quarta-feira, 19 de outubro de 2016

À procura de um crime?

Em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, o ex-presidente da República petista, que, nos últimos dias, tornou-se réu em três processos, por suspeita da prática de corrupção, utiliza as táticas de politização da Operação Lava-Jato e do resto das investigações levadas a efeito contra a pessoa dele, sem se dispor, como bastante ansiada, a explicar os fatos pertinentes às denúncias que o levaram às barras da Justiça.
Em consonância com a sua velha linha de procedimento, o político fez duros ataques aos normais inimigos de todo tempo, como a Justiça, a imprensa livre e a denominada “elite” que, segundo ele, posiciona-se em dissonância com os benefícios oriundos dos programas sociais dos governos petistas, que alegam a iniciativa da retirada dos pobres da faixa da miséria.
O petista apresenta a surrada retórica de que é vítima de “caçada” que teria resultado em nada contra ele, tendo aproveitado para atacar a “ignorância” dos agentes da lei e dizer que “Às vésperas de completar 71 anos, vejo meu nome no centro de uma verdadeira caçada judicial. Devassaram minhas contas pessoais, as de minha esposa e de meus filhos; grampearam meus telefonemas e divulgaram o conteúdo; invadiram minha casa e conduziram-me à força para depor, sem motivo razoável e sem base legal. Estão à procura de um crime, para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar”.
Trata-se, na verdade, de mais um discurso em que ele se faz de vítima, com vistas a possivelmente angariar a simpatia e o apoio de alguns incautos e desinformados sobre a realidade dos fatos, que ganharam notoriedade justamente pela consistência e robusteza dos levantamentos promovidos pela Polícia Federal, que já deu provas suficientes da sua competência, merecendo a aprovação do Ministério Público Federal e da Justiça Federal, que estão, de forma reiterada, placitando os resultados das investigações, ante a sua firmeza e segurança sobre os achados.
A afirmação do ex-presidente de que é vítima de "caçada" e nada foi possível se comprovar contra ele funciona muito mais como brutal incoerência, uma vez que ele já é réu em ações na Justiça, resultado exatamente das investigações sobre fatos denunciados, cuja autoria é atribuída ao petista, como tendo participado diretamente para a materialização deles, ou seja, caso a aludida caçada não resultasse em nada, jamais existiriam as ações que o tornaram réu, dando a entender que o petista apenas zomba e ironiza sobre a realidade dos fatos, dando a entender que ele é absolutamente imune às suspeitas e denúncias, estando acima de tudo e das leis.
A verdade é que a tentativa de ignorar os fatos já investigados somente conspira contra o próprio político, que, na qualidade de ex-mandatário do país, teria capacidade suficiente para saber que nenhum juiz do mundo demonstraria despreparo, imaturidade e, sobretudo, irresponsabilidade para aceitar denúncia vazia contra alguém e muito menos, repita-se, um ex-presidente da República.
Nos casos contra o petista, há notícia da presença nos autos dos elementos indispensáveis ao preenchimento dos requisitos exigidos para a espécie, em especial as provas juridicamente válidas e aceitáveis pela Justiça, tanto que foram admitidas as denúncias constantes dos processos que o envolvem, porquanto os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato mostraram a riqueza das provas e dos detalhes como elas foram levantadas, em exaustivas investigações sobre os fatos denunciados.
Não se trata de acreditar ou de desacreditar nas alegações do ex-presidente, mas convém que ele procure, sem perda de tempo, contrapor, com documentos e provas juridicamente válidas, cada denúncia do Ministério Público, como instrumento capaz de arguição de defesa incontestável, ao invés de ficar atacando com meras palavras o trabalho profícuo da Operação Lava-Jato, que tem sido acatado e validado, com méritos, pelas instâncias superiores da Justiça, a exemplo da Excelsa Corte de Justiça do país, em demonstração da credibilidade do trabalho produtivo daquela operação.
Não há a menor dúvida de que, enquanto o ex-presidente não mostrar as provas em contrário sobre os fatos denunciados, os brasileiros continuarão a depositar sua confiança em quem teve a desmedida competência para apurá-los e revelar os podres que causaram enormes prejuízos não somente ao patrimônio da nação, mas também à dignidade deles, que primam pela honorabilidade e pelo zelo no trato da coisa pública e certamente anseiam mais ainda por que o seu ex-presidente seja decisivo em contestar com documentos e atos probantes as denúncias da prática de corrupção, conquanto os ataques inconsistentes e vazios de conteúdo somente contribuem para confundir a opinião pública, que, há muito tempo, perdeu a confiança e a credibilidade na classe política, exatamente diante da incongruência entre seus atos e a realidade dos fatos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 19 de outubro de 2016

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