convém que ele pare de tentar imaginar que os brasileiros são desmiolados e incapazes de compreender que o país, com as potencialidades econômicas e sociais do Brasil, não teria chegado à bancarrota e ao fundo do poço se não tivesse alguém com a mentalidade altamente perversa e destruidora, capaz de arquitetar maquiavélicas estratégias para suportar os megalomaníacos projetos de absoluta dominação das classes político-sociais e a perenidade no poder, em cristalino detrimento dos interesses do país e dos brasileiros, cujos danos precisam ser reparados, com o máximo de urgência, além da premência da renovação da classe política com pensamento deletéria das causas nacionais. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 28 de outubro de 2016

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